Dizer Deus é amor

Faz-se malabarismo com o texto bíblico. Usam-se versículos para tudo. Capítulos servem, ao mesmo tempo, para abençoar a guerra e semear a paz. Nada como um texto canônico para validar mecanismos opressores que perpetuam a pobreza. Como a sagrada Escritura já serviu para acalmar a revolta dos excluídos!

Um dos textos mais usados, celebrados e repetidos da Bíblia é o capitulo 13 da primeira epístola aos Corintios. Talvez tão celebrado por tratar do amor. Declamado em casamentos. Musicado por diferentes artistas. Seus 13 versículos valem até como cartilha de auto ajuda: “Como aprender a amar bem”.

Geralmente, os três primeiros versículos servem para explicar que amor é mais nobre que dogma, carisma e desempenho religioso:

“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me valerá”.

A partir do versículo 4, Paulo descreve alguns atributos do amor. Sua descrição é nobre:

“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.

Belíssimo! repetem até os não religiosos. Acontece que a lista não é receita. Deus é descrito como essencialmente amor. Sendo assim falar de amor é também falar de Deus.

É possível projetar o pensamento de Paulo sobre o amor na percepção de quem Deus é. Se Deus é amor e o amor tudo sofre – Deus sofre. Se Deus é amor e o amor tudo crê – a existência humana é fruto de um acreditar divino. Se Deus é amor e o amor tudo espera – Deus então espera, aguarda, pacientemente por respostas humanas. Se Deus é amor e o amor tudo suporta – o sofrimento que se universalizou produz uma dor incalculável no coração de Deus.

Infelizmente a cristandade ocidental preferiu compreender Deus a partir da onipotência. Caso tivesse prestado mais atenção ao que a revelação do amor indica, com certeza haveria menos ateus no mundo.

Nunca é preciso hesitar: o amor é simultaneamente frágil e avassalador. Jesus chorou sobre a impenitente Jerusalém. Lamentou a partida de um jovem rico. E contou uma parábola usando a figura de um pai abandonado pelo filho para revelar os sentimentos divinos. O amor que vulnerabiliza também salva.

O que é atrativo em Cristo? Que não sejam as descrições de sua majestade, mas de sua humildade. Sua glória foi revelada na cruz em não em tronos; no perdão e não em vingança. O texto diz peremptoriamente que o Pai lhe deu um nome que está acima de todos os nomes porque jamais cobiçou poder, mas viveu para servir. Depois de ressuscitado Jesus não procurou esmagar seus algozes. Para sempre se manteve como cordeiro.

O Deus encarnado expressou, com mansidão e humildade, que não há outra maneira de perceber Deus senão na ternura e na mansidão.

Qualquer deus que tente se impor através do poder ou com apelos mágicos não passa de um ídolo.

Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor. Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele… No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo“. [1João 4:16]



Soli Deo Gloria
Ricardo Gondim 

Hoje tem mais!


