Se comeu, vomite!

Mazzeo, Marcos Palmeira e Emilio Orciollo Netto fazem os três amigos botequeiros saídos da peça homônima de Marcelo Rubens Paiva. Eles se reúnem num bar no Rio de Janeiro para cantar vantagem, zoar uns aos outros e reclamar das mulheres; Mazzeo faz um arquiteto abandonado pela esposa (Tainá Müller), Palmeira é um jornalista que suspeita de uma traição da mulher (Dira Paes) e Orciollo é o playboy solteiro, aspirante a escritor, que sente falta de uma relação "de verdade".

A publicidade dizia: "E aí, Comeu? é a 'primeira comédia verdadeira sobre o amor'"

Bem, ainda estou tentando achar a comédia e o amor. E a verdade! Talvez os marketeiros estavam se referindo a "comédia" de caçoar do sexo como algo supérfluo, ou da mulher como um material de consumo, ou do amor baseado num esteticismo pseudo-perfeccionista influenciado até a tampa por uma mídia que enche a cabeça das pessoas de que mulher pra se pegar é mulher gostosa e bonitona, ou aquela toda sensual que se joga no meio das pernas dos homens para conseguir um macho! Uso a expressão "macho" porque remete ao sentido de animal, de irracional, (por mais que não seja no original, mas remete). Animal porque é assim que o filme retrata as pessoas. Como meros animais irracionais que se jogam nos braços dos seus instintos e depois contam vantagem sobre o que aconteceu. E aí eu me pergunto: "Foi exagero?". Nós sabemos a resposta! Durante a sessão essa pergunta é respondida sempre que a sala cai na gargalhada aprovando uma piada chula, machista, imoral e burra.

"E aí, Comeu?" parte da premissa de que Mazzeo, Palmeira e Orciollo aprendem a ser mais gentis depois de sofrerem um baque emocional, mas a solução que o filme encontra pra eles não é um elogio da complexidade feminina, e sim um reforço de estereótipos de mulher-objeto. Um fica com a "girl next door" virginal e descomplicada (ela é a alma gêmea do personagem de Mazzeo porque não vai lhe causar dores de cabeça como a alma gêmea anterior), outro se acha na mulher "brother" (a personagem de Dira Paes fuma, bebe e sabe jogar pôquer como um homem) e o terceiro realiza o velho sonho de tirar a prostituta da zona - uma demonstração não de afeto, mas de vitória. (Marcelo Hessel)

Já vi muitos comentários reprovando o filme, mas aí eu me pergunto: "Estão reclamando de que? Do fato de os produtores darem o que vocês consomem?" Enquanto escrevo isso, tem uma galera alí na sala assistindo a "As empreguetes". Daqui a pouco começa o JN (nada tendencioso, não é?), depois segue as outras novelas, todas sobre o que mesmo? Consumismo, esteticismo, pilhérias, irrelevâncias, manipulações, e dessa forma a lata de lixo vai enchendo! Tudo não vale mais que R$ 1,99.

Brasileiro adora reclamar dos filmes nacionais. "É muita putaria, palavrão, é chato, é isso, é aquilo". Tá, cara, mas o que você consome durante o dia inteiro naquele tubo infecto? (Como diz o Marcelo Taz). As programações aceitas pela massa são as formas para produzir todo o resto. Se você aceita merda na sua TV, eles vão continuar jogando porque é isso que você consome. Brasileiro é muito escroto mesmo. Faz o pedido só com porcaria e quando vem o prato... e aí, comeu? 

Comi e não gostei. Vim vomitar aqui! Vim regurgitar minha indignação com uma mídia que, para ganhar o público, apela pra todo tipo de material sem peso intelectual. E aí uma população cheia de más influencias, com muita porcaria na cabeça e sem nenhum senso crítico vai assistir e se deixar levar pela onda. Em que isso vai dar? Não vai demorar pra ver o resultado. Senta só numa mesa de bar e tenta escutar as conversas. Quem já viu o filme vai querer ser aqueles caras da tela. Quem não falava o que eles falam, vai falar, eu aposto! Por que? Porque a massa doente escolhe isso para ser espelho dela. O filme começa com o Marcos Palmeira encarando o público, olhando direto para a câmera jogando como prefere as coisas, como são as mulheres, como é a melhor forma de trepar, etc. Olhando direto pra nós como se dissesse: "Olha pra mim e escuta o que eu tenho a dizer. E obedeça. Concorde!"

Me revirei na cadeira quando a câmera começa a passear pelo bar e só encontramos mulheres esteticamente "bonitas" de acordo com os padrões da mídia. Chegamos na mesa do trio e o que temos? "Homem só fala putaria quando tá junto. Não tem conteúdo inteligente pra falar, e aí vai falar das mulheres que conseguiram pegar. Não têm escrúpulos, só se importam com sexo e a posição mais confortável na hora da transa. E ainda tem um espaço para ensinar como as mulheres devem fazer um boquete. Como devem proceder para AGRADAR AOS MACHOS." É isso que eles jogam na tela. É essa ideia que eles querem passar! E a galera cai na risada! 

