O fazedor de amanhecer

Sou leso em tratagens com máquina.
Tenho desapetite para inventar coisas
prestáveis.
Em toda a minha vida só engenhei
3 máquinas
Como sejam:
Uma pequena manivela para pegar no sono
Um fazedor de amanhecer
para usamentos de poetas
E um platinado de mandioca para o
fordeco de meu irmão.
Cheguei de ganhar um prêmio das indústrias
automobilísticas pelo Platinado de Mandioca.
Fui aclamado de idiota pela maioria
das autoridades na entrega do prêmio.
Pelo que fiquei um tanto soberbo.
E a glória entronizou-se para sempre
em minha existência.


[Manoel de Barros]

O menino que carregava água na peneira

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.

A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!


[Manoel de Barros]

Explicação

Mosaicos são obras de arte. São feitos com cacos. Os cacos, em si, não têm beleza alguma. Mas se um artista os ajuntar segundo uma visão de beleza, eles se transformam numa obra de arte.

Músicas são mosaicos de sons. Notas são cacos. Não são nem bonitas e nem feias. Mas se um compositor as organizar numa “frase” elas passam a dizer algo. Transformam-se em temas. Sonatas e sinfonias são feitas com temas entrelaçados.

Também nós somos feitos de cacos. Milan Kundera comparou a vida a uma partitura musical. “O ser humano, guiado pelo sentido da beleza, transpõe o acontecimento fortuito ('o caco') para fazer dele um tema que, em seguida, fará parte da partitura de sua vida. Voltará ao tema repetindo-o, modificando-o, desenvolvendo-o, transpondo-o, como faz um compositor com os temas da sua sonata”. ('A Insustentável Leveza do Ser', p. 58). Somos um mosaico espiral, à semelhança do bolero de Ravel.

As "Escrituras Sagradas" são um livro cheio de cacos. Nelas se encontram poemas, estórias, mitos, pitadas de sabedoria, relatos de acontecimentos, poemas eróticos, eventos sangrentos. Ao ler as "Escrituras" comportamo-nos como um artista que seleciona cacos para construir um mosaico ou como um compositor a compor sua sonata.

Os cacos das "Escrituras Sagradas" existiram por muito tempo como estórias que eram contadas oralmente, antes de serem transformados em textos para serem lidos. O registro escrito dessa tradição oral trouxe uma vantagem: as estórias continuaram a existir mesmo depois da morte do contador de estórias. E trouxe uma desvantagem: transformados em textos escritos perdeu-se a figura do contador de estórias. Com isso os leitores começaram a ler as “estórias” como se fossem “história”.

“História” refere-se a coisas que aconteceram realmente no passado e nunca mais acontecerão, como um jogo de futebol que acontece só uma vez e nunca mais se repete. Mas a parábola do Bom Samaritano nunca aconteceu. Foi uma “estória” contada por um mestre contador de estórias chamado Jesus.

As estórias são contadas no passado mas elas não têm passado. Só têm presente. Estão sempre vivas. Quando as ouvimos ficamos “possuídos”, rimos, choramos, amamos, odiamos — embora elas nunca tivessem acontecido.

O místico Ângelus Silésius escreveu: “Temos dois olhos. Com um vemos as coisas eternas, que permanecem. Com o outro as coisas efêmeras, que desaparecem.” A “história” é criatura do tempo. As “estórias” são emissárias da eternidade.

Muitos são os mosaicos que podem ser feitos com um monte de cacos. Muitas são as músicas que podem ser feitas com as doze notas da escala cromática. Horror, humor, amor, vida, morte, vingança... Tudo depende do coração do artista. Como disse Jesus, o homem bom tira coisas boas do seu bom tesouro; o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro. Coração feio faz mosaicos e músicas feias. Coração bonito faz mosaicos e músicas bonitas. Os mosaicos e as sonatas são o retrato de quem os fez.

Cada religião é um mosaico, um jeito de ajuntar os cacos. Cada religião é uma sonata: uma rede de temas. Escolhi os cacos de que mais gosto para fazer o meu mosaico, o meu livro de estórias, a minha sonata, o meu altar à beira do abismo.


