Lendas dos Judeus #19 (A queda do homem)


ADÃO: A queda do homem
Entre os animais a serpente era notável. De todos ela possuía as mais excelentes qualidades, nalgumas das quais assemelhava-se ao homem. Como o homem ela caminhava sobre dois pés, e tinha o peso igual ao de um camelo. Não fosse a queda do homem, que trouxe infortúnio também sobre elas, bastaria um par de serpentes para realizar todo o trabalho que o homem tem de fazer; além disso, elas teriam lhe fornecido prata, ouro, jóias e pérolas. Na verdade, foi justamente essa habilidade da serpente que causou a ruína do homem e sua própria ruína. Seus dons intelectuais superiores levaram-na a ser infiel. Isso também explica a inveja que tinha do homem, especialmente de suas relações conjugais. A inveja da serpente fez com que ela imaginasse diversos modos e maneiras de ocasionar a morte de Adão. Ela conhecia bem demais o caráter do homem para tentar exercitar seus exercícios de persuasão sobre ele, por isso abordou a mulher, sabendo que as mulheres são facilmente enganadas.
“DA MESMA FORMA QUE ELE CRIA E DESTRÓI MUNDOS…”
Sua conversa com Eva foi habilmente planejada, de modo à mulher não ter como escapar da armadilha. A serpente começou:
– É verdade que Deus disse “vocês não podem comer de toda árvore do jardim”?
– Podemos – respondeu Eva – comer o fruto de todas as árvores do jardim, exceto daquela que fica no meio do jardim. Essa não devemos nem mesmo tocar, para que não sejamos feridos de morte.
Ela disse assim porque em seu zelo de guardá-la de transgredir o mandamento divino Adão havia proibido Eva de tocar a árcore, embora Deus tivesse mencionado apenas o consumo do fruto. Permanece verdadeiro o provérbio que diz: “melhor um muro firme de dez palmos de altura do que um de cem metros que não tem como ficar em pé”. Foi o exagero de Adão que permitiu à serpente persuadir a mulher a provar do fruto proibido. A serpente empurrou Eva contra a árvore e disse:
– Está vendo? Tocar a árvore não causou a sua morte. Comer o fruto da árvore também não vai lhe fazer mal algum. Não foi nada menos que perversidade que induziu a proibição, pois assim que comerem vocês serão como Deus. Da mesma forma que ele cria e destrói mundos, vocês terão também o poder de criar e destruir. Da mesma forma que ele mata e faz voltar à vida, vocês terão também o poder de matar e reviver. Ele mesmo comeu o primeiro fruto da árvore, e criou em seguida o mundo. É por isso que ele os proibiu de comer, para que vocês não criem outros mundos. Todo mundo sabe que artesãos do mesmo ofício odeiam uns aos outros. Além disso, vocês não perceberam que toda criatura tem autoridade sobre a criatura criada antes dela mesma? O céu foi feito no primeiro dia e é mantido no lugar pelo firmamento, feito no segundo dia. O firmamento, por sua vez, está submetido às plantas, criadas no terceiro dia, pois elas absorvem toda a água do firmamento. O sol e os outros corpos celestes, criados no quarto dia, exercem domínio sobre o mundo das plantas, que podem amadurecer seus frutos e florescer apenas através da influência deles. A criação do quinto dia, o mundo animal, exerce domínio sobre as esferas celestes; veja o ziz, que pode escurecer o sol com suas asas. Mas vocês são mestres de toda a criação, porque foram os últimos a serem criados. Comam depressa o fruto da árvore que está no meio do jardim e tornem-se independentes de Deus, para que não aconteça que ele produza novas criaturas que exerçam domínio sobre vocês.
“ELE MESMO COMEU O PRIMEIRO FRUTO DA ÁRVORE”.
Para dar peso a essas palavras, a serpente começou a sacudir violentamente a árvore, fazendo cair seus frutos. Ela comeu deles, e disse:
– Da mesma forma que eu não morro comendo do fruto, vocês também não morrerão.
Eva nada pôde fazer além de dizer a si mesma: “Tudo que meu mestre me ordenou (pois era assim que ela chamava Adão) não passam de mentiras!”. E estava determinada a seguir o conselho da serpente. Ela porém não conseguiu forçar-se a desobedecer o mandamento de Deus por completo. Eva chegou a um meio-termo com sua consciência: comeu primeiro só a casca da fruta; em seguida, vendo que a morte não lhe sobrevinha, comeu o fruto em si.
Mal havia terminado, ela viu o Anjo da Morte diante de si. Esperando que seu fim chegasse imediatamente, Eva determinou fazer Adão também comer do fruto proibido, para que ele não se casasse com outra mulher depois da sua morte. Foram necessários lágrimas e queixumes da parte dela para convencer Adão a tomar o passo fatídico. Não satisfeita, Eva deu o fruto a todos os seres vivos, para que estivesse também sujeitos à morte. Todos comeram e são todos mortais, com exceção do pássaro malham, que recusou o fruto com as seguintes palavras:
– Não basta vocês terem pecado contra Deus e terem trazido a morte sobre outros? Vocês vêem ainda até mim, tentando me persuadir a desobedecer o mandamento de Deus, para que eu coma e morra por causa disso? Não vou fazer o que vocês estão querendo.
“ALÉM DISSO, VOCÊS NÃO PERCEBERAM QUE TODA CRIATURA TEM DOMÍNIO SOBRE A CRIATURA CRIADA ANTES DELA MESMA?”
Ouviu-se então uma voz celestial que disse a Adão e Eva:
– A vocês a ordem foi dada, e vocês não a obedeceram. Ao contrário, transgrediram-na e tentaram persuadir o pássaro malham a fazer o mesmo. Ele foi fiel e me temeu, muito embora eu não tivesse dado a ele mandamento algum. Afirmo portanto que ele jamais provará a morte, nem ele nem os seus descendentes: viverão todos para sempre no Paraíso.
Adão disse a Eva:
– Você me deu da árvore que eu a proibi de comer? Você me deu dela sim, pois meus olhos se abriram, e estou com um azedo nos dentes1 da boca.
Eva respondeu:
– Se tenho um azedo nos dentes, que os dentes de todos os seres vivos tenho o azedo também.
O primeiro resultado foi que Adão e Eva ficaram nus. Antes disso seus corpos haviam estado cobertos por uma pele córnea, e envoltos na nuvem da glória. Mal haviam violado o mandamento dado eles, caíram deles a nuvem de glória e a pele córnea, e ficaram ali em sua nudez, envergonhados. Adão tentou juntar folhas de árvores para cobrirem seus corpos, mas ouviu uma árvore após a outra dizer:
– Esse é o ladrão que enganou seu Criador. Não! Não virá contra mim o pé da insolência, nem me tocará a mão2 do perverso!
Apenas a figueira deu-lhe permissão de tirar suas folhas, porque o figo era ele mesmo o fruto proibido. Adão teve a mesma experiência do príncipe que seduziu uma das camareiras do palácio. Quando o rei, seu pai, saiu em seu encalço, ele buscou em vão refúgio entre as outras camareiras, mas apenas a que havia ocasionado a sua desgraça prestou-lhe assistência.