Isto aconteceu quando Jesus revelava sua doutrina aos homens


Leo Tolstoi
I
Isto aconteceu quando Jesus revelava sua doutrina aos homens.
Seu ensino era tão claro, tão fácil de seguir e salvava os homens do mal de forma tão evidente que parecia impossível que não fosse aceito, ou que algo impedisse a sua disseminação.
Belzebu, pai e soberano de todos os demônios, ficou apreensivo. Ele via claramente que seu poder sobre os homens terminaria para sempre, a não ser que Jesus renunciasse ao seu ensino. Ficou apreensivo mas não perdeu as esperanças, e incitou os escribas e fariseus, seus obedientes servos, a que insultassem e atormentassem Jesus o máximo que pudessem, e aconselhou os discípulos de Jesus a que fugissem e o abandonassem. Ele esperava que a condenação a uma execução vergonhosa, a humilhação e o abandono por parte de todos os seus discípulos, e finalmente o sofrimento e a condenação em si, levariam Cristo a renunciar ao seu ensino no último momento, e que essa renúncia destruísse todo o seu poder.
A questão foi decidida na cruz. Quando Cristo exclamou: “Meu Deus, Meu Deus, por que me desemparaste?”, Belzebu exultou. Tomou os grilhões que tinha preparado para Jesus e experimentou-os em suas próprias pernas, ajustando-as de modo a que não se soltassem quando colocadas em Jesus.
De repente, no entanto, ouviram-se da cruz as seguintes palavras:
– Pai, perdoe-os porque eles não sabem o que fazem.
Depois disso Cristo exclamou: “Está consumado!” e entregou o espírito.
BELZEBU COMPREENDEU QUE TUDO ESTAVA PERDIDO.
Belzebu compreendeu que tudo estava perdido. Tentou libertar as pernas dos grilhões e fugir, mas não conseguiu sair do lugar. Os grilhões haviam se soldado a ele, e atavam seus próprios membros.
Tentou usar suas asas, mas não conseguiu estendê-las. E Belzebu viu como Cristo apareceu nos portões do inferno com uma auréola de luz, e como os pecadores, de Adão a Judas, saíram, e como os diabos fugiram, e como os próprios muros do inferno desabaram em silêncio em todas as quatro laterais. Incapaz de suportar mais disso, caiu pelo assoalho despedaçado, com um grito lancinante, para as regiões inferiores.


Trezentos anos se passaram


II
Cem anos, duzentos anos, trezentos anos se passaram.
Belzebu não contava o tempo. Ao seu redor o que havia era negra escuridão e silêncio completo. Ele jazia imóvel e tentava não pensar no que havia acontecido, mas pensava assim mesmo, e odiava impotentemente aquele que havia ocasionado a sua queda.
Mas de repente – ele não recordava ou não sabia quantas centenas de anos haviam transcorrido – ouviu acima de si sons que lembravam passos, gemidos, gritos e ranger de dentes.
Belzebu ergueu a cabeça e começou a ouvir.
Que o inferno pudesse ser restabelecido depois da vitória de Cristo era incrível demais para ele acreditar, mas os passos, os gemidos, os gritos e o ranger de dentes soavam cada vez mais nítidos.
Ele ergueu o corpo e pôs-se de pé com suas pernas hirsutas e seus cascos crescidos pela falta de uso (para sua perplexidade os grilhões caíram por si mesmos) e, batendo livremente as asas estendidas, deu o assobio pelo qual costumava convocar seus servos e assistentes para junto de si.
Antes que ele pudesse dar o fôlego seguinte uma abertura surgiu acima da sua cabeça, chamas rubras feriram-lhe a vista e uma multidão de diabos, empurrando uns aos outros, desceram pela abertura para aquela região inferior e acomodaram-se ao redor de Belzebu como urubus ao redor de carniça.
Havia diabos grandes e diabos pequenos, diabos gordos e diabos magros, diabos com rabos compridos e diabos com rabos curtos, diabos com chifres pontudos, diabos com chifres retos e diabos com chifres curvos.
Um diabo de um negro reluzente, nu exceto pela capa atirada sobre os ombros, com um rosto redondo sem pelos e uma enorme pança saliente, agachou-se diante do rosto do próprio Belzebu e, rolando os olhos para cima e para baixo, sorria sem cessar, balançando a comprida cauda de modo ritmado, de um lado para o outro.



Que barulho é esse?