[Rubem Alves, em "Perguntaram-me se acredito em Deus"]

O Antibuda

Me pergunto se já houve na história sociedade com tão pouco interesse pelo sagrado quanto a nossa; tão pouco pre­o­cu­pada com a vida do espírito, com tanto desprezo pelo imen­su­rá­vel, tão pronta a desprezar os que sentem que essas coisas são essen­ci­ais à vida humana. (Paul Kings­north, em In The Black Chamber)

A grande con­tri­bui­ção das tradições reli­gi­o­sas não está nas ins­ti­tui­ções que geram ou nas suas teologias. Seu valor está consumado nas suas nar­ra­ti­vas: na medida de huma­ni­dade das histórias que contam. O homem comum, se tiver sorte, nunca vai ter de entender os meandros da teologia à qual está afiliada a sua fé. Porém o mais des­pre­ten­si­oso dos homens pode ter, e fre­quen­te­mente tem, a vida desarmada pelo caráter humano de uma grande história. A teologia quer nos ensinar a ser gente admirável; uma história pode nos ensinar a quem admirar – e não há herança mais delicada e mais rara.

É o que ganharam as gerações que pausaram diante da história de Sidarta, da família Gautama, que nasceu no atual Nepal coisa de 500 anos antes de Jesus. Sidarta Gautama, diz a história, era um príncipe. Seu pai, querendo prepará-lo para ser um grande monarca, manteve desde o nas­ci­mento o filho recluso no palácio, vivendo rega­la­da­mente e longe de tudo que pudesse despertar nele a cons­ci­ên­cia do aspecto trágico da vida.

O príncipe viveu vinte e nove anos desse modo, sem tes­te­mu­nhar sofri­mento, enfer­mi­dade ou morte, entre gente paga pelo pai para viver como se os recursos da vida fossem ines­go­tá­veis. O que salvou Sidarta dessa exis­tên­cia entor­pe­cente foi uma escapada de carruagem para fora do palácio. No caminho o príncipe encontrou um homem velho. “Todos as criaturas enve­lhe­cem”, explicou seu cocheiro, diante da per­ple­xi­dade do príncipe. Encon­tra­ram um homem sofrendo de uma enfer­mi­dade. “Todas as criaturas estão sujeitas à doença e à dor”, explicou o cocheiro. Encon­tra­ram um corpo em decom­po­si­ção. “A morte sobrevêm a todos”, explicou o cocheiro.

Encon­tra­ram por fim um asceta, e nessa figura o príncipe encontrou quem admirar. Com a ajuda do cocheiro, Sidarta escapou do palácio enquanto os guardas dormiam e passou a viver como asceta men­di­cante. Submeteu-se com seus segui­do­res a privações cada vez maiores, até desmaiar de exaustão enquanto se banhava no rio e entender que o ascetismo extremo não era a resposta para o dilema do sofri­mento. Ele intuiu que não era sábio recorrer aos extremos: sem forças e faminto, aceitou o arroz-com-leite que veio lhe oferecer uma jovem. Então, com 35 anos, sentado sob uma figueira, Sidarta alcançou a ilu­mi­na­ção: era o Buda.

A saída que o Buda entreviu para o beco sem saída das mazelas da vida é o nirvana/o assoprar da vela: um estado de plena ilu­mi­na­ção e de plena sufi­ci­ên­cia, uma imo­bi­li­dade deli­be­rada que torna seu sujeito final­mente livre das arma­di­lhas do desejo e do temor, bem como de suas con­sequên­cias. Para o Buda, o sofri­mento é causado pela ânsia de possuir, a gana de ser e de per­ma­ne­cer. Para deixar de sofrer o homem deve desapegar-se de todo de todas as coisas. Quem não tem a ilusão de ser e de per­ma­ne­cer não tem mais por onde sofrer.

Esta inepta reca­pi­tu­la­ção bastará para apontar porque a alma de gerações de homens e mulheres foi des­te­lhada por essa história. A huma­ni­dade essencial da tra­je­tó­ria do Buda plantou as sementes da gentileza e da tole­rân­cia em culturas inteiras.

