Lendas dos Judeus #18 (Adão e Eva no Paraíso)


ADÃO: Adão e Eva no Paraíso
O Jardim do Éden foi a primeira habitação do primeiro homem e da primeira mulher, e as almas de todos homens passam por ele depois da morte, antes de chegarem ao seu destino final. Isso porque as almas dos finados precisam passar por sete portais antes de chegarem ao ‘Arabot celestial. Ali as almas dos piedosos são transformadas em anjos, e ali permanecem para sempre, louvando a Deus e banqueteando-se com a visão da glória da Shekiná. O primeiro portal é a caverna de Macpelá, nas vizinhanças do Paraíso, que está sob o cuidado e supervisão de Adão. Se a alma que se apresenta diante do portal é digna, ele grita: “Abram espaço! Seja bem-vindo!” A alma prossegue então até chegar ao portão do Paraíso, guardado pelo querubim e pela espada flamejante. Se não é achada digna, a alma é consumida pela espada; do contrário recebe um passe de admissão no Paraíso terrestre. Ali há um pilar de fumaça e de luz que se estende do Paraíso ao portão do céu; se alma conseguirá escalá-lo e alcançar o céu através dele dependerá do seu caráter. O terceiro portal, Zebul, fica na entrada do céu. Se a alma é digna, o guarda abre o portão e admite-a no Templo celestial. Miguel apresenta-a a Deus e a conduz então ao sétimo portal, ‘Arabot, além do qual as almas dos piedosos, transformadas em anjos, louvam ao Senhor e alimentam-se da glória da Shekiná.
APENAS QUEM CONSEGUE ABRIR CAMINHO ATRAVÉS DA ÁRVORE DO CONHECIMENTO PODE APROXIMAR-SE DA ÁRVORE DA VIDA.
No Paraíso erguem-se a árvore da vida e a árvore do conhecimento, sendo que essa segunda forma uma sebe ao redor da primeira. Apenas quem consegue abrir caminho através da árvore do conhecimento pode aproximar-se da árvore da vida, que é tão imensa que seriam necessários a um homem quinhentos anos para atravessar uma distância igual ao diâmetro do seu tronco, sendo que não é menos vasto o espaço sombreado por sua coroa de ramos. De debaixo dela flui a água que irriga toda a terra, abrindo-se em quatro correntes, o Ganges, o Nilo, o Tigre e o Eufrates. Porém foi apenas durante os dias da criação que o reino vegetal recorreu às águas da terra para o seu sustento. Mais tarde Deus fez com que as plantas dependessem da chuva, isto é, das águas superiores. As nuvens sobem da terra ao céu, de onde a água é derramada nelas para que sirvam de conduto. As plantas começaram a sentir o efeito da água apenas quando Adão foi criado. Embora tenham vindo à existência no terceiro dia, Deus não permitiu que elas brotassem e aparecessem acima da superfícia da terra até que Adão orou pedindo-lhe comida, pois Deus anseia pelas orações dos piedosos.
O Paraíso sendo o que era, Adão não tinha, naturalmente, que trabalhar na terra. É verdade que Deus colocou o homem no Jardim do Éden para tratar dele e mantê-lo, mas isso significava apenas que ele deveria estudar ali a Torá e guardar os mandamentos de Deus. Havia seis mandamentos em especial que todo ser humano deveria obedecer: não adorar ídolos, não blasfemar contra Deus, não cometer assassinato nem incesto, nem assalto nem roubo – sendo que todas as gerações têm o dever de instituir medidas de lei e ordem. Havia um mandamento adicional, mas era uma proibição temporária: Adão deveria comer apenas as ervas verdes do campo. A proibição contra o uso de animais para alimento só foi revogada na época de Noé, depois do dilúvio. Adão, no entanto, não foi privado de consumir de pratos de carne. Embora não lhe fosse permitido matar animais para satisfazer o seu apetite, os anjos traziam-lhe carne e vinho, servindo-o como criados. E da mesma forma que ministravam-lheos anjos de acordo com suas necessidades, faziam os animais. Esses encontravam-se inteiramente debaixo do seu domínio, e recebiam sua comida das mãos de Adão e de Eva. Em todos os sentidos o mundo animal tinha uma relação diferente com Adão da sua relação com os descendentes dele. Os animais não apenas conheciam a língua do homem, mas respeitavam a imagem de Deus, pelo que temiam o primeiro casal – porém tudo tornou-se o oposto disso depois da queda do homem.



Lendas dos Judeus é uma compilação de lendas judaicas recolhidas das fontes originais do midrash(particularmente o Talmude) pelo talmudista lituano Louis Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado em 6 volumes (sendo dois volumes de notas) entre 1909 e 1928.
Tradução: Paulo Brabo

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