Lendas dos Judeus é uma compilação de lendas judaicas recolhidas das fontes originais do midrash(particularmente o Talmude) pelo talmudista lituano Louis Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado em 6 volumes (sendo dois volumes de notas) entre 1909 e 1928.
Tradução: Paulo Brabo

O Gozo de Saber que Deus é Deus

O esforço humano nunca pode impressionar um Deus onipotente, e a grandeza dos homens jamais pode impressionar um Deus de grandeza infinita. Isto é má notícia para aqueles que competem com Deus, mas boa notícia para aqueles que querem viver pela fé.
O Salmo 147 é uma emocionante declaração de esperança para um povo que desfruta do gozo e certeza de que Deus é Deus. O salmista afirma: “Conta o número das estrelas, chamando-as todas pelo seu nome” (v. 4). Ora, isto é mais do que podemos apreender! “Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim: é sobremodo elevado, não o posso atingir” (Sl 139.6).

A Terra, onde vivemos, é um pequeno planeta que gira em torno de uma estrela chamada Sol, que tem o volume um milhão e trezentas vezes maior do que o da Terra. Existem estrelas milhões de vezes mais luminosas do que o Sol. Existem aproximadamente cem bilhões de estrelas em nossa galáxia, a Via Láctea, que tem cem mil anos-luz de extensão. (Um ano-luz equivale a 299.792.458 km/s.) O Sol viaja a 249 km/s, e, por isso, seriam necessários, duzentos milhões de anos para que o sol cumprisse apenas uma órbita em volta da Via Láctea. Existem milhões de outras galáxias além da nossa.
Agora, ouça novamente: o Salmo 147 afirma que Deus conta o número de todas as estrelas. Não somente isso, afirma também que Ele as chama pelo nome que lhes deu, tal como se faz a animais de estimação. Você os olha, observa suas características e chama-os por algum nome que se enquadre nas diferenças. Quando cantamos o hino “Let All Things Now Living”, de Katherine Davis, eu sorrio com grande satisfação quando chego às palavras:
Ele estabelece a sua lei:As estrelas, em seus cursos,O Sol, em sua órbita,Resplandecem obedientemente.
Sim, eu penso, “obedientemente” é a palavra correta! O sol tem um nome na mente de Deus. Ele chama o sol por seu nome, diz a ele o que fazer e ele obedece. E assim o fazem trilhões de estrelas. (Assim como todos os elétrons, em todas as moléculas dos elementos das estrelas e dos planetas, incluindo os elementos que se encontram nas guelras de um tubarão que vive embaixo das rochas, na costa da ilha de Rhode.)

Ora, o que impressionaria um Deus como este? Salmo 147.10-11 nos mostra com clareza:

Não faz caso da força do cavalo, nem se compraz nos músculos do guerreiro. Agrada-se o Senhor dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia.
Imagine um levantador de peso, nas Olimpíadas, que se orgulha de haver levantado duzentos e vinte e cinco quilos. Ou imagine algum cientista se orgulhando de que descobriu como uma molécula é afetada por outra. Não precisamos ser gênios para saber que Deus não se deixa impressionar por essas coisas.
As boas-novas para aqueles que desfrutam do gozo de saber que Deus é Deus é que Ele tem prazer nessas pessoas. Deus se agrada daqueles que esperam no imensurável poder dEle. Não é uma coincidência literária o fato de que os versículos referentes a outro aspecto da grandeza de Deus (nos versículos 4 e 5), mostram-No cuidando do fraco (vv. 3 e 6):
3 sara os de coração quebrantadoe lhes pensa as feridas.4 Conta o número das estrelas,chamando-as todas pelo seu nome.5 Grande é o Senhor nosso e mui poderoso;o seu entendimento não se pode medir.6 O Senhor ampara os humildese dá com os ímpios em terra.
Oh! que prenda a nossa atenção a verdade de que Deus é Deus e trabalha onipotentemente em favor daqueles que esperam nEle (Is 64.4), bem como na sua misericórdia (Sl 147.11) e O amam (Rm 8.28). Ele ama ser Deus para os fracos e desamparados, que O buscam para tudo o que necessitam.



