Se comeu, vomite!

Mazzeo, Marcos Palmeira e Emilio Orciollo Netto fazem os três amigos botequeiros saídos da peça homônima de Marcelo Rubens Paiva. Eles se reúnem num bar no Rio de Janeiro para cantar vantagem, zoar uns aos outros e reclamar das mulheres; Mazzeo faz um arquiteto abandonado pela esposa (Tainá Müller), Palmeira é um jornalista que suspeita de uma traição da mulher (Dira Paes) e Orciollo é o playboy solteiro, aspirante a escritor, que sente falta de uma relação "de verdade".

A publicidade dizia: "E aí, Comeu? é a 'primeira comédia verdadeira sobre o amor'"

Bem, ainda estou tentando achar a comédia e o amor. E a verdade! Talvez os marketeiros estavam se referindo a "comédia" de caçoar do sexo como algo supérfluo, ou da mulher como um material de consumo, ou do amor baseado num esteticismo pseudo-perfeccionista influenciado até a tampa por uma mídia que enche a cabeça das pessoas de que mulher pra se pegar é mulher gostosa e bonitona, ou aquela toda sensual que se joga no meio das pernas dos homens para conseguir um macho! Uso a expressão "macho" porque remete ao sentido de animal, de irracional, (por mais que não seja no original, mas remete). Animal porque é assim que o filme retrata as pessoas. Como meros animais irracionais que se jogam nos braços dos seus instintos e depois contam vantagem sobre o que aconteceu. E aí eu me pergunto: "Foi exagero?". Nós sabemos a resposta! Durante a sessão essa pergunta é respondida sempre que a sala cai na gargalhada aprovando uma piada chula, machista, imoral e burra.

"E aí, Comeu?" parte da premissa de que Mazzeo, Palmeira e Orciollo aprendem a ser mais gentis depois de sofrerem um baque emocional, mas a solução que o filme encontra pra eles não é um elogio da complexidade feminina, e sim um reforço de estereótipos de mulher-objeto. Um fica com a "girl next door" virginal e descomplicada (ela é a alma gêmea do personagem de Mazzeo porque não vai lhe causar dores de cabeça como a alma gêmea anterior), outro se acha na mulher "brother" (a personagem de Dira Paes fuma, bebe e sabe jogar pôquer como um homem) e o terceiro realiza o velho sonho de tirar a prostituta da zona - uma demonstração não de afeto, mas de vitória. (Marcelo Hessel)

Já vi muitos comentários reprovando o filme, mas aí eu me pergunto: "Estão reclamando de que? Do fato de os produtores darem o que vocês consomem?" Enquanto escrevo isso, tem uma galera alí na sala assistindo a "As empreguetes". Daqui a pouco começa o JN (nada tendencioso, não é?), depois segue as outras novelas, todas sobre o que mesmo? Consumismo, esteticismo, pilhérias, irrelevâncias, manipulações, e dessa forma a lata de lixo vai enchendo! Tudo não vale mais que R$ 1,99.

Brasileiro adora reclamar dos filmes nacionais. "É muita putaria, palavrão, é chato, é isso, é aquilo". Tá, cara, mas o que você consome durante o dia inteiro naquele tubo infecto? (Como diz o Marcelo Taz). As programações aceitas pela massa são as formas para produzir todo o resto. Se você aceita merda na sua TV, eles vão continuar jogando porque é isso que você consome. Brasileiro é muito escroto mesmo. Faz o pedido só com porcaria e quando vem o prato... e aí, comeu? 

Comi e não gostei. Vim vomitar aqui! Vim regurgitar minha indignação com uma mídia que, para ganhar o público, apela pra todo tipo de material sem peso intelectual. E aí uma população cheia de más influencias, com muita porcaria na cabeça e sem nenhum senso crítico vai assistir e se deixar levar pela onda. Em que isso vai dar? Não vai demorar pra ver o resultado. Senta só numa mesa de bar e tenta escutar as conversas. Quem já viu o filme vai querer ser aqueles caras da tela. Quem não falava o que eles falam, vai falar, eu aposto! Por que? Porque a massa doente escolhe isso para ser espelho dela. O filme começa com o Marcos Palmeira encarando o público, olhando direto para a câmera jogando como prefere as coisas, como são as mulheres, como é a melhor forma de trepar, etc. Olhando direto pra nós como se dissesse: "Olha pra mim e escuta o que eu tenho a dizer. E obedeça. Concorde!"