"E aí, Comeu?" não se dispõe a reconhecer que ser homem é aceitar os mistérios das mulheres, está sim atrás de reafirmar o macho como senhor das fantasias e de botar, nestes tempos incertos, o homem de volta no seu "lugar de direito." (Marcelo Hessel)

Você vê um casal em crise, e o que acontece? Papo nenhum resolve os problemas. Mas quer saber? Basta o marido ganhar um iphone e o amor volta. E lá vamos nós com a velha ideia de que amor é provado quando alguém te COMPRA com presentes, mimos, etc. Amor é o que eu compro para o outro, né? É o objeto que o faz esquecer os problemas e se voltar pra mim. Ótimo! O amor, para o filme, é o desejo que o homem tem pela mulher. Cara, isso todo animal sente. Desejo é natural, não é amor. Amor é sobrenatural. E não falo no sentido divino, falo no sentido de fugir da naturalidade mesmo. De esquecer a ordem, a seleção natural, etc. O amor ignora nossa natureza mas nos deixa conscientes disso. O que o desejo faz? Nos consome e leva a fazer loucuras. Porque estamos em seu poder. E você pode dizer: "Tá, num é a mesma coisa, não?" Claro, pra você pode ser. Afinal, você está no caminho que eles te colocaram. Você pensa sobre o amor assim como eles ensinaram. Amor é, no mais simples sentido, o que eu faço pelo outro, não o que sinto. Amor não me toma o controle, ele me dá o controle de fazer algo que eu não faria sem ele. O instinto, não. Ele me força a fazer o melhor pra mim. Qualquer coisa que me preserve. O instinto é natural. O amor, não! Por instinto você mata, foge, culpa, julga, mente. Por amor você toma o lugar de quem você mataria, culparia, mentiria. E isso não é natural. É contra a lei da sobrevivência. Mas isso eles não ensinam na telinha. 

E para encerrar, o que falta? Uma ninfeta sensual, virgem e dando maior mole para o carinha que está carente porque se divorciou. Ai que pena! E Como isso tem de terminar? "Hora, vamos jogar a cena da garota perdendo a virgindade com o carinha lá. Aproveita detalhes dos corpos se tocando pra produzir um efeito louco nos moleques assistindo. Ah, não esquece de focar na boca carnuda da garota se mordendo de prazer, pelo outro. Deixa a galera que está assistindo a ponto de bala que quando saírem daqui, a bicharada tá solta. Jogada nos braços de seus desejos e instintos - (naturais) - mas que com nada na cabeça para conduzí-los, magoa o outro, forma machistas, utiliza a mulher como objeto de desejo, e continua poluindo a sociedade." 

Se você comeu (engoliu) essa porcaria, vomite!

Proponho uma movimentação da nossa parte contra essa situação: Se não comermos a comida que eles colocam no prato, eles vão ter de mudar o cardápio. (Simples assim)! Desliga essa TV e vai ler um livro. Ignora essa novela e vai trocar uma ideia com os amigos. Banaliza essa Zorra e vai sair com a galera. Coloque o que realmente é valioso nessa vida no lugar dessa porcaria que eles nos oferecem! 

O que a telinha brasileira diz sobre o amor? "TUDO GIRA EM TORNO DO SEXO. Se não transar, não é amor. Se não transar, é fraco. Se não transar, não tem o que falar.

Ao invés de perguntarem: "E aí, como ela é?
Perguntam: "E aí, comeu?"

Olha no olho da pessoa que está no espelho e pergunta se isso tá certo! Pergunta se ela vai ficar comendo isso!


Abraço,
Eliab Alves Pereira 

Qual é o seu deus?

Um deus para os nossos dias começa a se delinear entre um público bem informado, que aprecia teatro, Woody Allen, poesia, um pessoal que olha o Facebook com respeito e aversão. Este deus para os nossos dias é cada vez mais frequente em quem não está próximo o suficiente de uma igreja para se dizer religioso e também não é ateu o suficiente para exterminar incensos, sais, Rubem Alves. São comedidos, gente espiritualizada, mas sem religiosidade evidente. Falam muito em Deus sem citar seu nome. Apreciam o discurso dos ateus, consideram a argumentação correta, mas não gostam dos ateus. Olham para eles e parecem ver um pouco do orgulho, da soberba que anteviam nos religiosos de quem se afastaram. Acabam achando os ateus religiosos demais em seus ateísmos. Estes dias, li um texto de Martha Medeiros, um texto que ilustra em boa medida um deus para os nossos dias, que surge em muitas pessoas. Selecionei uma parte. Vamos a um pouco de Espinoza atualizado, versão 2000: "Quando Deus aparece pra você? Pra mim, ele aparece sempre através da música, e nem precisa ser um Nelson Freire. Pode ser uma música popular, pode ser algo que toque no rádio, mas que me chega no momento exato em que preciso estar reconciliada comigo mesma. De forma inesperada, a música me transcende. Deus me aparece nos livros, em parágrafos que não acredito que possam ter sido escritos por um ser mundano: foram escritos por um ser mais que humano. Deus me aparece - muito! - quando estou em frente ao mar. Tivemos um papo longo, cerca de um mês atrás, quando havia somente as ondas entre mim e ele. A gente se entende em meio ao azul, que seria a cor de deus, se ele tivesse uma. Deus me aparece - e não considere isso uma heresia - na hora do sexo, quando feito com quem se ama... nesse exato instante em que escrevo, estou escutando My Sweet Lord cantado não pelo George Harrison (que Deus o tenha), mas por Billy Preston (que Deus o tenha, também) e posso assegurar: a letra é um animado bate-papo com ele, ritmado pelo rock'n'roll. Aleluia. Deus aparece quando choro. Quando a fragilidade é tanta que parece que não vou conseguir me reerguer".