Extraído do livro: Uma Vida Voltada para Deus, de John Piper

É assim que você deixa Deus em dívida com você

Imagine que você tem um amigo que inventa para seus outros amigos uma lista de coisas que "te agradam" e diz que se seus outros amigos cumprirem a lista, o relacionamento deles com você vai melhorar. Porém, a lista de coisas que o seu amigo inventou só dita coisas que ele consegue fazer, são coisas que sacrificariam parte da vida dos outros amigos, são coisas que proíbem seus amigos de fazerem coisas que eles gostam só para poder te agradar e melhorar o relacionamento entre vocês. Como você se sentiria em relação a isso tudo? Como você reagiria com seu amigo que inventou a lista e com os amigos que sacrificaram coisas para cumpri-la? Bem, eu me sentiria bastante incomodado e decepcionado com todos eles. Primeiro com o amigo que, fazendo a lista, passou a ideia para os outros de que eu seria facilmente negociável na condição de que no momento em que eles fizessem algo "por mim" eu iria retribui-los de alguma forma. E também com os amigos que acreditaram nisso porque a atitude deles em acreditar nessa bobagem prova que eles nem sequer me conhecem direito a ponto de precisarem de ajuda para saber como se relacionar comigo. E porque no momento em que eles passam a seguir a lista, eles não estão fazendo algo por mim, eles estão fazendo algo por uma mentira, pensando que estão fazendo por mim. Eles estão fazendo algo por um cara inventado pelo outro amigo. Um cara que só vai ama-los com uma condição estipulada. Já que eu não sou assim, eles não estão fazendo esse sacrifício por mim, estão fazendo por uma invenção, uma mentira. A atitude deles mostra que sua intenção é apenas me mostrar coisas que eu gostaria de ver. Ao fazer isso, eles me passam a ideia de que esperam que eu só os ame a partir do momento em que eles fizerem coisas que eu gosto. Como diz a música "Eu nunca disse adeus" de Capital Inicial: "Se me pedisse pra pular de um prédio, eu diria: 'Sim! Qualquer coisa pra você gostar de mim'". Se eles esperam isso de mim então, com certeza, é o que eu devo esperar deles também. Já que fazendo "o que eu gosto" e se sacrificando por mim, eles ficarão com o sentimento de "tarefa cumprida" e, inconscientemente, com a ideia de que eu também devo fazer isso por eles. Seria como um "Ei, eu fiz isso por você. Agora você precisa fazer isso por mim." Se eu não fizer... Ai você já sabe do resultado. Eu mesmo já estou cansado de ouvir as pessoas reclamando de "ex-amigos/namorados" porque fizeram isso ou aquilo e blá, blá, blá... Bem, se você se relaciona com alguém desejando só o que te agrada naquela pessoa, então você não está se relacionando com ela, você está se relacionando apenas com as características dela que te agradam. Dizer "eu te amo" significa dizer que você ama o outro por inteiro, não só o que te agrada nele.


Não é difícil de perceber o desejo de ser aceito e elogiado que está enraizado na alma dos seres humanos. A alegria sentida depois de um elogio, a preocupação em deixar bem claro que foi você que chegou àquela conclusão que todos gostaram, o esforço em fazer com que os outros percebam que você tem certa característica louvável, a hastag #Filosofei, #FraseMinha ou qualquer outra palavra que indique que a frase de impacto que você tuitou foi de sua autoria, sempre indicam um grito de "olha eu aqui". Esse costume aponta para o nosso desejo de ser louvado por conseguir fazer algo que merece ser reconhecido. 


O pecado foi gerado dessa forma. Na verdade, tanto o pecado quanto a atitude de "vencer" o pecado tiveram a mesma origem. Se você ainda não leu o artigo "O Fruto Proibido", eu gostaria muito que você lesse assim que terminar esse artigo. Outro texto bastante importante é "O acalentado conforto da proibição".


Criamos a ilusão de que chamamos a atenção de Deus no momento em que negamos tudo aquilo que consideramos pecado. Criamos a utopia de que nosso relacionamento com Ele se enfraquece no momento em que cometemos algum erro. Estabelecemos a teoria de que Deus se agrada e ama todo aquele que "nega a si mesmo". De onde tiramos a ideia de que podemos controlar os conceitos de Deus sobre nós a partir do que fazemos ou deixamos de fazer aqui? Tratamos Deus, ao criarmos o pecado, como um marionete que se move a partir do que o seu controlador faz. Alguém surgiu com a ideia de que Deus vai te dar isso, fazer aquilo ou te punir de alguma forma se você fizer ou não alguma coisa. Eu não consigo acreditar num deus (com "d" minúsculo) tão fácil de se manipular e barganhar. É triste perceber que construímos nosso relacionamento com Deus baseado no que podemos fazer para sermos aceito por Ele. É triste imaginar um relacionamento onde um dos membros só aceita o outro quando ele se comporta de uma forma estabelecida por sei lá quem.