III
– Que barulho é esse? – perguntou Belzebu, apontando para o alto. – O que está acontecendo lá em cima?
– Só o que costumava sempre acontecer – respondeu o diabo reluzente de capa.
– Quer dizer que temos mesmo uns novos pecadores? – quis saber Belzebu.
– Muitos – explicou o reluzente.
– Mas que é do ensino daquele de quem não quero dizer o nome? – perguntou Belzebu.
O diabo de capa deu um sorriso que revelou seus dentes pontiagudos, enquanto risadas abafadas ouviam-se entre todos os outros demônios.
– Esse ensino não nos atrapalha de modo algum. As pessoas não acreditam nele – disse o diabo de capa.
– Mas é evidente que esse ensino salvou-as de nós, e isso ele selou pela sua morte – disse Belzebu.
– Mudei tudo isso – disse o diabo de capa, batendo rápido com a cauda no chão.
– O que você fez?
– Consegui que as pessoas não acreditem no ensino dele mas no meu, que chamam pelo nome dele.
– E como conseguiu isso? – quis saber Belzebu.
– Aconteceu espontaneamente. Só dei uma ajudinha.
“PASSEI A SUGERIR QUE AQUELE DESACORDO ERA MUITO IMPORTANTE.”
– Conte resumidamente o que aconteceu – disse Belzebu.
O diabo de capa baixou a cabeça e gastou um intervalo em silêncio, como se ponderasse sem pressa. Em seguida começou a sua história:
– Quando aquela coisa terrível aconteceu, quando o inferno foi derrubado e nosso pai e governante nos deixou – disse ele, – fui aos lugares onde o ensino que quase nos arruinara havia sido pregado. Eu queria ver como viviam as pessoas que colocavam-no em prática, e vi que os que viviam de acordo com aquele ensino eram inteiramente felizes e inteiramente fora do nosso alcance. Eles não se enfureciam uns com os outros, não cediam aos charmes das mulheres, não se casavam e, quando casavam, tinham uma única esposa. Não tinham propriedade privada, mas possuíam tudo em comum; não se defendiam de ataque algum, mas retribuíam o mal com o bem. Sua vida era tão virtuosa que um número cada vez maior de pessoas era atraído para o grupo deles.
– Quando vi isso pensei que tudo estava pedido, e tive vontade de desistir. Mas algo aconteceu, algo que embora insignificante em si mesmo pareceu-me merecer atenção, e permaneci. Entre essas pessoas alguns achavam necessário que todos se circuncidassem e que ninguém comesse a carne que havia sido oferecida aos ídolos, enquanto outros achavam que isso não era essencial; criam que não precisavam ser circuncidados e que podiam comer qualquer coisa. Passei então a sugerir para as pessoas dos dois grupos que aquele desacordo era muito importante, e que como a questão dizia respeito ao serviço de Deus, nenhum dos lados deveria ceder. Eles acreditaram em mim, e suas disputas tornaram-se mais violentas. Gente dos dois lados começou a ceder à raiva, e passei então a instilar em cada um deles que poderiam provar a verdade da sua posição através de milagres. Embora seja evidente que milagres não podem provar a verdade de doutrina alguma, eles estavam tão ansiosos para estarem certos que acreditaram em mim, e providenciei milagres para eles. Isso não foi difícil: eles acreditavam em qualquer coisa que confirmasse o seu desejo de demonstrar que apenas eles estavam certos.
– Alguns diziam que línguas de fogo haviam descido sobre eles; outros afirmavam que tinham visto o próprio corpo ressurreto do seu mestre, e muitas outras coisas. Ficavam inventando coisas que nunca tinham acontecido e, no nome daquele que nos chamou de mentirosos, mentiam não menos do que nós. Um dizia para o outro: “Os seus milagres não são genuínos, os nossos é que são”. E o outro respondia: “Não, os de vocês não são genuínos, os nossos é que são”.
– As coisas estavam indo bem, mas eu tinha medo que, de tão evidente que era, eles pudessem discernir aquele engodo; por isso inventei “A Igreja”. E quando eles acreditaram nA Igreja, fiquei em paz. Entendi que estávamos salvos, e que o inferno havia sido restaurado.



O que é a igreja?

