Cântico de Francisco apóstata nos braços de Clara

Louvado sejas, Senhor,
pelo irmão muçulmano que me quer morto,
pelo irmão capitalista que me quer escravo,
pelo irmão comunista que me quer fantoche,
pelo irmão patrão que me quer até não servir,
pelo irmão governante que me quer calado,
pelo irmão colega que me quer pelas costas,
pelo irmão discípulo que me quer ultrapassado,
pelo irmão amigo que me quer quando dá jeito,
pelo irmão camarada que me quer alinhado,
pelo irmão sacerdote que me quer reverente,
pelo irmão lobo que me quer extinto,
pela irmã cobra que me quer mordido,
pelo irmão católico que me quer alienado,
pelo irmão protestante que me quer outro,
pelo irmão ateu que me quer ateu,
pelo irmão desconhecido que me quer incógnito,
pelo irmão idealista que me quer teoria,
pelo irmão marxista que quer peça descartável,
pelo irmão Sol que não sabe que existo,
pelo irmão Senhor que em mim resiste
quando o nego.
Louvado sejas, Senhor, pelas tuas criaturas
que não aturas
nas tuas inalcançáveis transcendentes alturas.
Obrigado,
Senhor,
pelo amor fraternal. Menos mal, Senhor,
Obrigado pelo irmão Eu,
Entre o agnóstico e o ateu,
que te agradece porque não és meu
Nem eu sou teu.
Graças a ti, Senhor,
Dei-me a uma criatura que me atura,
apesar da sua inalcançável transcendente altura.
Obrigado, Senhor, por me teres dado
ao paciente irmão verdugo que se chama Amor,
antes de retornar irmãmente aos braços do Criador.


Meu irmão Manuel Anástacio, o Venturoso

0 comentários:

Postar um comentário