* * *

Para o inquieto coração ocidental, o desfecho do nirvana parece par­ti­cu­lar­mente inde­se­já­vel. Se para deixar de sofrer é preciso deixar de desejar, para nós o próprio sofri­mento passa a parecer destino mais nobre e admirável. Queremos ansiar for­mi­da­vel­mente pelas coisas, ainda quando enten­de­mos que a des­com­pen­sa­ção será perene e nos causará constante insa­tis­fa­ção. Cele­bra­mos na verdade a insa­tis­fa­ção como motor de todo progresso.

Rejeitar a solução do Buda é uma coisa, mas não nos limitamos a não ver o mundo como ele via. Nosso desprezo pelo que as tradições da huma­ni­dade tomaram por sagrado é mais sofis­ti­cado e mais completo – e isso fica claro quando com­pa­ra­mos as nossas nar­ra­ti­vas. A sociedade de consumo exige que a nossa história indi­vi­dual seja um rigoroso reverso da história de Sidarta.

Na sociedade de consumo somos o Antibuda.

Em sua refinada moda­li­dade con­tem­po­râ­nea, o capi­ta­lismo é um convite perene para que desejemos, sus­ten­te­mos e habitemos o palácio de delícias que Sidarta deixou para trás. Tudo – abso­lu­ta­mente tudo – que a publi­ci­dade faz é acenar com um mundo ilusório livre de limites e de deca­dên­cia. Este, explica o capi­ta­lismo, é você, e este é o mundo que você quer desejar comprar. Você não precisa con­tem­plar o enve­lhe­ci­mento, nem sequer o seu. Você pode estar conectado 100% do tempo, sem conhecer a incon­ve­ni­ên­cia da separação. Este produto (não, este! Este!Este!) irá final­mente dar a você o senso de satis­fa­ção pessoal que você sempre desejou e mereceu. E a morte, para sua con­ve­ni­ên­cia, já foi tirada de cena há décadas. Quem precisa pensar em degolar um frango, quando pode pedir uma porção de chicken nuggets.

Da mesma forma que os habi­tan­tes do palácio de Sidarta Gautama, o capi­ta­lismo é pago para falar e agir como se todos os recursos fossem ines­go­tá­veis, como se a riqueza e a opulência fossem o modo natural de se expe­ri­men­tar a vida. Vai dar tudo certo, e nossas cola­bo­ra­do­ras irão atendê-lo em um minuto. Aceite por favor este cartão de tra­ta­mento pre­fe­ren­cial, que em cir­cuns­tân­cias difíceis irá poupá-lo das ânsias e cons­tran­gi­men­tos que afligem a maioria dos mortais. Só não saia de casa sem ele. Você deve ter lido em algum lugar que este mundo já conheceu morte, dor e sofri­mento, mas isso foi antes do nosso Plano MaxClient. Posso lhe falar dos nossos bene­fí­cios? Veja como colocamos esse novo modelo de automóvel numa desolada planície siberiana, de modo a lembrá-lo que o tráfego é uma ilusão e este mundo não tem limites. Quem seria estúpido de querer olhar para fora deste palácio, não é verdade? Posso lhe trazer mais um uísque? E não me deixe esquecer: você merece.

Não há quem ouça a história de Sidarta e não entenda que há algo de assom­broso, algo de puramente grandioso e admirável, em sua decisão de abandonar uma vida de arti­fi­ci­a­li­da­des e mergulhar na realidade como ela é. E ainda assim per­ma­ne­ce­mos cegos para o fato de que coti­di­a­na­mente o que encar­na­mos é o Antibuda. Sidarta recusou uma vida pri­vi­le­gi­ada porque não queria viver uma ilusão; a vida de ilusão que ele deixou para trás é tudo pelo que lutamos.

* * *

Admirar é esta­be­le­cer um alvo, é delinear uma cultura. Você admira Bill Gates e Steve Jobs. Gerações de budistas veneraram um cara que apostava que todas as con­quis­tas humanas são ilusórias, que o que chamamos de segu­ran­ças nada produzem além ansiedade e sofri­mento, que o único ter­ri­tó­rio que vale à pena con­quis­tar é o do coração.

