Uma oração ao nada

Hoje eu quero fazer uma oração diferente, uma oração ao inexistente, ao nada, ao nada que através de sua incompletude me completa. Ser completo de nada é estar vazio.

Quero fazer o que faço sempre, soltar palavras que vez por outra chegam aqui e acolá. Isso me acalma, me dá a pseudo-sensação de estar conversando com quem entende o que eu digo. Ser ouvido é melhor do que ouvir. É duro, mas é sincero! E tudo não passa de uma conversa comigo mesmo.

Mas voltemos ao nada. Voltemos ao que me trouxe aqui. 

Nada, 
Você tem o poder de me zerar. Tem o poder de molhar meus olhos, de me deixar distante, distante de tudo que me completa. Ao me completar você me esvazia de mim. E mim é tudo aquilo que me formou até você chegar. Você não chega com nada, mas vem de lá. Você vem de lugar nenhum e simplesmente me apresenta algo. Uma mensagem, basta uma mensagem; algo cheio de opiniões, mas completo de você. Completo de você porque não me acrescenta, apenas retira. Algo cheio de você é qualquer coisa que te deixa no lugar do todo. Você vem com algo, mas me deixa com você. Me deixa só. 

Você chega cheia de opiniões sobre o que acredito. Cheia de suas opiniões que nada são. O que me move é tudo contrário a você. Tudo que chamo de nada é tudo que você considera o todo. E quando você apresenta seu todo como o que falta em mim, você me enche de si. Ou seja, quando você me enche de si, nada me resta além de incompletude, distanciamento, vazio, você!

Eu não escolho você. Mas você chega, absorve, subtrai, completa até não existir mais nada. E fica. Te vomito nessa oração para que você saia de mim. Te compartilhar me dá a pseudo-sensação de estar conversando com quem entende o que eu digo. E essa pseudo-companhia é o começo do que me preenche. Ao me preencher, me livro de você. Pseudo-companhia é solidão, ilusão. Me encho de solidão pra me livrar de você. E quando menos espero... você ainda está aqui!

E você me pergunta: "O que houve?"


Nada a dizer, nada pra escrever, nada a significar. Escrever me deixa a sós comigo mesmo. Apenas uma maneira de me esvaziar do vazio enquanto me encho de mim. Que o nada se perca em mim buscando me esvaziar. E depois de tudo, vou lembrar de você apenas como um momento difícil, um momento de estagnação, melancolia, frieza, solidão, completude de ti. 


E alguém me perguntará: "O que houve?"
E com os olhos fixos em lugar nenhum, corpo inerte, pensamento longe, sou puxado pelo som da voz do curioso, pisco os olhos, desvio o olhar contraindo a testa, olho pra quem pergunta, me acho, saio de ti  e respondo: "Nada!"






Abraço,
Eliab Alves Pereira

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