O homem é o pai da lei. Consequentemente, é o avô do pecado! O conhecimento da lei deu origem ao que chamamos de pecado. Paulo nos ensinou lá em Romanos que "se a Lei não dissesse: 'Não cobice', eu não saberia o que era cobiça". E ainda disse que "o pecado não é levado em conta quando não existe lei" e que "sem a lei, o pecado está morto". Mas a questão é: qual o motivo de criar leis que, consequentemente, geram o pecado? 
"Vá a igreja. Guarde o sábado. Use essa roupa. Não coma isso. Não beba aquilo. Não cante essa música. Lei isso, não aquilo! Não vá a esse lugar. Não sente com essa gente.
"-Não faça isso!- Mas eu não fiz! - Ótimo! Deus está orgulhoso de você."
Observe que para eu ser aceito em determinado grupo eu preciso fazer certos esforços para que o grupo me aceite. Inconscientemente fazemos isso. É por isso que vestimos as roupas que vestimos, falamos do jeito que falamos e nos comportamos do jeito que nos comportamos. Tudo é resultado da influência do meio. A grande mancada do ser humano foi acreditar que essa atitude mesquinha se encontrava em Deus. O pecado nada mais é do que um fardo que nós mesmos colocamos em nossas costas para que Deus se sinta obrigado a nos recompensar por termos aguentado todo o peso sem cair. As leis são uma invenção mesquinha de tentarmos deixar Deus impressionado com nosso esforço para cumpri-las. Entenda que toda tentativa de deixar Deus em dívida com você, é mesquinha, imoral, irracional e condenável. O maior pecado de todos é acreditar que Deus está satisfeito com você quando você não peca.
Isaías, lá no capítulo 64 e verso 6, comenta que nossas melhores obras são como trapos imundos diante de Deus. Prometeram um abraço de Deus a todos que cumprissem uma lista. Disseram que o céu é o troféu para todos que conseguirem vencer o pecado. Ensinaram que Deus vai amar todo aquele que fizer "sua vontade". Infelizmente esqueceram de avisar que Deus abraçou prostitutas e que o troféu de cada ser humano foi pendurado numa cruz. Deus se entregou para destruir algo que o homem criou: o pecado. A morte de Cristo venceu o pecado. Não pense que sua atitude medíocre de "abster-se" vai vence-lo. Você não tem esse poder! Você não pode fazer algo que Deus já fez!


Os homens precisam do pecado para não precisarem de Deus. Como? Quando Deus nos presenteia com a Graça, o pecado morre porque Ele mostra que a salvação não é mediante as obras mas pela Graça mediante a fé em Cristo. Tudo flui de Deus. Não há nada que você possa fazer pra ser salvo. Tudo já foi feito por Cristo. O que te falta é ter nisso. Quando eu digo que os homens precisam do pecado para não precisarem de Deus é porque com a ideia do pecado, voltamos ao ponto em que o ser humano se ilude tentando dar algo a Deus em troca da salvação. Na Graça, o homem não entrega nada a Deus, pelo contrário, é Deus que entrega tudo ao homem. E ai nos vemos na situação de que com isso, não há mais motivo de vanglória para o homem. Não há mais como ser admirado por sua "santidade" ou "perfeição". Afinal, Deus não o salvou por ser assim. Deus o salvou porque seu amor é maior do que o sacrifício humano. Você já percebeu que quando você acredita que seu "sacrifício" (abrir mão de qualquer coisa) por Deus, vai te salvar, você está, sem perceber, desvalorizando o Sacrifício de Cristo? Se o que vai te salvar é o que você faz ou deixa de fazer, então Cristo morreu pra quê?


Isso é o que significa negar a si mesmo e tomar sua cruz. Negar o que você deseja, tomar essa cruz que ninguém quer carregar. A cruz que te livra da dívida. A cruz que diz: "você não precisa fazer nada pra ser salvo. Você já foi salvo!" Lembra? "Não é difícil de perceber o desejo de ser aceito e elogiado que está enraizado na alma dos seres humanos." A sua atitude de tentar fazer algo pra agradar a Deus fez com que você se sentisse especial por conseguir cumprir os desafios. Ou vai dizer que você não se sente "melhor com Deus" quando não "peca"? Ano passado tivemos nos TTs Brasil uma hastag onde as pessoas expressavam a satisfaçam que elas tinha por elas mesmas por escolherem esperar algo. Isso é só um objetivo ou você acredita que isso vai dar peso na hora de Deus te julgar? Gente, a lei foi inventada para que as pessoas pudessem basear seu relacionamento com Deus nela. "Se você cumpre, Deus está feliz. Se não, Deus está triste." Isso é heresia! É dizer que você serve a um "Deus" que, pra te amar, precisa que você faça algo antes. É dizer que Deus ama as pessoas pelo que elas fazem e não pelo o que elas são!


Além do textos "O Fruto Proibido" e "O acalentado conforto da proibição", imploro que você assista ao vídeo abaixo do Pastor Matt Chandler. Faz muito tempo que o vi mas assim que resolvi escrever esse artigo, lembrei logo dele. É um ótimo vídeo. Se não quiser ler os textos que indiquei, tudo bem, mas não deixem de ver o vídeo, por favor!


Abraço,
Eliab Alves Pereira
(Obrigado pela foto, Mayazatto Legal ^^)


Lendas dos Judeus #18 (Adão e Eva no Paraíso)