IV
– O que é “a Igreja”? – perguntou Belzebu severamente, relutando em acreditar que seus servos fossem mais espertos do que ele.
– Bom, quando uma pessoa diz uma mentira e teme que não vão acreditar nela, chama sempre Deus por testemunha, e diz: “Por Deus, estou dizendo a verdade!” Isso, em essência, é “a Igreja”, porém com uma peculiaridade: aqueles que reconhecem a si mesmos como sendo “a Igreja” acabam convencidos de que são incapazes de errar, e portanto qualquer besteira que proferem não podem nunca refutar. A Igreja é constituída da seguinte forma: homens asseguram a si mesmos e a outros de que seu mestre, Deus, a fim de assegurar que a lei que revelou aos homens não seja mal interpretada, deu poder a determinados homens que, juntamente com aqueles a quem transferem esse poder, são os únicos capazes de interpretar corretamente o ensino dele. Assim esses homens, que chamam a si mesmos de “Igreja”, consideram-se defensores da verdade não porque pregam o que é verdadeiro, mas porque se consideram os únicos verdadeiros sucessores dos discípulos dos discípulos dos discípulos, até os discípulos do próprio mestre, Deus. Embora esse método, como o dos milagres, tenha a desvantagem de que as pessoas possam afirmar simultaneamente, cada uma por si mesma, serem membros da única Igreja verdadeira (como de fato sempre acontece), tem a vantagem de que tão logo os homens declaram que são a Igreja e desenvolvem sua doutrina com base nessa afirmação, não podem mais renunciar ao que já disseram, por mais absurdo que seja, não importa o que digam as outras pessoas.
A PRÓPRIA POSIÇÃO DELES OBRIGAVA-OS A DISTORCER O ENSINO.
– Mas por que a Igreja distorceu o ensino em nosso favor? – perguntou Belzebu.
– Fizeram isso – prosseguiu o diabo de capa – porque uma vez tendo se declarado os únicos expositores legítimos da lei de Deus, e tendo persuadido os outros disso, tornaram-se os árbitros máximos do destino dos homens e obtiveram portanto o poder máximo. Tendo obtido este poder, ficaram naturalmente orgulhosos e, em sua maior parte, depravados, e deste modo provocaram a indignação e a inimizade de outros contra eles mesmos. E na sua luta contra esses inimigos, não tendo outros meios além de violência, começaram a perseguir, executar e queimar na fogueira todos que não reconheciam a sua autoridade. Portanto a própria posição deles obrigava-os a distorcer o ensino, de modo a justificar tanto suas vidas perversas quanto a crueldade empregada contra os seus inimigos. E foi exatamente isso que fizeram.



Continuação...

Mas o ensino era tão claro


V
– Mas o ensino era tão simples e claro – disse Belzebu, ainda relutando em acreditar que seus servos tivessem feito o que não lhe ocorrera fazer. – Era impossível interpretá-lo de forma errada. “Façais aos outros o que quereis que vos façam!” Como distorcer isso?
– Bem, aconselhados por mim eles utilizaram diversos métodos – respondeu o diabo de capa. – Os homens contam a história de um mágico bom que salvou uma pessoa de um mágico perverso transformando a pessoa num minúsculo grão de trigo; o mágico mau, tendo se transformando num galo, estava prestes a bicar o grãozinho, mas o mágico bom esvaziou uma saca de trigo sobre ele. O mágico mau não tinha como comer todo o trigo, pelo que não conseguiu encontrar o único grão que desejava. Foi isto que a conselho meu fizeram com o ensino daquele que ensinava que a lei consiste em fazer aos outros o que desejamos que façam a nós. Eles aceitaram sessenta e seis livros diferentes como sendo a exposição sagrada da lei de Deus, e declararam que cada palavra desses livros era produção de Deus, o Espírito Santo. Sobre o simples e facilmente compreensível eles derramaram tamanha coleção de verdades pseudo-sacras que tornou-se impossível, por um lado, aceitá-las todas, e por outro encontrar entre elas a única verdade necessária para o homem.
– Este foi o primeiro método. O segundo, que usaram com sucesso por mais de mil anos, consistiu simplesmente em matar e queimar qualquer pessoa que desejasse revelar a verdade. Este método está entrando agora em desuso, mas eles não o abandonam por completo; embora não queimem os que expõem a verdade, caluniam-nos e envenenam as suas vidas de tal forma que são poucos os que arriscam desmascará-los.
– Este foi o segundo método. O terceiro é que, sustentando serem eles mesmos a Igreja e portanto infalíveis, eles ensinam simplesmente, e quando lhes convém, o contrário do que dizem as Escrituras, deixando para seus discípulos extraírem eles mesmos, a partir dessas contradições, o que puderem e o que lhes agrade. Por exemplo, se as Escrituras dizem: “A ninguém na terra chameis de vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo”, eles dizem: “Nós apenas somos os pais, e nós apenas somos os mestres dos homens”. Foi dito: “Tu, quando orares, faze-o em oculto, e Deus te ouvirá”, mas eles ensinam que os homens devem orar em igrejas, na companhia de outros, com cântico e música. As Escrituras dizem: “De maneira nenhuma jureis”, mas eles afirmam que é necessário jurar obediência implícita às autoridades qualquer que seja a demanda delas. Foi dito: “Não matarás”, mas eles ensinam que podemos e devemos matar, em conformidade com a lei. Foi dito: “Meu ensino é espírito e vida. Alimentai-vos dele como que de pão”, mas eles ensinam que se pedacinhos de pão forem molhados em vinho e certas palavras forem proferidas sobre eles, esses pedacinhos de pão tornam-se carne e o vinho torna-se sangue, e que comer este pão e beber este vinho é muito proveitoso para a salvação da alma. As pessoas acreditam nisso e comem obedientemente esses bocados molhados de pão, e depois quando caem nas nossas mãos ficam perplexos de que os bocados não os tenham ajudado.
E o diabo de capa, rolando os olhos e virando as órbitas para cima, sorriu de orelha a orelha.
– Isso é excelente – disse Belzebu, e sorriu. E todos os diabos caíram na risada.