Me revirei na cadeira quando a câmera começa a passear pelo bar e só encontramos mulheres esteticamente "bonitas" de acordo com os padrões da mídia. Chegamos na mesa do trio e o que temos? "Homem só fala putaria quando tá junto. Não tem conteúdo inteligente pra falar, e aí vai falar das mulheres que conseguiram pegar. Não têm escrúpulos, só se importam com sexo e a posição mais confortável na hora da transa. E ainda tem um espaço para ensinar como as mulheres devem fazer um boquete. Como devem proceder para AGRADAR AOS MACHOS." É isso que eles jogam na tela. É essa ideia que eles querem passar! E a galera cai na risada! 

"E aí, Comeu?" não se dispõe a reconhecer que ser homem é aceitar os mistérios das mulheres, está sim atrás de reafirmar o macho como senhor das fantasias e de botar, nestes tempos incertos, o homem de volta no seu "lugar de direito." (Marcelo Hessel)

Você vê um casal em crise, e o que acontece? Papo nenhum resolve os problemas. Mas quer saber? Basta o marido ganhar um iphone e o amor volta. E lá vamos nós com a velha ideia de que amor é provado quando alguém te COMPRA com presentes, mimos, etc. Amor é o que eu compro para o outro, né? É o objeto que o faz esquecer os problemas e se voltar pra mim. Ótimo! O amor, para o filme, é o desejo que o homem tem pela mulher. Cara, isso todo animal sente. Desejo é natural, não é amor. Amor é sobrenatural. E não falo no sentido divino, falo no sentido de fugir da naturalidade mesmo. De esquecer a ordem, a seleção natural, etc. O amor ignora nossa natureza mas nos deixa conscientes disso. O que o desejo faz? Nos consome e leva a fazer loucuras. Porque estamos em seu poder. E você pode dizer: "Tá, num é a mesma coisa, não?" Claro, pra você pode ser. Afinal, você está no caminho que eles te colocaram. Você pensa sobre o amor assim como eles ensinaram. Amor é, no mais simples sentido, o que eu faço pelo outro, não o que sinto. Amor não me toma o controle, ele me dá o controle de fazer algo que eu não faria sem ele. O instinto, não. Ele me força a fazer o melhor pra mim. Qualquer coisa que me preserve. O instinto é natural. O amor, não! Por instinto você mata, foge, culpa, julga, mente. Por amor você toma o lugar de quem você mataria, culparia, mentiria. E isso não é natural. É contra a lei da sobrevivência. Mas isso eles não ensinam na telinha. 

E para encerrar, o que falta? Uma ninfeta sensual, virgem e dando maior mole para o carinha que está carente porque se divorciou. Ai que pena! E Como isso tem de terminar? "Hora, vamos jogar a cena da garota perdendo a virgindade com o carinha lá. Aproveita detalhes dos corpos se tocando pra produzir um efeito louco nos moleques assistindo. Ah, não esquece de focar na boca carnuda da garota se mordendo de prazer, pelo outro. Deixa a galera que está assistindo a ponto de bala que quando saírem daqui, a bicharada tá solta. Jogada nos braços de seus desejos e instintos - (naturais) - mas que com nada na cabeça para conduzí-los, magoa o outro, forma machistas, utiliza a mulher como objeto de desejo, e continua poluindo a sociedade." 

Se você comeu (engoliu) essa porcaria, vomite!

Proponho uma movimentação da nossa parte contra essa situação: Se não comermos a comida que eles colocam no prato, eles vão ter de mudar o cardápio. (Simples assim)! Desliga essa TV e vai ler um livro. Ignora essa novela e vai trocar uma ideia com os amigos. Banaliza essa Zorra e vai sair com a galera. Coloque o que realmente é valioso nessa vida no lugar dessa porcaria que eles nos oferecem! 

O que a telinha brasileira diz sobre o amor? "TUDO GIRA EM TORNO DO SEXO. Se não transar, não é amor. Se não transar, é fraco. Se não transar, não tem o que falar.

Ao invés de perguntarem: "E aí, como ela é?
Perguntam: "E aí, comeu?"

Olha no olho da pessoa que está no espelho e pergunta se isso tá certo! Pergunta se ela vai ficar comendo isso!


Abraço,
Eliab Alves Pereira 

2 comentários:

  1. Muito interessante o seu post Eliab.

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  2. Ótimo material é mesmo preciso as pessoas se disperderem de algo q banaliza a população a tanto tempo, com materiais que não levam nossa mente a lugar algum e ainda nos deixa mais sedentos de Coisas sem sentindos.

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