ADÃO: Adão e Eva no Paraíso
O Jardim do Éden foi a primeira habitação do primeiro homem e da primeira mulher, e as almas de todos homens passam por ele depois da morte, antes de chegarem ao seu destino final. Isso porque as almas dos finados precisam passar por sete portais antes de chegarem ao ‘Arabot celestial. Ali as almas dos piedosos são transformadas em anjos, e ali permanecem para sempre, louvando a Deus e banqueteando-se com a visão da glória da Shekiná. O primeiro portal é a caverna de Macpelá, nas vizinhanças do Paraíso, que está sob o cuidado e supervisão de Adão. Se a alma que se apresenta diante do portal é digna, ele grita: “Abram espaço! Seja bem-vindo!” A alma prossegue então até chegar ao portão do Paraíso, guardado pelo querubim e pela espada flamejante. Se não é achada digna, a alma é consumida pela espada; do contrário recebe um passe de admissão no Paraíso terrestre. Ali há um pilar de fumaça e de luz que se estende do Paraíso ao portão do céu; se alma conseguirá escalá-lo e alcançar o céu através dele dependerá do seu caráter. O terceiro portal, Zebul, fica na entrada do céu. Se a alma é digna, o guarda abre o portão e admite-a no Templo celestial. Miguel apresenta-a a Deus e a conduz então ao sétimo portal, ‘Arabot, além do qual as almas dos piedosos, transformadas em anjos, louvam ao Senhor e alimentam-se da glória da Shekiná.
APENAS QUEM CONSEGUE ABRIR CAMINHO ATRAVÉS DA ÁRVORE DO CONHECIMENTO PODE APROXIMAR-SE DA ÁRVORE DA VIDA.
No Paraíso erguem-se a árvore da vida e a árvore do conhecimento, sendo que essa segunda forma uma sebe ao redor da primeira. Apenas quem consegue abrir caminho através da árvore do conhecimento pode aproximar-se da árvore da vida, que é tão imensa que seriam necessários a um homem quinhentos anos para atravessar uma distância igual ao diâmetro do seu tronco, sendo que não é menos vasto o espaço sombreado por sua coroa de ramos. De debaixo dela flui a água que irriga toda a terra, abrindo-se em quatro correntes, o Ganges, o Nilo, o Tigre e o Eufrates. Porém foi apenas durante os dias da criação que o reino vegetal recorreu às águas da terra para o seu sustento. Mais tarde Deus fez com que as plantas dependessem da chuva, isto é, das águas superiores. As nuvens sobem da terra ao céu, de onde a água é derramada nelas para que sirvam de conduto. As plantas começaram a sentir o efeito da água apenas quando Adão foi criado. Embora tenham vindo à existência no terceiro dia, Deus não permitiu que elas brotassem e aparecessem acima da superfícia da terra até que Adão orou pedindo-lhe comida, pois Deus anseia pelas orações dos piedosos.
O Paraíso sendo o que era, Adão não tinha, naturalmente, que trabalhar na terra. É verdade que Deus colocou o homem no Jardim do Éden para tratar dele e mantê-lo, mas isso significava apenas que ele deveria estudar ali a Torá e guardar os mandamentos de Deus. Havia seis mandamentos em especial que todo ser humano deveria obedecer: não adorar ídolos, não blasfemar contra Deus, não cometer assassinato nem incesto, nem assalto nem roubo – sendo que todas as gerações têm o dever de instituir medidas de lei e ordem. Havia um mandamento adicional, mas era uma proibição temporária: Adão deveria comer apenas as ervas verdes do campo. A proibição contra o uso de animais para alimento só foi revogada na época de Noé, depois do dilúvio. Adão, no entanto, não foi privado de consumir de pratos de carne. Embora não lhe fosse permitido matar animais para satisfazer o seu apetite, os anjos traziam-lhe carne e vinho, servindo-o como criados. E da mesma forma que ministravam-lheos anjos de acordo com suas necessidades, faziam os animais. Esses encontravam-se inteiramente debaixo do seu domínio, e recebiam sua comida das mãos de Adão e de Eva. Em todos os sentidos o mundo animal tinha uma relação diferente com Adão da sua relação com os descendentes dele. Os animais não apenas conheciam a língua do homem, mas respeitavam a imagem de Deus, pelo que temiam o primeiro casal – porém tudo tornou-se o oposto disso depois da queda do homem.



Lendas dos Judeus é uma compilação de lendas judaicas recolhidas das fontes originais do midrash(particularmente o Talmude) pelo talmudista lituano Louis Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado em 6 volumes (sendo dois volumes de notas) entre 1909 e 1928.
Tradução: Paulo Brabo

Lendas dos Judeus #17 (A mulher)


