Oração a Deus - Voltaire

Voltaire nasceu em Paris em 21 de novembro de 1694. Seu nome era François-Marie Arouet, só mais tarde adotou Voltaire. Seu legado está ligado à poesia, à literatura, mas principalmente, ao esforço de mostrar que a intolerância religiosa é perniciosa, maligna. Milhares morriam na fogueira, nos garrotes, nas forcas, nas galés imundas e ele não se conformava. Para Voltaire tais assassinatos não tinham outro transfundo senão o fanatismo. No esforço de defender as convicções do ataque daqueles que eram considerados hereges, padres, pastores, príncipes, não hesitavam em condenar ao suplício. E isso era indigno.

No final de sua obra, Tratado sobre a Tolerância, Voltaire incluiu uma prece.
Embora séculos já tenham passado, ela continua atual.
Vale repeti-la como uma oração nossa.

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Oração a Deus
Voltaire

Não é mais aos homens que me dirijo, é a Ti, Deus de todos os seres, de todos os mundos e de todos os tempos. Se é permitido a frágeis criaturas perdidas na imensidão e imperceptíveis ao resto do Universo, ousar Te pedir alguma coisa, a Ti que tudo criaste, a Ti cujos decretos são imutáveis e eternos, digna-Te olhar com piedade os erros decorrentes de nossa natureza. Que esses erros não venham a ser nossas calamidades. Não nos destes um coração para nos odiarmos e mãos para nos matarmos.

Faz com que nos ajudemos mutuamente a suportar o fardo de uma vida difícil e passageira; que as pequenas diferenças entre as roupas que cobrem nossos corpos diminutos, entre nossas linguagens insuficientes, entre nossos costumes ridículos, entre nossas leis imperfeitas, entre nossas opiniões insensatas, entre nossas condições tão desproporcionadas a nossos olhos e tão iguais diante de Ti; que todas essas pequenas nuances que distinguem os átomos chamados homens não sejam sinais de ódio e perseguição; que os que ascendem velas em pleno meio-dia para Te celebrar suportem os que se contentam com a luz do Teu sol; que os que cobrem suas vestes com linho branco para dizer que devemos Te amar não detestem os que dizem a mesma coisa sob um manto de lã negra.

Que seja igual Te adorar num jargão formado de uma antiga língua, ou num jargão mais novo; que aqueles cuja roupa é tinjida de vermelho ou de violeta, que dominam sobre uma pequena porção de um montículo de lama deste mundo e que possuem alguns fragmentos arredondados de certo metal usufruam sem orgulho o que chamam de grandeza e riqueza, e que os outros não os invejem, pois Sabes que não há nessas vaidades nem o que invejar, nem do que se orgulhar.

Possam todos os homens lembrar-se de que são irmãos! Que abominem a tirania exercida sobre as almas, assim como execram o banditismo que toma pela força o fruto do trabalho e da indústria pacífica! Se os flagelos da guerra são inevitáveis, não nos odiemos, não nos dilaceremos uns aos outros em tempo de paz e empreguemos o instante de nossa existência para abençoar igualmente em mil línguas diversas, do Sião à Califórnia, Tua bondade que nos deu esse instante.

Traves contorcidas e podres


(...) O imperador da Alemanha explicou recentemente, com maior precisão, a missão do soldado, agradecendo e recompensando um soldado que havia matado um prisioneiro indefeso que tentava fugir. Recompensando uma ação sempre considerada como vil e infame, até mesmo por homens do mais baixo grau de moralidade, Guilherme II mostrou que o dever principal e mais apreciado do soldado é ser carrasco, e não como um carrasco profissional que só mata os criminosos condenados, mas carrasco de todos os inocentes que o chefe lhe ordena matar.

Mas ainda não é tudo. Em 1892, o mesmo Guilherme, o enfant terrible do poder, que diz em voz alta o que os outros se contentam em pensar, disse publicamente o que se segue, reproduzido no dia seguinte por um sem-número de jornais.

Recrutas! Diante do altar e do servo de Deus, vós me haveis jurado lealdade! Sois ainda demasiado jovens para compreender toda a importância do que aqui foi dito, mas cuidai antes de tudo de obedecer às ordens e às instruções que vos serão dadas. Vós me haveis jurado, jovens da minha guarda; agora sois, portanto, meus soldados, a mim pertenceis, pois, de corpo e alma. Para vós, hoje, não existe senão um inimigo, aquele que é meu inimigo. Com os atuais ardis socialistas, poderia ocorrer que eu vos ordenasse disparar em vossos parentes, em vossos irmãos, também em vossos pais, em vossas mães [que Deus não permita]; ainda assim devereis obedecer às minhas ordens sem hesitar.

