Profecias











Os profetas viram a vida a caminho do calvário.
"Um dia" - disseram - "abriremos os olhos e veremos o nosso mundo sendo ceifado pela morte."
Alguns profetizaram que um novo mundo seria criado. 
Um novo mundo nos aguarda.
Seria isso verdade?

Ontem, conversando com as estrelas, elas me mostraram o que aconteceria:

Os rios faltarão aos encontros com o mar. 
O sol castigará a terra. 
Os pássaros cantarão canções tristes. 
As flores murcharão e perderão as cores. 
A lua soluçará ao ver o sol se pôr pela última vez.

Vi-me em um mundo tomado pela dor. 
Pelo fim. 
Fechei meus olhos. 
Não quis observar esse quadro. 
Essa obra da morte.

De repente uma brisa suave passou por meu ouvido esquerdo. Uma brisa que eu não acreditava mais existir naquele mundo. A última brisa. O último vento fresco ao fim da tarde. Ele lembrou-me do antigo mundo. Lembrou-me da praia beijando o mar. Lembrou-me das belas canções das aves. Lembrou-me dos casais abraçados declamando poemas.

O vento fresco disse-me baixinho: "abra os olhos!..."

Ao abrir, tu estavas à minha frente, olhando meu rosto, contemplando meu medo. 
Tua face tomou conta de todo meu campo de visão.

Já não enxergava mais a morte do mundo. Ao ver-te, lembrei-me do antigo mundo, dos belos jardins. Lembrei-me das sinfonias dos grandes autores. Lembrei-me das noites de lua cheia, do banho do sol ao fim da tarde. Ao ver-te lembrei da dança das árvores com o vento, lembrei-me das crianças dormindo no colo quente da mãe.

Esqueci que o mundo estava descendo a sepultura. Não vi mais a dor, mas te vi.

Amor!

O último vento que passara pelo mundo deixou-me. 
Seguiu viagem, declamou seu último poema: "abra os olhos!..."

Mas antes de ir, ele confessou-me uma última coisa. 
O último segredo da humanidade. 
O quinto evangelho. 
A estrofe que faltava. 
A última página do livro. 
Suas palavras foram: "Abra os olhos!..." - deixou que as palavras ecoassem... e continuou: - "...os profetas tinham razão! Há um novo mundo à sua espera."

E então abri meus olhos. E vi você! Meu novo mundo. Minha salvação para além da morte. 
E então abri meus olhos e te vi contemplando minha face. Olhei no fundo dos teus olhos e enxerguei tua alma. 
E ela dizia: "Vem comigo! Sou teu novo mundo."

E então acordei! Meus olhos tremiam, minha boca estava seca. A noite estava calada, triste. Alguns pingos anunciavam a chuva que viria.

Fiquei parado. Deitado olhando para o teto. Olhos fixos, distantes... 

Compreendi:

Tu és a última confissão do vento. 
És o último segredo da humanidade. 
Meu quinto evangelho, 
a estrofe que faltava em minha sinfonia. 
És a última página do meu livro!

És o novo mundo que os profetas anunciaram. 
És o meu paraíso após a morte. 
És a minha segunda chance.

Minha vida eterna!


Eliab Alves Pereira