Filosofia Clínica
Por L úcio Packter

Elegia


Nunca perdemos alguém especial. Nem mesmo a morte é capaz de nos separar dos especiais. De que adianta levar o corpo se as lembranças continuarão abraçando, olhando no olho, contando histórias, rindo da piada, agasalhando no frio, correndo na chuva e olhando pra nós enquanto dormimos?
A dor de perder alguém especial pode-se comparar a dor de perder um membro do corpo. Mas ao invés de um membro, é a nossa própria alma que perde um pedaço.

Você se foi e levou junto um pedaço de mim. Pra não dizer eu todo. Procuro nos álbuns tudo que me remete a você. E esqueço que por mais que você tenha ido com uma parte de mim, uma parte sua ficou comigo. Bem aqui. Do lado esquerdo do peito. Bem guardado. Onde ninguém pode mexer. Nem mesmo a morte pode tocar. Nem mesmo a tristeza pode esconder. Nem mesmo as lágrimas podem afogar.
Você escolheu me amar. E sua escolha mudou minha vida.
Cada caminho errado que tomei virou estrada abandonada depois do que você fez por mim.
No início eu não sabia como dizer isso. Mas cada sorriso seu me fazia ver que a vida vale a pena e o maior desafio dela é continuar vivo depois de partir.

Continuar vivo em outro lugar. No lugar que eu mais desejo. No lugar que eu mais amo. No lugar que eu mais penso. E o meu lugar é você!

Na sua mente. Na sua alma. No seu coração. É onde eu mais quero estar. Esse é o meu lugarzinho perfeito. Esse é o meu abrigo na chuva. Meu canto da manhã. Minha música cantada por anjos. Meu espaço eterno. Meu leito de descanso. Meu mirante na hora de o sol se por.

Quando tudo parecia perfeito vem a vida e nos deixa sem entender. Qual o sentido disso? Quando tudo está bem não seria esse o motivo pra durar mais?
Mas quem disse que acabou? Lembra quando eu falei que o lugar onde eu mais quero estar é em você? Vai lá. Olha nossas fotos. Lembra daquele dia. Eu vou estar bem ai. Tá sentindo? O coração tá pesado? A garganta tá fechando? Os olhos estão embaçando?
Quem não entende do assunto diz que isso é saudade. Ah! Isso não é saudade. Isso é a sensação máxima de um amor que vem de outro mundo. Você sabe que estou em outro mundo. Mas o que você não sabe é que esse outro mundo é você. Quem espera um abraço não pode sentir isso. Mas quem tem o outro dentro de si mesmo sabe do que estamos falando. Esse é o nosso segredo. Esse é o sentimento único que Deus reservou pra nós.
Quando os corpos se separam, ironicamente, é quando eles estão mais próximos. Claro! Se você pensar fisicamente, isso será uma ilusão. Mas desde quando estar próximo é estar do lado? Estar dentro não é estar mais próximo do que estar ao lado?

Entenda isso. Eu não parti. Eu nunca te deixaria. Deus nos deu as lembranças justamente para termos um lugar pra viver depois de sair. A vida saiu de mim. Mas eu nunca sairei da sua vida.

Entenda que eu te amei com tudo que pude. Agora vou te amar ainda mais. O amor que eu sentia por você, eu tentava demonstrar fisicamente. Agora, estamos em outro estágio. Todo amor que sinto por você, vou revelar aqui dentro. Tá sentindo? Lembre-se: Não é saudade. Sou eu. Aqui. Bem aqui. Você pode sentir. Eu sei! Eu te sinto. Te amo tanto. Não quero que você chore com isso. Sorria. Os outros me verão em seu sorriso. Abrace seus amigos. Eles me sentirão. Beije todos que você ama. E eles me sentirão em seus lábios. Nosso relacionamento agora está em outro nível. Enquanto eu vivo em você. Cabe a você viver pra mostrar quem está aqui dentro. Vai lá. Ame, sinta, chore, corra, brigue, pule, cante, dance, espere, admire, namore, beije, abrace, olhe nos olhos, faça silêncio, viva! Viva para mostrar aos outros que eu ainda estou aqui. Bem aqui. No meu mundo perfeito. E o meu mundo perfeito é você! Você pode sentir? Do lado esquerdo do peito. Bem guardado. Onde ninguém pode mexer. Nem mesmo a morte pode tocar. Nem mesmo a tristeza pode esconder. Nem mesmo as lágrimas podem afogar.

Você escolheu me amar. E sua escolha mudou minha vida.


Escrevi esse texto para dedicar a um amigo que perdeu um ente querido. Acabei adiando tanto a entrega que não ficaria legal, depois de tanto tempo, enviar algo desse tipo. Mas acabei achando aqui perdido no meio dos entulhos e resolvi trazer pra vocês.


Abraço,
Eliab Alves Pereira

Uma oração ao nada

Hoje eu quero fazer uma oração diferente, uma oração ao inexistente, ao nada, ao nada que através de sua incompletude me completa. Ser completo de nada é estar vazio.

Quero fazer o que faço sempre, soltar palavras que vez por outra chegam aqui e acolá. Isso me acalma, me dá a pseudo-sensação de estar conversando com quem entende o que eu digo. Ser ouvido é melhor do que ouvir. É duro, mas é sincero! E tudo não passa de uma conversa comigo mesmo.