Esse homem exprime tudo aquilo que os governantes inteligentes pensam, mas cuidadosamente ocultam. Diz abertamente que aqueles que servem o exército estão a seu serviço e devem estar prontos, para seu benefício, a matar seus irmãos e seus pais.
(...)
Como um hipnotizador audaz, ele experimenta o grau de insensibilidade do hipnotizado. Aplica-lhe sobre a pele um ferro ardente; a pele fumega, enruga, mas o entorpecido não acorda.
(...)
Dizem-lhe: "Serás meu servo, e esta servidão vai obrigar-te a matar também o teu próprio irmão", e ele, por vezes até muito instruído, entrega tranquilamente seu pescoço aos arreios. Vestem-lhe um traje grotesco, ordenam-lhe que pule, faça gestos, reverencie, mate, e ele tudo faz docilmente. E quando o exoneram, ele retorna, como se nada tivesse acontecido, à antiga vida, e continua a falar da dignidade do homem, da liberdade, da igualdade, da fraternidade!
(...)
Matai-os ao milhares, aos milhões, fazei-os em pedaços, eles seguirão da mesma maneira ao massacre como um rebanho estúpido. Serão obrigados a caminhar, sendo chicoteados por uns e autorizados por outros a usar pedaços de fitas e galões.

E é com uma sociedade assim, composta de homens embrutecidos a ponto de prometerem matar os próprios parentes, que certos homens públicos - conservadores, liberais, socialistas, anarquistas - desejariam construir uma sociedade racional e moral. Assim como não é possível construir uma casa com traves contorcidas e podres, com homens dessa espécie não é possível organizar uma sociedade moral e racional. 


Liev Tosltói - O reino de Deus está em vós

Concílio de Niceia

Constantino foi pressionado por sua corte a elaborar um conceito de Deus que agradasse a todas as dissidências cristãs que tinham como Jesus o salvador dos pecados do mundo. Constantino então reuniu entre maio e junho de 325 d.c, o famigerado Concílio de Niceia. Este foi presidido pelo Bispo Alexandre de Alexandria.

E em meio a várias discussões durante alguns calorosos debates, um grupo de altos dignitários cristãos concordou que Deus era personificado em três entidades: Pai, Filho e Espírito Santo. O que contradiz os dizeres do próprio Cristo, pois nem no Novo Testamento nem em textos Apócrifos há menções à Trindade. O que de comum acordo todos os evangelhos dizem é: "Eu (Jesus) e o Pai somos um".

Neste célebre encontro os evangelhos que não tinham o consentimento do Espírito Santo foram denominados APÓCRIFOS. E de que maneira poderia ser ter certeza da vontade divina? Segundo se diz, todos os textos religiosos, até então escritos, foram colocados sobre um altar. Os bispos rezaram para que aqueles que não fossem verdadeiros, caíssem. E assim sucedeu-se. Remanesceram apenas os Evangelhos segundo João, Lucas, Mateus, Marcos, sem que nunca pudesse se provar sua autenticidade. É óbvio que o procedimento para a seleção dos Evangelhos eleitos não se deu tal qual os bispos disseram. Eles simplesmente optaram por aqueles que não representavam perigo à autoridade da Igreja, eliminando aqueles que comprovavam a descendência de Jesus, pois do contrário o Papa seria deposto e substituído por um herdeiro legítimo do Cristo. 

Outro aspecto importante era o monoteísmo, Deus deveria ser uma personalidade suprema - da qual os papas seriam seus delegados na Terra. A pratica da feitiçaria também foi proibida, é claro, pois representava um perigo ao domínio da Igreja. Apesar de condenar os feiticeiros, a Igreja não só permitia como utilizava-se da astrologia. O Concílio de Niceia iniciou-se em 20 de Maio de 325 d.c, sob a conjunção de Urano e Plutão em Aquário. Acredita-se que conjunções envolvendo Urano e Plutão são marcos na história e de avanços econômico/sociais.