A restauração do Inferno
Leo Tolstoi

Muito fácil ou difícil demais?

Refletimos sobre a ideia cristã de "revestir-se de Cristo", ou, antes, de "se vestir" como filho de Deus com o intuito de, no final, tornar-se um verdadeiro filho de Deus. O que gostaria de deixar claro é que esse não é somente um entre muitos trabalhos que um cristão tem a fazer; e não se trata de um tipo de exercício especial para uma classe superior. Isso é o cristianismo autêntico. O cristianismo não oferece mais nada além disso.

O caminho cristão é diferente: é mais difícil e, ao mesmo tempo, mais fácil. Cristo diz: "Entregue-me tudo. Não quero um pouco do seu tempo, um pouco do seu dinheiro e um pouco do seu trabalho; eu quero você. Não vim para atormentar o seu "eu" natural, mas para matá-lo. Meias medidas são inúteis. Não quero podar um ramo aqui e outro ali, quero é derrubar a árvore toda. Não quero drenar o dente, colocar uma coroa nele, ou obturá-lo; eu quero é arrancá-lo. Entregue todo o eu natural, todos os desejos que você considera inocentes, bem como aqueles que você considera maus - todo o aparato. Eu lhe darei em troca um novo eu. Na verdade, o que eu lhe darei é a mim mesmo; minha própria vontade se tornará a sua".

Isso é ao mesmo tempo mais fácil e mais difícil do que o que todos nós tentamos fazer. Espero que você tenha percebido que Cristo muitas vezes descreve o caminho cristão como algo muito difícil, e outras vezes como algo bem fácil. Ele diz: "Tome a sua cruz" - em outras palavras, é como ser surrado até a morte num campo de concentração. No minuto seguinte ele diz: "Meu jugo é suave e meu fardo é leve". E ele está querendo dizer as duas coisas.




de Cristianismo Puro e Simples
(C.S. Lewis)

O mais difícil é o mais fácil

Pergunte aos professores se não é verdade que o aluno mais preguiçoso da classe é o que acaba trabalhando mais no final. O que eles querem dizer é isso: se você propuser a dois alunos, por exemplo, um problema de geometria, o que está preparado para assumir o problema, tentará entendê-lo. O garoto preguiçoso tentará decorá-lo, porque isso exige menos esforço naquele momento. Porém, seis meses depois, quando eles estiverem se preparando para as provas, o preguiçoso gastará horas e horas tentando entender o que o outro aluno já havia entendido. No final das contas, a preguiça significa mais trabalho. Ou então, olhe as coisas por esse lado: na batalha ou na escalada de uma montanha, geralmente há um movimento que exige muita coragem para ser realizado; mas, a longo prazo, é também a coisa mais segura a ser feita. Se você for covarde, acabará se encontrando, algumas horas mais tarde, em perigo ainda maior. A opção pela covardia é também a mais perigosa.