Mas voltemos ao nada. Voltemos ao que me trouxe aqui. 

Nada, 
Você tem o poder de me zerar. Tem o poder de molhar meus olhos, de me deixar distante, distante de tudo que me completa. Ao me completar você me esvazia de mim. E mim é tudo aquilo que me formou até você chegar. Você não chega com nada, mas vem de lá. Você vem de lugar nenhum e simplesmente me apresenta algo. Uma mensagem, basta uma mensagem; algo cheio de opiniões, mas completo de você. Completo de você porque não me acrescenta, apenas retira. Algo cheio de você é qualquer coisa que te deixa no lugar do todo. Você vem com algo, mas me deixa com você. Me deixa só. 

Você chega cheia de opiniões sobre o que acredito. Cheia de suas opiniões que nada são. O que me move é tudo contrário a você. Tudo que chamo de nada é tudo que você considera o todo. E quando você apresenta seu todo como o que falta em mim, você me enche de si. Ou seja, quando você me enche de si, nada me resta além de incompletude, distanciamento, vazio, você!

Eu não escolho você. Mas você chega, absorve, subtrai, completa até não existir mais nada. E fica. Te vomito nessa oração para que você saia de mim. Te compartilhar me dá a pseudo-sensação de estar conversando com quem entende o que eu digo. E essa pseudo-companhia é o começo do que me preenche. Ao me preencher, me livro de você. Pseudo-companhia é solidão, ilusão. Me encho de solidão pra me livrar de você. E quando menos espero... você ainda está aqui!

E você me pergunta: "O que houve?"


Nada a dizer, nada pra escrever, nada a significar. Escrever me deixa a sós comigo mesmo. Apenas uma maneira de me esvaziar do vazio enquanto me encho de mim. Que o nada se perca em mim buscando me esvaziar. E depois de tudo, vou lembrar de você apenas como um momento difícil, um momento de estagnação, melancolia, frieza, solidão, completude de ti. 


E alguém me perguntará: "O que houve?"
E com os olhos fixos em lugar nenhum, corpo inerte, pensamento longe, sou puxado pelo som da voz do curioso, pisco os olhos, desvio o olhar contraindo a testa, olho pra quem pergunta, me acho, saio de ti  e respondo: "Nada!"






Abraço,
Eliab Alves Pereira

Projeto cria recompensa para quem denunciar corrupção

O cidadão que denunciar crime contra a administração pública poderá receber uma recompensa equivalente a 10% do total de bens e valores recuperados pela Justiça. A medida consta no Projeto de Lei 1701/11, do deputado Carlos Manato (PDT-ES), em tramitação na Câmara. A recompensa será limitada a cem vezes o valor do salário mínimo.

O projeto cria o Programa Federal de Recompensa e Combate à Corrupção. Segundo o texto, a denúncia poderá ser apresentada à polícia ou ao Ministério Público por qualquer pessoa com mais de 18 anos. A proposta garante o anonimato ao denunciante. Se for necessário, ele poderá ser incluído no Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas, instituído pela Lei 9.807/99

Entre os crimes contra a administração pública estão o peculato (apropriação ou desvio de verbas públicas), a prevaricação (atrasar ou prejudicar o cumprimento de atos públicos em benefício próprio) e a corrupção passiva (recebimento de vantagem indevida).

O incentivo à denúncia por meio de recompensa auxiliará a polícia e o Poder Judiciário na coleta de provas, agilizando os procedimentos investigatórios e judiciais, e propiciando um aumento na resolução de crimes”, avalia o deputado Manato. 

De acordo com a proposta, a União criará o Fundo de Recepção e Administração de bens e valores recuperados em ações transitadas em julgado. Os recursos para o pagamento, também sigiloso, aos denunciantes, sairão do fundo. 

TRAMITAÇÃO
O projeto tramita de forma conclusiva nas comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público; Finanças e Tributação; e Constituição e Justiça e de Cidadania.


Fonte: Redação / Portal da Câmara.

Meus pequeninos irmãos


Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; 


Tive vários momentos de introspecção essa semana. Não necessariamente sobre um determinado tema, mas vez por outra me peguei com a cabeça longe. Tive a oportunidade de observar coisas que são rotineiras para algumas pessoas mas que, para nós, vivendo em outro contexto, são coisas fáceis de esquecer e são até mesmo situações que nem sequer nos dão a percepção de que existem, que são coisas de filmes e só.

Assisti a um filme chamado "Guerra ao terror" que relata a vida de soldados enviados ao Iraque para combater o terrorismo. O filme se passa entre um grupo de soldados responsáveis por resolver problemas com explosivos. Um Grupo anti-bombas. A forma de retratar o comportamento deles e a condição humana em situações desse tipo é bem interessante. O relacionamento que os militares desenvolvem com a população, os contratempos, os momentos de crises onde as cabeças não tomam o mesmo caminho, e o que acontece quando o estresse assume o controle, são pontos importantes do filme. A pressão da guerra os leva a desarmar muitos objetos explosivos, mas eles não conseguem ajuda nem enxergam opções para evitar que seus problemas desencadeiem uma reação que resultará na explosão de um ou de outro durante uma brincadeira, que não foi bem-vinda em algum determinado momento. Um soldado guarda em baixo de sua cama os dispositivos que ele já conseguiu desarmar em suas missões. Esse soldado precisou abrir o corpo de um jovem iraquiano que foi morto por terroristas. A cena é forte. Os terroristas armaram explosivos dentro do corpo do garoto assassinado. O soldado precisa abrir todo o tórax do garoto para poder chegar até os circuitos e interromper a transmissão antes que as bombas detonem. Suas mãos tremem enquanto procuram espaço entre as entranhas do jovem até encontrarem os fios. O soldado chora enquanto precisa tirar um ou dois órgãos do rapaz iraquiano para ter espaço para trabalhar.