Após Niceia, tudo o que não estivesse aderido aos ditames de Roma, era queimado (inclusive pessoas). Entretanto, a bem do conhecimento, muitos destes livros foram copiados, enterrados, ocultos por Monges agnósticos, fragmentados e publicados disfarçadamente sob outros títulos e de alguma maneira sobreviveram até os dias de hoje. Há uma enorme lista de escritos que foram declarados apócrifos. Segue abaixo a lista com sua grande maioria: 

Antigo Testamento 

  1. Apocalipse de Adão
  2. Apocalipse de Baruc
  3. Apocalipse de Moisés
  4. Apocalipse de Sidrac
  5. Sexo, Sétimo, Oitavo, Nono e Décimo Livros de Moisés
  6. Samuel Apócrifo
  7. As Três Estrelas de Seth
  8. Ascensão de Isaías
  9. Assunção de Moisés
  10. Caverna dos Tesouros
  11. Epístola de Aristéas
  12. Livro de Jubileus
  13. Martírio de Isaias
  14. Oráculos Sibilianos
  15. Prece de Manassés
  16. Primeiro Livro de Adão e Eva
  17. Primeiro livro de Enoque
  18. Primeiro livro de Esdras
  19. Quarto Livro dos Macabeus
  20. Revelação de Esdras
  21. Salmos 151
  22. Salmos de Salomão (ou Odes de Salomão)
  23. Segundo Livro de Adão e Eva
  24. Segundo Livro de Enoque (ou Livro dos Segredos de Enoque)
  25. Segundo Livro de Esdras (ou Quarto Livro de Esdras)
  26. Segundo Tratado do Grande Seth
  27. Terceiro Livro de Macabeus
  28. Testamento de Abraão
  29. Testamento dos Doze Patriarcas 
  30. Vida de Adão e Eva

Novo Testamento

  1. A Hipóstase dos Arcontes
  2. Ágrafos Extra-Evangelhos
  3. Ágrafos de Origens Diversas
  4. Apocalipse da Virgem
  5. Apocalipse de João, o Teólogo
  6. Apocalipse de Paulo
  7. Apocalipse de Pedro
  8. Apocalipse de Tomé
  9. Atos de André
  10. Atos de André e Mateus
  11. Atos de Barnabé
  12. Atos de Felipe
  13. Atos de João o Teólogo
  14. Atos de Paulo
  15. Atos de Paulo e Tecla
  16. Atos de Pedro
  17. Atos de Pedro e André
  18. Atos de Pedro e Paulo
  19. Atos de Pedro e os Doze Apóstolos
  20. Atos de Tadeu
  21. Atos de Tomé
  22. Consumação de Tomé
  23. Correspondência entre Paulo e Sêneca
  24. Declaração de José de Arimateia
  25. Descida de Cristo ao Inferno
  26. Discurso de Domingo
  27. Ditos de Jesusao rei Abgaro
  28. Ensinamentos de Silvano
  29. Ensinamentos do Apóstolo Tadeu
  30. Ensinamentos dos Apóstolos
  31. Epístola aos Laodicenses
  32. Epístola de Herodes a Pôncio Pilatos
  33. Epístola de Jesus ao rei Abgaro (2 versões)
  34. Epístola de Pedro a Filipe
  35. Epístola de Pôncio Pilatos a Herodes
  36. Epístola de Pôncio Pilatos ao Imperador
  37. Epístola de Tibério a Pôncio Pilatos
  38. Epístola dos Apóstolos.
  39. Eugnóstos, o bem aventurado
  40. Evangelho Apócrifo de João
  41. Evagelho Apócrifo de Tiago 
  42. Evangelho Árabe de infância (fragmentos)
  43. Evangelho Armênio de infância (fragmentos)
  44. Evangelho da verdade
  45. Evangelho de Filipe
  46. Evangelho de Marcião
  47. Evangelho de Maria Madalena (ou Evangelho de Maria Betânia)
  48. Evangelho de Matia (ou tradições de Matias)
  49. Evangelho de Nicodemos (ou Atos de Pilatos)
  50. Evangelho de João e Pedro
  51. Evangelho de Tomé o gêmeo (Dídimo)
  52. Evangelho do Pseudo-Mateus
  53. Evangelho do Pseudo-Tomé
  54. Evangelho dos Ebionitas (ou Evangelho dos doze apóstolos)
  55. Evagelho dos Egípcios
  56. Evangelho dos Hebreus
  57. Evangelho Secreto de Marcos
  58. Exegese sobre a Alma
  59. Exposições Valentidianas
  60. Fragmentos Evangélicos conservados em papiros
  61. Fragmentos Evangélicos de texto coptas
  62. História de José, o carpinteiro
  63. Infância do Salvador
  64. O julgamento de Pôncio Pilatos
  65. Livro de João, o teólogo, sobre a assunção da Virgem Maria
  66. Martírio de André
  67. Martírio de Mateus
  68. Morte de Pôncio Pilatos
  69. Natividade de Maria
  70. O Pensamento de Norea
  71. O Testemunho da verdade
  72. O trovão, Mente Perfeita
  73. Passagem da Bem-Aventurada Virgem Maria
  74. Pistris Sophia (Fragementos)
  75. Prece de Ação de Graças
  76. Prece do Apóstolo Paulo
  77. Primeiro Apocalipse de Tiago
  78. Proto-Evangelho de Tiago
  79. Retrato de Jesus
  80. Retrato do Salvador
  81. Revelação de Estevão
  82. Revelação de Paulo
  83. Revelação de Pedro
  84. Sabedoria de Jesus Cristo
  85. Segundo Apocalipse de Tiago
  86. Sentença de Pôncio Pilatos contra Jesus
  87. Sobre a Origem do Mundo
  88. Testemunho sobre o Oitavo e o Nono
  89. Tratado sobre a Ressurreição 
  90. Vingança do Salvador
  91. Visão de Paulo 