É o que está acontecendo aqui. A coisa mais temível, quase impossível de se fazer, é entregar todo o seu eu, todos os seus desejos e precauções, a Cristo. Porém, é bem mais fácil do que o que estamos tentando fazer em vez disso. O que estamos tentando fazer é permanecer no que chamamos de "nós mesmos", mantendo a felicidade pessoal como o nosso grande objetivo de vida, e ainda assim, ao mesmo tempo, ser "bons". Estamos todos tentando deixar a nossa mente e o nosso coração andarem pelos próprios caminhos - centrados no dinheiro, no prazer ou na ambição - e esperando, apesar disso, comportar-se de forma honesta, pura e humilde. E é exatamente isso o que Cristo nos disse que não podemos fazer. Como ele mesmo disse, um cardo não pode produzir figos. Se eu sou um campo que não contém nada, a não ser sementes de grama, não posso esperar produzir trigo. Cortar a grama pode até mantê-la baixa, mas eu continuarei produzindo grama, e não trigo. Se eu quero produzir trigo, a mudança deve ser mais profunda. Devo ser arrancado e re-plantado.




C.S. Lewis

A canção das mágoas

Lá fora o céu chora. Talvez por perder suas delicadas gotas d`água para uma terra seca de amor. 

Dá pra perceber no estalar dos pingos.

Eles gritam!

Toda grande tempestade começa com uma gota!

O céu chora, os pingos gritam, e a maioria das pessoas está dormindo. A canção das mágoas não incomoda os dormentes. O silêncio do sono tapa os ouvidos para não ouvir o clamor lá fora. Pingo a pingo a sintonia é formada dando ritmo a mudez da noite chuvosa.

Da noite que o céu chora. E os homens dormem.

Noite de chuva serve para lembrar que falta algo. O vento frio traz melancolia do horizonte escuro. E junto com ele vem a sensação de saudade, de que precisamos estar com alguém para esquentar o corpo. O que falta é quem faz a terra ser fértil; é quem cessaria o choro do céu; quem faria os pingos se calarem; é quem acordaria os homens.

O que falta é amor como ele é. Não como frases e desejos, não como sentimentos ou necessidades, mas de forma sincera, prática, independente de afetividade, distância e aparência. O que falta, nas noites de chuva, é amor por amar. Lembrar do outro não como objeto de auto satisfação, mas como o outro que também tem frio, que também está só, que também acordou com o choro dos pingos. 

Quem falta pra acabar com a solidão trazida pela chuva é o amor plantado, praticado, semeado. Aquele que cresce com as lágrimas do céu. Aquele que faz os gritos dos pingos de chuva se transformarem em louvores. Aquele que abre um sorriso no céu com raios e espera que ele grite com trovões, trovões que acordam os homens, homens que escrevem cânticos, que olham pela janela e vêem, no meio da escuridão, a claridade da nova colheita.

E o jardim brotará depois de uma tempestade durante a noite. Tempestade que acordou os homens para verem as mudanças. Os gritos lacrimais do céu e da chuva em um deserto de desamor transformam-se em cânticos e ritmos de dança em um jardim cultivado pelo choro dos que estavam acordados enquanto a maioria dormia.

Todo belo jardim já passou uma noite na chuva.

Que esse jardim não seja desmatado assim como os outros. Se for, ao morrer, ele ceifará o homem. Ele destruirá seu destruidor. Ele porá fim aos doentes que dormem, aos que não cuidaram dele. Esse jardim será cultivado na alma do homem. Se destruído, destruirá seu jardineiro infiel. 

Que aprendamos a cultivar nossa alma, plantar em outros jardins e germinar nosso eu no outro. Assim, toda chuva é motivo para dançar, toda gota alimentará uma semente, e todo homem acordará para semear. Semeando o amor, semeando seu eu no próximo. Toda chuva alimentará isso. E os gritos das gotas, o choro do céu e a dormência dos homens não passarão de sonhos ruins numa noite fria.