Outras gerações de homens admiraram São Francisco, ou Gandhi, que criam em coisa seme­lhante e viveram de modo muito parecido. Ou Jesus, porque não é preciso fingir que essas nar­ra­ti­vas essen­ci­ais difiram em muito. O Antibuda é também o Anticristo.

Como Sidarta Gautama, o rabi de Nazaré ensinou que a sede pela riqueza e pelo poder des­fi­gu­ram, des­vir­tuam e traem a huma­ni­dade de todos que se deixam embriagar por ela. A riqueza promete satis­fa­ção, mas gera um ciclo vicioso de insa­tis­fa­ção; promete autonomia e segurança, mas gera depen­dên­cia e fomenta o engano; promete que seremos admirados e reco­nhe­ci­dos, mas nos confina ao iso­la­mento; promete grandeza, mas nos reduz a mari­o­ne­tes, a meros simu­la­cros de gente.

Como o Buda, Jesus viveu de modo intei­ra­mente con­sis­tente com esse ensino. Suas histórias, suas palestras, suas frases de efeito e suas inves­ti­das articulam a mesma mensagem que o seu modo de vida: se você quer ser meu seguidor, meu amigo, saiba que não tenho onde cair morto – e você deveria estar me admirando é por isso.

Ou: quem não abre mão de tudo que possui não tem cacife para ser meu seguidor.

Ou: não sejam idiotas de acumular riquezas num mundo em que tudo se perde. Tudo que não é eterno se perde, meu caro. Olhe ao redor, essa civi­li­za­ção e esses monu­men­tos. Quanto tempo perdido! Vai tudo abaixo e você nesse meio tempo sonegando tempo para o que na vida realmente conta. Venda tudo o que possui e dê aos pobres, e vamos ali comer um peixe que Simão acabou de pescar. O cara pensa que está coberto porque tem reservas em celeiros, mas morre amanhã e pra quem fica? O amor, a amizade: isso é eterno, sujeito. Não existe amor maior do que dar a vida pelos que você ama. Ame muito, e vai ter muita vida pra dar. Eu vim para que vocês tenham vida, e vida em abun­dân­cia. O que eu peço ao meu Pai, e vocês são tes­te­mu­nhas, é que que quem quiser me seguir viva como eu vivi.

Ou: olhe para essas flores do campo. Só olhe pra elas.

Desapegue-se, velho, foi a porção da mensagem de Jesus que as primeiras gerações de seus segui­do­res tomaram por essencial. Os con­ver­ti­dos do Pen­te­cos­tes despiram-se da cadeia das coisas para tornarem-se livres para viver em comum, e os apóstolos alertaram con­ti­nu­a­mente para a ilusão da riqueza. Não ignoravam que, como Sidarta, Jesus tinha feito o trajeto volun­tá­rio para longe das riquezas em direção ao abraço amoroso do mundo: Vocês conhecem o caráter do nosso Jesus – que, sendo rico, por amor de vocês se fez pobre, para que pela sua pobreza vocês fossem enri­que­ci­dos (2 Coríntios 8:9). E não ignoravam que nada podia haver de mais paradoxal do que um seguidor de Jesus admirando um rico ou con­ce­dendo a um poderoso tra­ta­mento preferencial:

Que ideia é essa de dar ao rico lugar de honra e ao pobre um banquinho no canto? Quem lhes ensinou esse critério perverso de seleção? Não foi os pobres do mundo que Deus escolheu para fazer ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam? E vocês desonram o pobre! Não são os ricos que oprimem vocês e os arrastam aos tribunais? (Tiago 2:3-6)

A posição oficial do Novo Tes­ta­mento é de que o que um rico merece é comi­se­ra­ção, e de alguém que lhe abra os olhos para a verdade da sua condição:

Eis agora, vocês que são ricos, lamentem e chorem, por causa das desgraças que lhes sobre­vi­rão. As suas riquezas estão apo­dre­ci­das, e as roupas de vocês roídas pela traça. O seu ouro e sua prata estão enfer­ru­ja­dos, e a ferrugem deles prestará tes­te­mu­nho contra vocês, e devorará as suas carnes como fogo. Vocês ajuntaram economias, mas em vão: esses são os últimos dias. O salário que vocês frau­du­len­ta­mente sonegaram dos seus empre­ga­dos está clamando, e o clamor dos tra­ba­lha­do­res têm chegado aos ouvidos do Senhor dos exércitos. Vocês viveram rega­la­da­mente sobre a terra, e se refes­te­la­ram. Vocês engor­da­ram o coração de vocês, muito bem; pena que justo hoje é dia de matar os animais gordos para o consumo. (Tiago 5:1-6)
* * *

Tanto budistas quanto cristãos trataram de minimizar o impacto da mensagem e da vida dos seus mestres através de comen­tá­rios e teologias, isto é, repo­si­ci­o­na­men­tos ide­o­ló­gi­cos. O budismo con­tem­po­râ­neo se divide em duas grandes correntes, Theravada e Mahayana, que divergem entre si, em ênfases e práticas, pelo menos tanto quanto as igrejas católica e pro­tes­tante. Ou seja, um tanto razoável.

Porém não é difícil argu­men­tar que os cristãos anularam o impacto da vida e da mensagem de Jesus de modo mais eficaz do que os budistas jamais fizeram com o Buda. Como já devo ter dito em mais de um lugar, os cristãos usaram o próprio conceito da divindade de Jesus como pretexto para tornar sem efeito qualquer rele­vân­cia que o seu modo de vida e suas palavras tivessem para os dilemas deste mundo. Assine aqui e estará aceitando Jesus como Salvador pessoal, sinta-se muito à vontade para ignorar o que ele faz e diz nessas quatro bio­gra­fias. Na nossa loja virtual você encontra por 900 reais a Bíblia da Vitória Finan­ceira.

Feliz­mente, as histórias têm um brilho que nem mesmo a fuligem da máquina teológica consegue apagar. No ocidente, a despeito das bar­ba­ri­da­des inter­pre­ta­ti­vas, litúr­gi­cas e ope­ra­ci­o­nais da igreja formal, as gerações con­ti­nu­a­ram a desarmar-se diante da ternura essencial do Jesus da narrativa que está nos evan­ge­lhos. Encon­trando em Jesus quem admirar, esco­lhe­ram tornar-se gente admirável pessoas como São Francisco, Tolstoi, Gandhi, Madre Teresa e Martin Luther King.

* * *

Nosso mundo encontra-se numa grande encru­zi­lhada entre nar­ra­ti­vas competidoras.

De um lado, as nar­ra­ti­vas do sagrado insistem que devemos admirar gente como Buda e como Jesus, e nos dizem: desapegue-se, meu caro. Deixe de correr atrás do vento. Deixe de derramar ansiedade sobre si mesmo e sobre os outros. Não seja idiota de ajuntar riquezas incons­tan­tes onde tudo se perde. Conquiste o seu coração. Respeite o próximo e o ambiente. Ame. Reduza, e será grande. Recolha-se, e estará no centro. Sirva, e será maior do que todos. Recue, e verá a paisagem que todos perdem. Seja gentil. A notícia da graça é a gra­tui­dade de todas as coisas. Rico é quem não precisa de nada.

Do outro lado, as nar­ra­ti­vas da sociedade de consumo querem que admiremos os grandes e bem-sucedidos, e nos dizem: tome posse, meu caro. Corra atrás de resul­ta­dos. Crise é opor­tu­ni­dade, canalize em pro­du­ti­vi­dade essa insa­tis­fa­ção. Acumule, e será final­mente livre para desfrutar. Conquiste o mundo, e seu coração encon­trará a paz. Faça alianças siner­gé­ti­cas e aposte todas as suas fichas. Consuma. Pense grande, e será grande. Cada palmo que você pisar será seu. Seja servido, e sua grandeza será evidente. Um dia tudo isso será seu. Seja impla­cá­vel. Todo aquele que invocar o nome da per­for­mance será salvo. Rico é quem tem tudo.

Diga-me quem você admira, e saberei quanto você é admirável.


Paulo Brabo, em O Antibuda.