Escritos de Qunran 

  1. Nova Jerusalém (5Q15)
  2. A Sedutora (4Q184)
  3. Antologia Messiânica (4Q175)
  4. Benção de Jacó (4Qpbl)
  5. Bênçãos (1Qsb)
  6. Cânticos do Sábio (4Q510-4Q511)
  7. Cânticos para o Holocausto do Sábado (4Q400 - 4Q407/11Q5-11Q6)
  8. Comentário sobre a Lei (4Q159/4Q513-4Q514)
  9. Comentários sobre Habacuc(1QpHab)
  10. Comentários sobre Isaías (4Q161 - 4Q164)
  11. Comentário de Miqueias (1Q14)
  12. Comentário sobre Naum (4Q169)
  13. Comentários sobre Oseias (4Q166-4Q167)
  14. Comentário sobre Salmos ( 4Q717/4Q173)
  15. Consolações ( 4Q176)
  16. Era da Criação (4Q180)
  17. Escritos do Pseudo-Daniel (4QpsdDan/4Q246)
  18. Exortação para Busca da Sabedoria(4Q185)
  19. Gênese Apócrifo (1QapGen)
  20. Hinos de Ação de Graças ( 1Qh)
  21. Horóscopos (4q186/4Qmessa)
  22. Lamentação ( 4Q179/4Q501)
  23. Maldições de Satanás e seus Partidários ( 4Q286-4Q287/4Q280-4Q282)
  24. Melquisedec, o príncipe celesre (11QMelq)
  25. O triunfo da Retidão ( 1Q27)
  26. Oração Litúrgica (1Q34/1Q34bis)
  27. Orações Diárias (4Q503) 
  28. Orações para as Festividades (4Q507-4Q509) 
  29. Os Iníqüos e os Santos (4Q181) 
  30. Os Últimos Dias (4Q174) 
  31. Palavras das Luzes Celestes (4Q504) 
  32. Palavras de Moisés (1Q22) 
  33. Pergaminho de Cobre (3Q15) 
  34. Pergaminho do Templo (11QT) 
  35. Prece de Nabonidus (4QprNab) 
  36. Preceito da Guerra (1QM/4QM) 
  37. Preceito de Damasco (CD) 
  38. Preceito do Messianismo (1QSa) 
  39. Regra da Comunidade (1QS) 
  40. Rito de Purificação (4Q512) 
  41. Salmos Apócrifos (11QPsa) 
  42. Samuel Apócrifo (4Q160) 
  43. Testamento de Amran (4QAm) 
  44. Outros Escritos 
  45. História do Sábio Ahicar 
  46. Livro do Pseudo-Filon 
  47. Evangelho de Judas

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Livros Encontrados em:


Informações do texto em: 

"Os Fatos sobre O Catolicismo Romano", de John Ankerberg & John Weldon, 1999, 2ª edição, Chamada da Meia-Noite.
Contribuição de Raphael Souza de Melo — com Murilo Leite, Roberta Salvatore, Flávio Cardoso, Pamela Camargo de Oliveira, Mara Magalhães, Diego Oliveira e Marlene Paiva.