ADÃO: A mulher
Quando abriu seus olhos pela primeira vez e contemplou o mundo ao seu redor, Adão irrompeu em louvor a Deus:
– Quão grandes são tuas obras, Senhor!
Porém sua admiração pelo mundo ao seu redor não excedeu a admiração que todas as coisas criadas dispensaram a Adão. Elas tomaram-no por seu criador, e vieram prestar-lhe adoração. Ele porém disse:
– Por que vocês vêem adorar a mim? Não, eu e vocês juntos reconheceremos a majestade e o poder daquele que nos criou a todos. “O Senhor reina” – declarou ele, – “e está revestido de majestade!”
Não apenas as criaturas da terra: até mesmo os anjos chegaram a pensar que Adão fosse senhor de todos, e eles estavam prestes a saudá-lo com o “Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos” quando Deus fez com Adão caísse no sono; os anjos souberam então que ele não passava de um ser humano.
O propósito do sono que recaiu sobre Adão era dar a ele uma esposa, para que a raça humana pudesse se desenvolver e todas as criaturas reconhecessem a diferença entre Deus e o homem. Quando ouviu o que Deus estava decidido a fazer, a terra começou a tremer e sacudir.
– Não tenho forças – ela disse – para prover comida para multidão dos descendentes de Adão.
Por essa razão o tempo foi dividido entre Deus e a terra: Deus ficou com a noite, a terra com o dia. O sono reconfortante sustenta e fortalece o homem, proporciona-lhe vida e descanso, enquanto a terra produz fruto com a ajuda de Deus, que a rega. Ainda assim o homem tem de trabalhar a terra a fim de ganhar o seu sustento.
A decisão divina de conceder uma companheira a Adão veio ao encontro dos anseios do homem, que havia sido tomado por uma sensação de isolamento quando os animais vieram até ele em pares para receberem seus nomes.
APESAR DE TODO CUIDADO EMPREGADO, A MULHER APRESENTA TODAS AS FALHAS QUE DEUS PROCUROU EVITAR.
A fim de banir sua solidão, a primeira mulher dada como esposa a Adão foi Lilith. Como ele, Lilith foi criada do pó da terra; ela porém permaneceu com ele por um intervalo muito curto, porque insistia em desfrutar de igualdade completa com seu marido. Ela justificava seus direitos a partir de sua origem comum. Com a ajuda do Nome Inefável, que ela proferiu, Lilith fugiu de Adão e desapareceu em pleno ar. Adão veio reclamar diante de Deus que a mulher que ele lhe havia dado o havia abandonado, e Deus enviou três anjos para capturá-la. Esses foram encontrá-la no Mar Vermelho, e tentaram fazê-la voltar com a ameaça de que caso não fosse ela perderia diariamente cem de seus filhos-demônios. Lilith, no entanto, preferiu essa punição a viver com Adão. Ela se vinga ferindo crianças-de-colo – os meninos durante sua primeira noite de vida, sendo que as meninas estão expostas a seus desígnios perversos até os vinte anos de idade. O único modo de afastar o mal é colocando nas crianças um amuleto que traz os nomes de seus três anjos captores, pois esse foi o acordo feito entre eles.
A mulher destinada a ser a verdadeira companheira do homem foi tomada do corpo de Adão, pois “apenas quando semelhante é unido a semelhante a união é indissolúvel”. A criação da mulher a partir do homem foi possível porque Adão tinha originalmente duas faces, que foram separadas com o nascimento de Eva.
Quando estava a ponto de criar Eva, Deus disse:
– Não farei a mulher a partir da cabeça do homem, para que ela não ande de cabeça empinada em orgulho e arrogância; não a farei a partir do olho, para que seus olhos não sejam licenciosos; não a partir do ouvido, para que ela não fique ouvindo conversa alheia; não a partir do pescoço, para que ela não seja insolente; não a partir da boca, para que ela não seja tagarela; não a partir do coração, para que ela não seja inclinada à inveja; não a partir da mão, para que ela não seja intrometida; não a partir do pé, para que ela não seja vagabunda. Irei formá-la a partir de uma parte casta do corpo.
A cada membro e orgão que formava, Deus ia dizendo:
– Seja casto! Seja casto!
Entretanto, apesar de todo cuidado empregado, a mulher apresenta todas as falhas que Deus tentou evitar. As filhas de Sião foram arrogantes e andaram com pescoços empinados e olhos licenciosos; Sara ouviu a conversa alheia em sua própria tenda, quando o anjo falava com Abraão; Miriam foi mexeriqueira, acusando Moisés; Raquel teve inveja de sua irmã Léia; Eva colocou suas mãos sobre o fruto proibido, e Diná foi vagabunda.
A constituição física da mulher é muito mais complicada do que a do homem, já que deve servir para a concepção; semelhantemente, a inteligência da mulher amadurece mais cedo do que a inteligência do homem. Muitas das diferenças físicas e psíquicas entre os dois sexos podem ser atribuídas ao fato de que o homem foi formado da terra e a mulher do osso. Mulheres precisam de perfumes, homens não: a poeira do chão permanece inalterada não importa por quanto tempo seja guardada; a carne, no entanto, requer sal para ser mantida em boas condições. A voz da mulher é estridente, a voz do homem não: quando alguma carne macia é cozida, nenhum sol é ouvido, mas basta colocar um osso na panela e ele racha de imediato. O homem é fácil de aplacar, a mulher não: umas poucas gotas d’água bastam para amolecer um torrão de terra, já um osso permanece duro, mesmo que mergulhado em água por dias. O homem deve pedir à mulher para ser sua esposa, e não a mulher o homem para ser seu marido, porque foi o homem que teve de arcar com a perda de sua costela; ele dá a investida no intento de cobrir o seu prejuízo.
As próprias de diferenças de modo de vestir e conduta social tem suas razões na origem do homem e da mulher. A mulher cobre o cabelo em memória do fato de ter sido Eva quem trouxe o pecado ao mundo; ela tenta dessa forma esconder a sua vergonha. Os mandamentos religiosos endereçados apenas às mulheres remetem à história de Eva. Adão era a oferta alçada do mundo, e Eva a maculou; como forma de expiação é ordenado às mulheres que separem uma oferta alçada da massa de farinha. E, por ter sido a mulher quem apagou a luz da alma do homem, a ela é ordenado que acenda a lâmpada do Shabat.
O MUNDO ESTÁ FUNDAMENTADO EM SERVIÇOS DE AMIZADE.
Adão foi levado a cair num sono profundo antes que a costela para Eva fosse retirada do seu lado. Isso porque se ele tivesse observado a sua criação ela não teria despertado amor nele. Até hoje permanece verdade que os homens não são capazes de apreciar os charmes de mulheres que observaram e conheceram desde a infância. De fato, Deus havia criado uma mulher para Adão antes de Eva, mas ele a rejeitou, porque ela havia sido feita na frente dele. Conhecendo todos os detalhes de sua formação ele sentiu repulsa por ela.
Porém quando despertou de seu sono profundo e viu Eva diante dele em toda sua surpreendente beleza e graça, ele exclamou:
– Esta é aquela que levava meu coração a palpitar por inúmeras noites!
Ele porém logo discerniu qual era a verdadeira natureza da mulher. Ela, sabia ele, lograria convencer o homem fosse através de súplicas ou lágrimas, elogios ou carícias. Ele por isso disse:
– Esse é o meu sino que nunca pára de tocar!
O casamento do primeiro casal foi celebrado com pompa jamais repetida no curso de toda história. O próprio Deus, antes de apresentá-la a Adão, vestiu e adornou a Eva como noiva. Sim, ele interpelou os anjos, dizendo:
– Venham, prestemos serviços de amizade por Adão e sua companheira, pois o mundo está fundamentado em serviços de cordialidade, e esses me são mais agradáveis aos olhos do que os sacrifícios que Israel irá oferecer sobre o altar.
Assim sendo, os anjos cercaram o pálio matrimonial e Deus proferiu as bençãos sobre o casal, da mesma forma que o Hazan faz sob o Huppah. Os anjos dançaram e tocaram instrumentos musicais diante de Adão e Eva em suas dez câmaras matrimoniais feitas de ouro, pérolas e pedras preciosas, que Deus havia preparado para eles.
Adão deu a sua mulher o nome de Ishah e passou a chamar a si mesmo de Ish, abandonando o nome Adão, que ele usara antes da criação de Eva. Isso porque Deus acrescentara seu próprio nome Yah aos nomes do homem e da mulher – a letra Yoide a Ish e a letra He a Ishah, – para indicar que enquanto andassem nos caminhos de Deus e observassem os seus mandamentos, seu nome lhes seria um escudo contra todo mal. Porém se se desviassem seu nome seria retirado, e ao invés de Ish restaria Esh, o fogo, um fogo brotando de cada um e consumindo o outro.




