O grande Milagre

Na história cristã, Deus desce para subir novamente. Ele desce das alturas de sua posição de ser absoluto no tempo e no espaço até a humanidade. Desce mais ainda, caso os estudiosos de embriologia tenham razão, a fim de recapitular no ventre fases antigas e pré-humanas de vida. Desce às próprias raízes da Natureza por Ele criada. Desce, todavia, a fim de subir de novo e erguer  com Ele o mundo arruinado. Isso nos faz pensar na imagem de um homem forte, curvando-se cada vez mais a fim de se colocar debaixo de um fardo enorme e pesado. Ele precisa abaixar-se para poder se levantar e quase desaparecer debaixo do fardo antes de endireitar as costas e seguir adiante com a imensa massa a envergar-lhe os ombros. Pode-se também pensar num mergulhador, primeiro se despindo, depois olhando para o ar e por fim deixando a água verde e cálida e precipitando-se na água negra e fria, cada vez mais para o fundo, sob uma pressão sempre crescente, até chegar à região mórbida de lodo, limo e decadência. A seguir ele sobe, volta à cor e à luz, com os pulmões quase explodindo, até que surge à superfície, tendo nas mãos o objeto precioso, completamente molhado, que foi buscar lá em baixo. Tanto ele quanto o objeto agora possuem colorido, uma vez que voltaram à luz; lá em baixo, contudo, onde jaz a escuridão, ele também havia perdido sua cor.

C.S. Lewis - Milagres. 
(Cap. 14.)

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