Somos todos irmãos!

Somos todos irmãos, e, no entanto, a cada manhã, este irmão ou esta irmã fazem para mim os serviços que não desejo fazer. Somos todos irmãos, e, no entanto, preciso a cada dia de charuto, de açúcar, de espelho e de outros objetos em cuja fabricação meus irmãos e minhas irmãs, que são meus semelhantes, sacrificaram e sacrificam sua saúde; e sirvo-me desses objetos, e até os reclamo como meu direito. Somos todos irmãos, e, no entanto, ganho a vida trabalhando num banco, ou numa casa de comércio, num estabelecimento cuja ação final é tornar mais custosas todas as mercadorias necessárias a meus irmãos. Somos todos irmãos, e, no entanto, vivo e sou pago para interrogar, julgar e condenar o ladrão e a prostituta, cuja existência resulta de todo o meu modo de viver e a quem não se deve, como sei, condenar ou punir. Somos todos irmãos, e vivo e sou pago para recolher impostos dos trabalhadores carentes e empregá-los para o bem-estar dos ociosos e dos ricos. Somos todos irmãos, e sou pago para empregar aos homens uma suposta fé cristã, na qual eu mesmo não creio, e que os impede de conhecer a verdadeira fé; recebo salário como padre, como bispo, para enganar os homens nas questões, para eles, mais essenciais. Somos todos irmãos, e eu me preparo para o assassinato; aprendendo a matar, fabrico armas, pólvora, construo fortalezas e por isso sou pago.

(...)

O homem dotado de uma consciência impressionável não pode deixar de não sofrer com tal vida. O único meio para livrar-se desse sofrimento é impor silêncio à própria consciência; mas se alguns conseguem isso, não conseguem impor silêncio a seu medo.
Os homens das classes superiores opressivas, cuja consciência é pouco impressionável ou que aprenderam a fazê-la calar, se não sofrem devido a ela, sofrem com o medo e com o ódio, e não conseguem deixar de sofrer. Conhecem todo o ódio que contra eles nutrem as classes trabalhadoras; não ignoram que os operários são enganados e explorados e que começam a se organizar para combater a opressão e vingar-se dos opressores.


Liev Tosltói - O reino de Deus está em vós

Cântico de Francisco apóstata nos braços de Clara

Louvado sejas, Senhor,
pelo irmão muçulmano que me quer morto,
pelo irmão capitalista que me quer escravo,
pelo irmão comunista que me quer fantoche,
pelo irmão patrão que me quer até não servir,
pelo irmão governante que me quer calado,
pelo irmão colega que me quer pelas costas,
pelo irmão discípulo que me quer ultrapassado,
pelo irmão amigo que me quer quando dá jeito,
pelo irmão camarada que me quer alinhado,
pelo irmão sacerdote que me quer reverente,
pelo irmão lobo que me quer extinto,
pela irmã cobra que me quer mordido,
pelo irmão católico que me quer alienado,
pelo irmão protestante que me quer outro,
pelo irmão ateu que me quer ateu,
pelo irmão desconhecido que me quer incógnito,
pelo irmão idealista que me quer teoria,
pelo irmão marxista que quer peça descartável,
pelo irmão Sol que não sabe que existo,
pelo irmão Senhor que em mim resiste
quando o nego.
Louvado sejas, Senhor, pelas tuas criaturas
que não aturas
nas tuas inalcançáveis transcendentes alturas.
Obrigado,
Senhor,
pelo amor fraternal. Menos mal, Senhor,
Obrigado pelo irmão Eu,
Entre o agnóstico e o ateu,
que te agradece porque não és meu
Nem eu sou teu.
Graças a ti, Senhor,
Dei-me a uma criatura que me atura,
apesar da sua inalcançável transcendente altura.
Obrigado, Senhor, por me teres dado
ao paciente irmão verdugo que se chama Amor,
antes de retornar irmãmente aos braços do Criador.