Lendas dos Judeus é uma compilação de lendas judaicas recolhidas das fontes originais do midrash(particularmente o Talmude) pelo talmudista lituano Louis Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado em 6 volumes (sendo dois volumes de notas) entre 1909 e 1928.
Tradução: Paulo Brabo

Lendas dos Judeus #16 (A queda de satanás)


As extraordinárias qualidades com que Adão foi abençoado, tanto físicas quanto espirituais, suscitaram a inveja dos anjos. Esses tentaram consumi-lo com fogo, e ele teria perecido, não tivesse a mão protetora de Deus se estendido sobre ele, e estabelecido a paz entre ele e os exércitos celestiais.
Satanás, em particular, tinha ciúme do primeiro homem, e seus maus pensamentos levaram por fim à sua queda. Depois de ter dotado Adão de alma, Deus convidara todos os anjos para virem e prestarem-lhe reverência e homenagem. Satanás, o mais insígne anjo do céu, dotado de doze asas ao invés das seis de todos os outros, recusara-se a obedecer à ordem de Deus, dizendo:
– Criaste a nós, os anjos, a partir do esplendor da Shekiná, e agora ordenas que nos prostremos diante da criatura que moldaste do pó da terra!
Deus respondeu:
– Todavia o pó da terra exibe mais sabedoria e entendimento do que você.
Satanás exigiu uma prova de inteligência com Adão, e Deus assentiu, dizendo:
– Criei animais selvagens, pássaros e répteis. Tra-los-ei a todos diante de você e de Adão. Se você for capaz de dar nomes a eles, mandarei que Adão lhe preste homenagem, e você habitará junto à Shekiná da minha glória. Caso contrário, no entanto, se Adão chamá-los pelos nomes que designei a eles, você se sujeitará a Adão, e ele terá um lugar no meu jardim, e o cultivará.
“PRESTE ADORAÇÃO À IMAGEM DE DEUS!”
Assim disse Deus e dirigiu-se ao Paraíso, seguido por Satanás. Quando viu a Deus, Adão disse a sua mulher:
– Venha, adoremos e prostemo-nos; ajoelho-mo-nos diante do Senhor, nosso Criador.
Satanás tentou então atribuir nomes aos animais, tendo fracassado nas duas primeiras tentativas, o touro e a vaca. Deus conduziu dois outros animais até diante dele, o camelo e o jumento, com o mesmo resultado. Deus voltou-se então para Adão, e questionou-lhe a respeito dos nomes dos mesmos animais, construindo suas perguntas de modo a que a primeira letra da primeira palavra fosse a primeira letra do nome do animal posto diante dele. Desta forma Adão foi capaz de adivinhar os nomes corretamente, e Satanás viu-se forçado a reconhecer a superioridade do primeiro homem. Ele porém irrompeu em clamores bárbaros que atingiram o céu, recusando-se a prestar homenagem a Adão como lhe havia sido ordenado.
O exército de anjos comandado por Satanás agiu da mesma forma, a despeito dos protestos de Miguel, que foi o primeiro a prostrar-se diante de Adão a fim de dar exemplo aos outros anjos. Miguel dirigiu-se a Satanás:
– Preste adoração à imagem de Deus! Se você se recusar, o Senhor Deus lançar-se-á em cólera contra você.
Satanás retrucou:
– Se ele se lançar em cólera contra mim, exaltarei meu trono acima das estrelas de Deus, e serei como o Altíssimo!
Imediatamente Deus lançou Satanás e seu exército para fora do céu sobre a terra, e é daquele momento que data a inimizade entre Satanás e o homem.



Lendas dos Judeus é uma compilação de lendas judaicas recolhidas das fontes originais do midrash(particularmente o Talmude) pelo talmudista lituano Louis Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado em 6 volumes (sendo dois volumes de notas) entre 1909 e 1928.
Tradução: Paulo Brabo

Lendas dos Judeus #15 (O homem ideal)