Ao assistir ao filme "Órfãos de Guerra", fiquei extremamente tocado pela ideia do filme e pela forma que ele representa a vida de crianças que perderam os pais durante a guerra. George Hoog, um jornalista inglês, viaja para a China com o intuito de cobrir os acontecimentos da guerra. Ao testemunhar as atrocidades cometidas por tropas japonesas, pelas quais quase foi executado, é salvo por um guerrilheiro chinês e encaminhado a um refugio numa antiga escola que abriga crianças órfãs. Ao chegar lá George se depara com muitas crianças sujas, doentes, traumatizadas e com fome. O lugar não tem energia elétrica, água ou remédios. O filme mostra como o jornalista inglês e uma corajosa enfermeira australiana, que já cuidava dos órfãos, conseguem reverter essa situação e levar todas as crianças a pé até uma cidade que fica a 800km de distância. A história é baseada em fatos reais e é uma excelente lição de solidariedade, compromisso, perseverança, valores e necessidades humanas.

Além desses filmes, tive a companhia de outros como "Fomos heróis" com Mel Gibson; "Olga", um filme brasileiro inspirado na biografia escrita por Fernando Morais sobre a alemã, judia e comunista Olga Benário Prestes; "A guerrilha", mostrando todo o poder dos ideais de Che Guevara; e "A conspiração", que tenta derrubar uma candidata a vice-presidência dos EUA; que são filmes que retratam pontos de conflito nos seres humanos, questões que levam as pessoas ao extremo, situações que normalmente o mais fácil seria jogar a toalha.

Talvez a influência desses filmes tenham me levado a meditar sobre as condições extremas em que podem se encontrar algumas pessoas. O livro que estou lendo "Pra que serve Deus" de Philip Yancey traz dez ocasiões em que as pessoas precisavam de nada mais do que a Graça divina manifestada por seus semelhantes mais próximos para tirá-las de determinada situação. 

Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. 


Tudo isso me fez pensar: enquanto estou escrevendo esse artigo, oito mil prisioneiros estão sendo forçados a ocupar o espaço projetado para quatro mil na Prisão Pollsmoor, perto da Cidade do Cabo. Onde os detentos usam retalhos de espuma sobre o chão para dormir e um único vaso sanitário serve para cinquenta homens que ocupam uma cela menor que meu quarto. Os prisioneiros só têm uma hora fora da cela para fazer exercícios no pátio e depois têm de voltar para suas 23 horas de celas úmidas, pequenas, sujas e sem nenhum contato com o exterior. Enquanto você lê esse texto, provavelmente, milhares de pessoas estão sendo levadas a condições que chegam a ser desumanas. Enquanto dormimos, milhões de pessoas estão em alguma calçada usando papelão como cama. Todo dia quando saio da universidade, encontro uma mulher sentada numa pedra, olhando para qualquer lugar que não sejam os olhos de outra pessoa. Outro dia, ou melhor, outra noite, enquanto estava voltado do cinema, eu a vi em uma esquina perto de minha casa com roupas curtas, passando maquiagem e, provavelmente, esperando seu primeiro ou próximo cliente que paga por sexo numa noite em que se encontra necessitado de um objeto para despejar seus desejos sexuais.

Esses homens que têm transtornadoo mundo todo chegaram aqui.(...) e afirmam que existe um outro rei, Yeshua.
Atos 17:6e7

Outro dia eu estava pagando minha conta depois de comer alguns cachorros-quentes quando olhei para uma das mesas que ficam na calçada e vi um homem de mais ou menos um metro e noventa de altura, muito magro, usando um monte de panos em forma de fralda para cobrir sua nudez. Ele estava agachado ao lado da lixeira que fica em cada mesa da lanchonete procurando algum resto de comida que alguém jogou fora. Talvez aquela fosse a janta dele.

Philip Yancey conta que conheceu "uma menina de treze anos que vendeu sua virgindade a um homem em troca de uma refeição no McDonald's". Também conheceu "outra de catorze anos que afirmava fazer sexo sempre que pudesse porque isso a ajudaria a pegar AIDS e assim logo estaria morta."

John Thomas, pastor batista da cidade de Fish Hoek, conta a Yancey que "é possível que uma mãe faça sexo com cinco ou seis homens diferentes num esquema normal. O contato da segunda-feira paga a escola das crianças, o da terça paga as contas da casa, o da quarta paga a quitanda e assim por diante."