Meu irmão Manuel Anástacio, o Venturoso

Oração

Estava Jesus em certo lugar orando e, quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos.
E ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra, como no céu.

dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano;
e perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos deixes entrar em tentação, [mas livra-nos do mal.]
Disse-lhes também: Se um de vós tiver um amigo, e se for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães,
pois que um amigo meu, estando em viagem, chegou a minha casa, e não tenho o que lhe oferecer;
e se ele, de dentro, responder: Não me incomodes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para te atender;
digo-vos que, ainda que se levante para lhos dar por ser seu amigo, todavia, por causa da sua importunação, se levantará e lhe dará quantos pães ele precisar.
Pelo que eu vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á;
pois todo o que pede, recebe; e quem busca acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á.
E qual o pai dentre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente?
Ou, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião?
Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?


(Lucas 11:1-13)

Quando aprendi que Deus, ao invés de intervir diretamente, participa; ao invés de manipular a dor, comunga dela; me vi na situação de que 99,9% das minhas orações deveriam ser reformuladas. Uma vez que elas seriam petições que seriam realizadas, obviamente, por intervenção, me peguei numa situação em que não sabia mais como orar, nem o que dizer ao orar. Isso me levantou uma dúvida: "Será que minha conversa com Deus é tão limitada a petições que quando percebo que elas não são bem a razão da oração fico sem ter o que dizer?" É como não saber conversar com um garçom porque tudo que eu sei é pedir coisas a ele.

Mas como dizer isso depois de o próprio Cristo ter ensinado a orar dessa forma? Os discípulos pedem a Cristo que lhes ensine a orar, e Cristo nos apresenta a famosa oração do Pai Nosso carregada com seis petições.

Não quero dizer que essa forma de orar está errada, mas não me sinto confortável com ela. Eu não me sinto bem se eu for a casa de um amigo para conversar com ele e a conversa girar em torno de coisas que eu quero que ele faça pra mim. Ou vice versa.

Percebi que minhas orações (todas elas) giravam em torno de pedidos. Tudo que eu fazia era "ligar" pra Deus e ditar meus pedidos a fim de que Ele os anotasse com cuidado pra não esquecer de nenhum. E eu me pergunto: Que tipo de conversa é essa? A oração deveria ser uma conversa com o objetivo de compartilhar minha vida com Deus, não? 

Por que não falo com Deus sobre como foi meu dia, como estou me sentindo? Por que não conto as novidades da minha vida? Por que não falo sobre o filme que eu vi no cinema e gostei (ou odiei)? Por que não falo com Deus sobre o tempero novo na comida do almoço? Por que não compartilho com ele meus sonhos, desejos, objetivos? Por que tudo que eu faço é pedir para que Ele realize tudo que eu quero? Por que minha oração é tão mesquinha a ponto de, se eu tirar os pedidos, fico sem assunto?  

Não estou dizendo que você deve parar de orar, ou estou dizendo que você não deve pedir nada a Deus, não é isso! Eu só quero chamar a atenção para o que se tornou nossa oração. Ela é uma conversa com Deus ou um pedido a um garço super poderoso?

"Mas, Eliab, o próprio Cristo nos ensinou assim! 'Pedi, e dar-se-vos-á.' Ele nos ensinou nessa mesma passagem que você colocou no início da postagem que se formos insistentes, Deus vai atender a todos os nossos pedidos".

Eu sei o que Ele disse. Mas me responde uma coisa: É esse o tipo de conversa que você quer estipular com Deus? É assim que você quer investir seu tempo com Ele? Não estou dizendo que você deva parar de pedir, só estou dizendo para que nossas orações deixaram de ser (ou nunca foram) um diálogo entre amigos, mas um encontro com um gênio da lâmpada.

Faça um teste: Ao orar, tente pontuar tudo que você pede a Deus. No fim da oração, tente refazê-la para si mesmo só que dessa vez sem as petições. O que sobrou? ("Deus (...) amém!")?

Cristo disse que tudo que eu pedir com insistência Deus me dará por causa da minha importunação. Ok! Mas eu escolho a conversa no lugar dos pedidos. Eu escolho um Deus amigo no lugar de um Deus garçom. Eu escolho conversar com Deus sobre meu dia, sobre meu trabalho, minha família, escolho falar sobre meus projetos, minhas frustrações, minhas dúvidas. Eu quero falar sobre um novo amigo, sobre um pensamento que me incomodou, eu quero falar sobre uma decepção, sobre o novo artigo que estou pra escrever. 