No fim, todos perceberão que uma grande tempestade é necessária para despertar grandes homens.



Abraço,
Eliab Alves Pereira



Rumores selvagens

O que o homem não possui em sua condição natural, é a vida espiritual - a espécie mais elevada e diferente de vida existente em Deus. Nós usamos a palavra vida para ambas. Porém, ao pensar que são a mesma coisa seria como achar que a "grandeza" do espaço fosse igual a "grandeza" de Deus. Na realidade, a diferença entre a vida biológica e a espiritual é tão importante que eu lhes darei dois nomes distintos. A vida biológica que recebemos pela natureza, e que (como todas as coisas da natureza) está sempre tendendo à decadência, de modo que só pode ser preservada por meios de subsídios constantes da própria natureza na forma de ar, água, comida, etc., eu chamo de Bios. A vida espiritual que se encontra em Deus desde toda a eternidade, e que fez todo o universo natural, dou o nome de Zoe. Certamente Bios tem certa uma semelhança longínqua e simbólica com Zoe - o mesmo tipo de semelhança que há entre uma foto e um lugar, ou entre uma estátua e uma pessoa. Uma pessoa que tenha passado de Bios para Zoe passou por uma mudança tão grande quanto uma estátua que tivesse deixado de ser pedra esculpida para se tornar um ser humano real.

E isso é precisamente o que é o cristianismo. Este mundo é o ateliê de um grande escultor. Nós somos as estátuas e há rumores no ateliê de que alguns de nós, um dia, vamos receber vida.



C.S. Lewis

O Bom Travesti

E perguntaram a Jesus: “Quem é o meu próximo?“ E ele lhes contou a seguinte parábola: 

Voltava para sua casa, de madrugada, caminhando por uma rua escura, um garçom que trabalhara até tarde num restaurante. Ia cansado e triste. A vida de garçom é muito dura, trabalha-se muito e ganha-se pouco. Naquela mesma rua dois assaltantes estavam de tocaia, à espera de uma vítima. Vendo o homem assim tão indefeso saltaram sobre ele com armas na mão e disseram: “Vá passando a carteira“. O garçom não resistiu. Deu-lhes a carteira. Mas o dinheiro era pouco e por isso, por ter tão pouco dinheiro na carteira, os assaltantes o espancaram brutalmente, deixando-o desacordado no chão. Às primeiras horas da manhã passava por aquela mesma rua um padre no seu carro, a caminho da igreja onde celebraria a missa. Vendo aquele homem caído, ele se compadeceu, parou o caro, foi até ele e o consolou com palavras religiosas: “Meu irmão, é assim mesmo. Esse mundo é um vale de lágrimas. Mas console-se: Jesus Cristo sofreu mais que você.“ Ditas estas palavras ele o benzeu com o sinal da cruz e fez-lhe um gesto sacerdotal de absolvição de pecados: “Ego te absolvo...“ Levantou-se então, voltou para o carro e guiou para a missa, feliz por ter consolado aquele homem com as palavras da religião. 

Passados alguns minutos, passava por aquela mesma rua um pastor evangélico, a caminho da sua igreja, onde iria dirigir uma reunião de oração matutina. Vendo o homem caído, que nesse momento se mexia e gemia, parou o seu carro, desceu, foi até ele e lhe perguntou, baixinho: “Você já tem Cristo no seu coração? Isso que lhe aconteceu foi enviado por Deus! Tudo o que acontece é pela vontade de Deus! Você não vai à igreja. Pois, por meio dessa provação, Deus o está chamando ao arrependimento. Sem Cristo no coração sua alma irá para o inferno. Arrependa-se dos seus pecados. Aceite Cristo como seu salvador e seus problemas serão resolvidos!“ O homem gemeu mais uma vez e o pastor interpretou o seu gemido como a aceitação do Cristo no coração. Disse, então, “aleluia!“ e voltou para o carro feliz por Deus lhe ter permitido salvar mais uma alma. 