ADÃO: O homem ideal
Como todas as criaturas formadas nos seis dias da criação, Adão saiu das mãos de Deus plenamente desenvolvido. Ele não era como uma criança, mas como um homem de vinte anos de idade. As dimensões do seu corpo eram gigantescas, atingindo da terra ao céu ou, o que representa o mesmo, do oriente ao ocidente. Entre as gerações seguintes dos homens, houve poucos cujas medidas compararam-se a Adão em seu tamanho extraordinário e perfeições físicas. Sansão possuía sua força, Saul seu pescoço, Absalão seu cabelo, Asael sua ligeireza de pés, Uzias sua testa, Josias suas narinas, Zedequias seus olhos e Zerubabel sua voz. A história demonstra que essas excelências não representaram bençãos para muitos de seus possuidores; levou à ruína quase todos eles. A força extraordinária de Sansão ocasionou sua morte; Saul suicidou-se cortando o pescoço com sua própria espada; embora corresse com agilidade, Asael foi atravessado pela espada de Abner; Absalão ficou preso pelo cabelo a um carvalho, e assim suspenso encontrou a morte; Uzias foi acometido de lepra na testa; os dardos que mataram Josias entraram-lhe pelas narias, e os olhos de Zedequias foram cegados.
A maioria dos homens herdou tão pouca da beleza quanto do tamanho portentoso de seu primeiro pai. As mais belas mulheres, comparadas a Sara, são como os grandes macacos comparados a seres humanos. O mesmo acontece na comparação de Sara com Eva, mas Eva era também um mero macaco quando comparada a Adão. A figura dele era tão bela que bastava a sola do seu pé para ofuscar o esplendor do sol.
ADÃO ERA TÃO BONITO QUE BASTAVA A SOLA DO SEU PÉ PARA OFUSCAR O ESPLENDOR DO SOL.
Suas qualidades espirituais andavam em paridade com seu charme pessoal, pois Deus formara sua alma com cuidado especial. A alma do homem era a imagem de Deus, e Deus enche o mundo, de modo que a alma enche o corpo humano; da mesma forma que Deus vê todas as coisas, e não é visto por ninguém, a alma vê, mas não pode ser vista; da mesma forma que Deus guia o mundo, a alma guia o corpo; da mesma forma que Deus em sua santidade é puro, também é pura a alma; como Deus habita em segredo, também a alma.
Quando estava para colocar a alma no corpo argiloso de Adão, Deus disse:
– Por onde soprarei a alma dentro do homem? Pela boca? Não, pois ele irá usá-la para falar mal de seu semelhante. Pelos olhos? Com eles ele piscará libidinosamente. Pelos ouvidos? Esses darão atenção a calúnia e blasfêmia. Soprarei a alma em suas narinas: da mesma forma que elas discernem o que é impuro e rejeitam-no, recebendo de bom grado o que é perfumado, os piedosos esquivar-se-ão do pecado, e apegar-se-ão às palavras
da Torá.
As perfeições da alma de Adão manifestaram-se tão logo ele a recebeu, mesmo antes que ele ganhasse vida. No intervalo de uma hora que separou o soprar da alma no primeiro homem e o momento em que ele ganhou vida, Deus revelou-lhe toda a história da humanidade. Deus mostrou a Adão cada geração e seus líderes; cada geração e seus profetas; cada geração e seus professores; cada geração e seus eruditos; cada geração e seus homens de estado; cada geração e seus juízes; cada geração e seus integrantes piedosos; cada geração e seus integrantes comuns, medianos; cada geração e seus integrantes ímpios. A história de seus anos, o número de seus dias, o cálculo de suas horas e a medida de seus passos foram todos revelados a ele.
NO INTERVALO QUE SEPAROU O SOPRAR DA ALMA NO HOMEM E O MOMENTO EM QUE ELE GANHOU VIDA, DEUS REVELOU-LHE TODA A HISTÓRIA DA HUMANIDADE.
De sua própria vontade Adão abriu mão de setenta anos dos que haviam sido designados a ele. Seu tempo designado de vida era para ser de mil anos, um dos dias do Senhor. Mas Adão viu que um único minuto de vida havia sido alocado para a grande alma de Davi, e presenteou-a com setenta dos seus anos, reduzindo os anos que lhe cabiam de mil para novecentos e trinta.
A sabedoria de Adão mostrou-se extremamente vantajosa quando ele deu nome aos animais. Pareceu então que Deus, ao rebater os argumentos dos anjos que se opunham à criação do homem, havia falado bem quando insistira que o homem deveria possuir mais sabedoria do que os anjos.
Adão tinha menos de uma hora de idade quando Deus reuniu todo o mundo animal diante dele e dos anjos. Esses últimos foram chamados para dar nome às diferentes espécies, mas não se mostraram à altura da tarefa. Adão, no entanto, falou sem hesitação:
– Ó Senhor do mundo! O nome apropriado para este animal é touro, este cavalo, este leão, este camelo.
Ele dessa forma chamou a todos, um de cada vez, pelo seu nome, adequando o nome à peculiaridade de cada animal. Deus então perguntou-lhe como ele deveria se chamar, e ele disse “Adão”, porque havia sido criado de Adamah, o pó da terra. Deus então pediu a ele o seu próprio nome, e Adão disse:
– Adonai, “Senhor”, porque és Senhor de todas as criaturas – sendo que Adonai era o nome que Deus havia dado a si mesmo, o nome pelo qual os anjos o chamam, o nome que permanecerá imutável para sempre.
Porém, não fosse o espírito santo, Adão não teria sido capaz de encontrar nome algum; ele era na verdade profeta, e sua sabedoria era uma qualidade profética.
Os nomes dos animais não foram a única herança deixada por Adão para as gerações que seguiram-se a ele, pois a humanidade deve a ele todos os ofícios, especialmente a arte de escrever, e foi ele o inventor de todos os setenta idiomas. Ainda outra tarefa Adão realizou pelos seus descendentes: Deus mostrou a ele toda a terra, e Adão designou quais lugares seriam mais tarde ocupados pelos homens, bem como os lugares que permaneceriam desabitados.




Lendas dos Judeus é uma compilação de lendas judaicas recolhidas das fontes originais do midrash(particularmente o Talmude) pelo talmudista lituano Louis Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado em 6 volumes (sendo dois volumes de notas) entre 1909 e 1928.
Tradução: Paulo Brabo