Penso que minha oração a Deus deve ser exatamente como a conversa que tenho com um amigo ou um familiar. Deve ser contando a Ele sobre minha vida. Um diálogo de conhecimento mútuo. Você pode dizer: "Mas Deus já sabe como é sua vida. Ele sabe de tudo." Bem, se isso for verdade, então Ele também sabe de tudo que você precisa, então você não precisa pedir. E não me venha com aquela resposta pronta que diz: "Deus sabe o que você precisa, mas Ele precisa que você diga." Por favor, troca o disco!

Acredito que o que nos impede de orar dessa forma é a ideia absurda que nós geralmente temos de Deus. Toda aquela coisa de santidade, perfeição, "vós", "ouça o que eu digo, varão", ou de que devemos nos comportar de maneira apropriada na presença de Deus, e blá, blá, blá... 

Você pode dizer que estou exagerando. Mas façamos outro teste: Se você faz parte de alguma igreja, observe seu comportamento com seus amigos numa roda de conversa e analise o que acontece quando o pastor ou padre senta com vocês. O clima mudou? As palavras também? E o assunto? 

Cara, se você não tem liberdade ou intimidade o suficiente pra falar com seu líder espiritual assim como fala com um amigo, que dizer da sua conversa com Deus? Uma vez que você, provavelmente, tem toda uma imagem de um Deus santarrão, tipo robozinho, barba branca, cajado e toda aquela seriedade, você deve, sem dúvida, enxergá-lo como mais perfeito do que seu líder. Se você muda seu comportamento diante do seu líder espiritual, quer dizer diante de Deus como toda essa definição que você tem dEle? 



Não conversamos com Deus como conversamos com um amigo porque não O vemos como um amigo!


"Deus é nosso empregado. Seu trabalho é nos servir. Nossas orações são seu salário!"
(Marge Simpson, em um dos episódio de Os Simpsons)


Mas uma dúvida fica no ar: Se eu digo que Deus não intervém diretamente, que ao invés de manipular a dor, sofre junto; e Cristo diz que Ele atende aos pedidos feitos com insistência, como Ele faz isso? Porque uma vez que Ele não intervém diretamente, como Ele poderia atender as petições feitas por nós?

A resposta é simples! Através da(s) manifestação(ões) dEle na Terra. Se eu peço ajuda a Deus, Ele vai me atender através do meu próximo. Não com um truque de mágica. Se eu peço saúde, há médicos. Se peço sabedoria, há escritores, professores e amigos que Deus pode usar para atender meu pedido. Se peço paciência ele pode me atender através da música, poesia, viagem, paisagens. Se peço comida, ele pode me atender através do vizinho que lembrou de mim na hora da refeição. Se estou machucado, Ele cuida de mim através do Bom Samaritano. Se meu barco está afundando e peço ajuda, Ele me salva através do cara que estava dormindo num canto do barco. Se eu peço pra ressuscitar meu irmão que morreu, Ele se manifesta através do cara que chorou ao chegar no túmulo. Se acabou o vinho, Ele transforma água em vinho através do cara que acabou de chegar na festa.

Não são truques de mágica, são meios pelos quais Deus se utiliza para agir em nosso mundo.


Certa vez um homem estava se afogando depois que seu barco afundou em alto mar. Ele orou a Deus pedindo ajuda. Cinco minutos depois um pescador, que ouviu seus gritos, se aproximou com um barco para ajudá-lo. Ele disse: "Não! Vá embora! Deus vai me salvar." E o homem se foi. Mais cinco minutos depois outro pescador foi ajudá-lo. Ele disse: "Vá embora! Não precisa me ajudar. Eu orei e Deus vai me salvar." E o pescador voltou a praia. Se passaram mais cinco minutos e um navio de pesca o encontrou em meio aos destroços do seu barco destruído. Os pescadores jogaram uma rede para pegá-lo. Ele fugiu da rede e mandou que os homens fossem embora porque Deus o salvaria. E os homens se foram. O náufrago cansou de gritar e nadar e acabou morrendo afogado. Quando chegou ao céu, foi direto reclamar com Deus por não tê-lo salvado. Deus respondeu: "Ora, na verdade, eu tentei te salvar três vezes e você recusou todas!"


Abraço,
Eliab Alves Pereira