Uma hora depois passava por aquela rua um líder espírita que, vendo o homem caído, aproximou-se dele e lhe disse: “Isso que lhe aconteceu não aconteceu por acidente. Nada acontece por acidente. A vida humana é regida pela lei do karma: as dívidas que se contraem numa encarnação têm de ser pagas na outra. Você está pagando por algo que você fez numa encarnação passada. Pode ser, mesmo, que você tenha feito a alguém aquilo que os ladrões lhe fizeram. Mas agora sua dívida está paga. Seja, portanto, agradecido aos ladrões: eles lhe fizeram um bem. Seu espírito está agora livre dessa dívida e você poderá continuar a evoluir.“ Colocou suas mãos na cabeça do ferido, deu-lhe um passe, levantou-se, voltou para o carro, maravilhado da justiça da lei do karma. 

O sol já ia alto quanto por ali passou um travesti, cabelo louro, brincos nas orelhas, pulseiras nos braços, boca pintada de batom. Vendo o homem caído, parou sua motocicleta, foi até ele e sem dizer uma única palavra tomou-o nos seus braços, colocou-o na motocicleta e o levou para o pronto socorro de um hospital, entregando-o aos cuidados médicos. E enquanto os médicos e enfermeiras estavam distraídos, tirou do seu próprio bolso todo o dinheiro que tinha e o colocou no bolso do homem ferido. 

Terminada a estória, Jesus se voltou para seus ouvintes. Eles o olhavam com ódio. Jesus os olhou com amor e lhes perguntou: “Quem foi o próximo do homem ferido?“ 



(Correio Popular, 21 de julho de 2002)

Série de Encontros sobre PERDÃO



Ei, se liga só nas informações adicionais para não ficar por fora dos encontros:

Sobre o transporte: Nós iremos providenciar os transportes para levar todo mundo até lá. Se alguém tem carro e deseja ajudar levando algumas pessoas, sua ajuda será muito bem vinda.
Ponto de encontro: Estaremos saindo 30 minutos antes do horário marcado para cada dia. Nosso ponto de encontro é a Praça do Centro de Goianinha (aquela em frente a Igreja Católica). Não esqueça: SAIREMOS 30 minutos antes do horário marcado. No dia 26 sairemos às 17h30; No dia 27, às 17h30 e no dia 28, às 16h30. Não se atrase ou perderá o transporte.

Alimentação: No dia 26 a ideia é compartilhar alimentos de diversos tipos. Cada um leva o que achar necessário e suficiente para compartilhar: Salgados, Doces, Refrigerantes, etc. Não vamos estipular uma quantidade ou quais alimentos serão. Cabe a cada um decidir e pensar no próximo antes de fazer sua escolha. 
No dia 27, a ideia é fazer uma sorvetada. Então, para não haver muita mistura de sorvetes, sabores, etc., achamos melhor que cada um de nós deve contribuir com um valor para que a equipe de organização compre os sorvetes e se encarregue de levar até o local.
No dia 28, iremos fazer um churrasco. A proposta é que, assim como no dia da sorvetada, cada um de nós deve contribuir com um valor para a compra da carne, refrigerante, material, etc.

Nós estipulamos um valor de R$ 10,00. Se cada participante contribuir com essa quantia, conseguiremos comprar os sorvetes e fazer o churrasco.

Não esqueça, você tem bastante tempo para se organizar e deixar tudo pronto para ir aos encontros. Não vai deixar tudo pra última hora, não é?

Precisamos que você confirme presença até o dia 22 de Julho (é um domingo). O pagamento também será até o dia 22 (sem mais). Você pode confirmar sua presença deixando um comentário aqui. Quanto ao dinheiro, você entra em contato com Eliab (084) 9110-5204 ou (084) 9908-3221 e resolve com ele.

Se tiver alguma dúvida é só comentar que responderemos assim que der. 
Se esquecemos de comentar sobre alguma coisa a mais e lembrarmos depois, voltaremos pra atualizar.