Situações desse tipo nos levam a vários debates, reflexões, nos deixam constrangidos, nos fazem sentir pena de quem sofre com isso, mas não sei porque situações desse tipo não nos levam a ajudar essas pessoas. Eu sei que muita gente faz algo pra mudar esse quadro, mas quantas pessoas têm conhecimento de coisas assim e não fazem absolutamente nada para intervir?
Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?
Eu acredito que quando Cristo disse "Ide e pregai o evangelho" ele estava falando sobre pregar a Graça, pregar o amor a quem precisa, ele estava  enviando pessoas para que cuidassem de outras pessoas, ele estava dando a missão de ir, conhecer, se relacionar e dar uma opção, uma alternativa de uma vida de tranquilidade, paz, comunhão, afetividade, carinho, importância, cuidado. Acredito que pregar o evangelho é pregar a Graça de Deus. E não se pode pregar a Graça com um discurso. É impossível! A Graça se prega como Cristo pregou, na prática. No estender da mão, no toque nos olhos, no chamar pelo nome. Não há como pregar o evangelho sem conviver, sem se relacionar. Quanto tempo Paulo ficava nas comunidades para pregar o evangelho? E vez por outra o vemos se auto cobrando por estar devendo uma visita a uma igreja ou a outra. As cartas não resolveriam nada. De que adianta ler o que ele escrevia se ele não tinha como demonstrar aquilo ao pessoal? As pessoas nunca iriam entender. Cada um iria ler e absorver o que quisesse. O evangelho é prático, não teórico!
E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?
O meu objetivo com esse artigo é chamar a nossa atenção para coisas que, vez por outra, passa despercebido por nossas preocupações. Há um mundo cheio de problemas, gritando por socorro, clamando por um amigo, alguém que demonstre interesse, compaixão e Graça por causas perdidas (como diz a música Dom Quixote de Engenheiros do Hawaii). Enquanto dormimos, milhares de mulheres vendem o corpo para conseguir sustento. Enquanto comemos, milhares de pessoas morrem de fome sem nunca terem sido apresentadas a um prato de comida com mais de duas opções de alimento. Enquanto estamos ensaiando para a banda da igreja, milhares de pessoas estão correndo para lugares onde o conhecimento de Deus se torna cada vez mais escasso. Nesse momento, provavelmente, existe um soldado em algum lugar cumprindo sua missão. Mais tarde ele poderá estar chorando ao pensar em coisas que ele fez. Em algum lugar do mundo há crianças que perderam os pais e seguem caminhos corrompidos por falta de instrução. E o que estamos fazendo? Cantando? Lendo artigos na internet? Assistindo a vídeos, pregações, debates? Essas coisas são importantes para nosso crescimento, mas quando é que vai chegar a vez de irmos? Quando vamos largar os microfones para segurar na mão do perdido? Quando trocaremos lição de moral por palavras de conforto? Quando soltaremos as pedras para abraçar? Quando sairemos da cadeira confortável ou do cargo respeitável e iremos para as calçadas falar da Salvação pela Graça? Falar com nossas atitudes, não com nossos sermões. Como disse São Francisco de Assis, Pregue o evangelho e, se possível, use palavras.
E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
Eu quero que você pense nas pessoas que estão em outra realidade da sua. Quando você terminar de ler esse artigo, pessoas continuarão presas em celas, mentes, vícios. Você pode gostar desse post e dizer que tudo isso é verdade, mas e as pessoas que não conhecem essa suposta verdade? Você pode deixar vários comentários dando sua opinião, mas quando é que você vai dizer coisas a pessoas que realmente precisam? Uma mão estendida vale muito mais do que um sermão vazio de atitudes.

Só para e imagina, imagina um detento em uma cela minúscula, sem conforto algum, apenas remorso, ódio, tristeza, culpa. Imagina alguém nesse momento chorando no canto da parede do quarto porque não consegue perdoar quem a tratou mal. Imagina quantas garotas estão se vendendo nesse momento em busca de algo que nunca chega. Tente ver a imagem de pessoas que estão no fundo do poço nesse exato momento. Elas precisam de Deus, elas precisam de você, elas precisam ver Deus em você. Imaginou? Agora vá. Vamos! 

E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.



Abraço,
Eliab Alves Pereira 

Atenção na telinha

Vocês já ouviram falar da Revolução Laranja que aconteceu na Ucrânia em 2004? Permitam-me contar uma história pouco conhecida sobre os improváveis heróis que ajudaram a desencadear uma revolução. Como outras partes da União Soviética, a Ucrânia caminhou para a democracia após o colapso do império soviético, embora na Ucrânia a democracia avançasse num ritmo de era glacial. Se vocês acham que nossas eleições são sujas, pensem que quando o reformador ucraniano Victor Yushchenko ousou desafiar o partido no poder ele quase morreu devido a um misterioso envenenamento por dioxina. Contra todos os conselhos, Yushchenko, com o organismo enfraquecido e o rosto definitivamente desfigurado pelo veneno, continuou na disputa eleitoral. No dia da eleição, os resultados da votação o colocaram dez pontos percentuais na frente; todavia, por meio de uma fraude evidente, o governo conseguiu reverter os resultados.

O canal da TV estatal anunciou: "Senhoras e senhores, informamos que o candidato da oposição Victor Yushchenko foi inquestionavelmente derrotado". Todavia, as autoridades governamentais não haviam levado em conta uma característica da televisão ucraniana: a tradução que ela oferece para deficientes auditivos. Na telinha que aparece no canto direito inferior da tela grande uma corajosa mulher, filha de pais surdos-mudos, transmitiu uma mensagem divergente na língua de sinais. "Eu estou me dirigindo  a todos os cidadãos surdos da Ucrânia. Não acreditem no que eles (as autoridades) dizem. Estão mentindo, e eue stou envergonhada de traduzir essas mentiras. Yushchenko é o nosso presidente!" 

Cidadãos surdos, inspirados por sua tradutora Natalya Dmitruk, fizeram a Revolução Laranja. Usando seus celulares, eles enviaram torpedos a seus amigos sobre a fraude eleitoral, e logo outros jornalistas, inspirados pelo gesto desafiador de Dmitruk, criaram coragem e, semelhantemente a ela, se recusaram a transmitir a posição do governo. Dentro de algumas semanas cerca de um milhão de pessoas vestidas na cor laranja inundaram a capital, Kiev, exigindo novas eleições. O governador finalmente cedeu à pressão, aceitando novas eleições, e dessa vez Yushchenko emergiu como indiscutível vencedor.

Quando ouvi essa história da Revolução Laranja, a imagem da telinha da verdade no canto da telona tornou-se para mim uma imagem ideal da igreja. Vejam, nós na igreja não controlamos a telona. (Quando o fazemos, geralmente criamos confusão.) Procurem uma banca de jornais e revistas ou liguem a televisão, e vocês verão uma mensagem consistente. O que importa é a beleza que se exibe, quanto dinheiro ou poder se tem. Capas de revistas apresentam supermodelos esculturais e belos garotões, apesar de pouca gente ter esse visual. Os pais conhecem o impacto devastador que a mensagem da telona exerce sobre um filho adolescente sem atrativos.

De modo semelhante, embora o mundo inclua muitos pobres, eles quase nunca chegam às capas de revistas ou aos noticiários. Em vez disso, enfocamos os superbilionários, nomes como Bill Gates ou Oprah Winfrey. Um fato revelador simboliza nossa cultura da celebridade: o jogador de basquete Kevin Gernett, que (devemos admitir) se sobressai na atividade de fazer uma bola redonda passar por um aro redondo, este ano ganhará mais dinheiro do que todo o Senado norte-americano. Que tipo de sociedade valoriza as proezas atléticas de uma só pessoa mais do que as contribuições de seus 100 legisladores máximos?

Nossa sociedade não é de fato única. A longo da História as nações sempre glorificaram os vencedores, não os perdedores. Então, como a tradutora da língua de sinais no canto inferior direito da tela, eis que aparece uma pessoa chamada Jesus, que com efeito diz:

Não acreditem na telona - eles mentem. Os pobres é que são abençoados, não os ricos. os que choram são abençoados também, assim como os que têm fome e sede, e os perseguidos. Os que passam a vida pensando que estão no topo do mundo terminarão no fundo do buraco. E os que a passam achando que estão no fundo do buraco acabarão no topo. No fim das contas, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?

Praticar "estas minhas palavras", disse Jesus, lhes garantirá uma vida sobre uma fundamentação sólida como a rocha. Hoje vivemos numa sociedade distorcida que nos entope de mensagens de que o valor da pessoa depende da aparência, ou da renda dela, ou do acesso ao poder. Jesus nos conclama a ver o mundo com através dos olhos de Deus, a perceber que Deus pode se preocupar tanto com o que está acontecendo agora em Darfur ou no Haiti quanto com o que está acontecendo na Wall Street; que Deus pode estar tão interessado na depauperada zona de Memphis 38138 quanto está interessado em Beverly Hills 90210. A receita para uma boa saúde, individual ou social, exige que se dê atenção à mensagem oposta que aparece na telinha.


Philip Yancey
 (Pra que serve Deus)

A pergunta de Sofia

Sofia é uma garota de sete anos de idade. Tem cabelos negros como corvos, olhos castanhos e entreabertos como se tentassem impedir a passagem de luz do sol, sua pele é clara, seu rosto é fino e bem delicado. As poucas sardas que contornam seus olhos dão um um toque mais infantil e dá um pouco de contraste com a delicadeza de sua face. Sofia tem um sorriso nada tímido, muito gostoso de se ouvir e extremamente contagiante. As barrocas que se formam em suas bochechas quando ela sorri chegam a tirar a nossa atenção dos espaços dos dentes de leite que caíram semana passada. Sofia é magrinha e bem pequena para uma criança de sua idade. Costuma brincar com coisas leves que não exigem tanto esforço, senão, logo logo ela se cansa. Ela tem uma marca de tamanho de um friso de cabelo no seu antebraço esquerdo. Lembrança de quando encostou sua pele na panela quente que sua mãe tinha acabado de colocar em cima da mesa. Sofia, assim como toda criança, é movida por perguntas. "Por que quando os raios caem na água os peixes não morrem?"; "Se fumar faz mal, por que você fuma?"; "Por que a chuva cai em gotas e não tudo de uma vez?"; "O que é isso?"; "O que é aquilo?"; e por aí vai a lista de perguntas. O interrogatório só aumenta conforme as respostas vão surgindo. 
E é justamente por causa dessas perguntas que estou escrevendo isso. Quero compartilhar uma pergunta em especial que Sofia resolveu soltar antes de dormir enquanto sua mãe a ajudava a orar.
Depois de algum tempo orando, a mãe de Sofia fez a seguinte petição:
- Senhor, muda o jeito de ser do Eduardo. (Eduardo é o irmão mais velho de Duda, mãe de Sofia.) 
- Que ele largue esses costumes que me deixam triste e que, com certeza, te desagradam também, Senhor. Esses lugares que ele frequenta, as coisas que ele lê, a forma que ele fala, aqueles amigos que não me passam confiança, por favor, Senhor, muda o meu irmão para que possamos ser mais próximos um do outro.
Ao terminar a oração, Duda coloca Sofia na cama, ajeita o cobertor, apalpa o travesseiro, beija seu rosto, acaricia seu cabelo e dá boa noite a sua filha. Duda, que estava agachada ao lado da cama,  se levanta apaga a luz do abajur, e caminha até a porta. Quando está quase fechando a porta, Sofia diz: 
- Mamãe!- Sim, querida.- Posso fazer uma pergunta?- Pode sim. Qual é?- Ao invés de pedir pra Ele mudar o tio Eduardo, não poderíamos pedir para Deus te ajudar a amar ele do jeito que ele é?
Duda ficou em silêncio e com os olhos arregalados como se estivesse procurando um lugar para se esconder de alguém que invadiu a casa, perguntou:
- Você acha que dessa forma seria mais fácil?- Não sei. Mas é porque eu não gosto daquele lugar que você vai cheio de gente cortando o cabelo e fazendo barulho. O cheiro de lá é ruim. E sabe aquele livro que a senhora lê? Eu não gosto dele. A capa não tem nenhum desenho e as letras são muito pequenas. E quando a senhora fala de como está chateada com alguma coisa, eu fico triste quando ouço. E aquelas suas amigas que vêem aqui de vez em quando, elas são chatas. Ficam me perguntando um monte de coisas e bagunçam meu cabelo. Elas cheiram a detergente e cebola. Mas eu não quero que Deus te mude por causa disso. Eu não quero outra mãe no seu lugar. Se Deus tirar o cheiro de cebola de suas amigas, pra mim tá tudo bem. Eu posso te amar mesmo sem gostar dessas coisas.




Abraço,
Eliab Alves Pereira

Iguais pelas diferenças

Já dizia a música de Catedral: 
Somos todos iguais
Na chegada e na partida
No encontro e despedida
(...)
Somos todos iguais
Na mentira e na verdade
No amor e na maldade.
A afirmação de que todo ser humano é igual tem origem no desejo de igualdade pregado por qualquer pessoa que deseja o bem do todo. Afirmar que eu sou igual a você tem, implícita, a intenção de me mostrar que eu devo te respeitar e fazer o bem a você porque você é igual a mim. Dizer que nós somos todos iguais significa que eu não devo praticar o mal ao outro porque da mesma forma que eu acredito que não devo sofrer algum mal por ser uma pessoa boa, outra pessoa, por ser igual a mim, não deve sofrer mal algum, afinal, ela é uma boa pessoa por ser igual a mim.
É notável a ideia de colocar minha imagem no outro para que eu não o ataque. É perceptível que ao aceitar a nossa igualdade, eu não vou machucá-lo porque eu estaria machucando a mim mesmo. É como se eu visse um mendigo usando uma máscara com meu rosto e, por me ver nele, eu o ajudaria. 

Mas, vem cá, na verdade, eu deveria amar o próximo somente porque ele é igual a mim? A ideia não seria amar o outro justamente pelas diferenças? Lá em Mateus 5, num situação parecida com essa Jesus disse: "Ah, velho, até os publicanos fazem isso!

Não sei você, mas eu vejo a expressão "somos todos iguais" como mesquinha. Acredito na igualdade pelas diferenças. Acredito que somos iguais porque somos diferentes, só. Como diz a música de Fruto Sagrado: "Eu sou diferente igual a todo mundo..."

Aceitar o outro pela diferença é o que deveria ser almejado por todos nós.  Afinal, é fácil amar quem se parece comigo, é fácil se aproximar de quem já está perto. Que eu aprenda a respeitar o outro pela diferença, pelo que não me conforta, pelo que me franze a sobrancelha. Que eu consiga olhar para as diferenças do próximo e amá-lo por isso. Que eu enxergue o diferente como algo que nos iguala. Afinal, se ele é diferente de mim, eu sou diferente dele. O importante é encontrar nas diferenças o respeito, união, carinho, liberdade, etc. Já imaginou se Deus fosse amar apenas quem é igual a Ele? Precisamos enxergar que foi assim que Deus fez conosco. Depois de ver a diferença entre nós e Ele, Deus tornou-se igual a nós para nos dar a oportunidade de sermos como Ele. Você compreende? Ele foi diferente como nós somos para que nós possamos ser diferentes como Ele é. Amar o próximo pelas diferenças é se permitir ser igual a ele e deixar que ele seja igual a mim. Dessa forma, o que tínhamos de diferente agora é semelhante. 


Abraço,
Eliab Alves Pereira

Na busca da verdade

por Paulo Coelho

O demônio conversava com seus amigos, quando notaram um homem caminhando por uma estrada. Acompanharam seu trajeto com os olhos, e viram que ele abaixou-se para pegar algo no chão.

“O que ele encontrou?”, perguntou um dos amigos.

“Um pedaço da verdade”, respondeu o demônio.

Os amigos ficaram preocupadíssimos. Afinal de contas, um pedaço da verdade poderia salvar a alma daquele homem – e seria menos um no inferno. Mas o demônio continuava imperturbável, olhando a paisagem.

“Você não se preocupa?”, disse um dos seus companheiros. “Ele achou um pedaço da verdade!”

“Não me preocupo”, respondeu o demônio. “Sabe o que ele fará com este pedaço? Como sempre, vai criar uma nova religião. E conseguirá afastar mais pessoas da verdade total”.