Qual é o seu deus?

Um deus para os nossos dias começa a se delinear entre um público bem informado, que aprecia teatro, Woody Allen, poesia, um pessoal que olha o Facebook com respeito e aversão. Este deus para os nossos dias é cada vez mais frequente em quem não está próximo o suficiente de uma igreja para se dizer religioso e também não é ateu o suficiente para exterminar incensos, sais, Rubem Alves. São comedidos, gente espiritualizada, mas sem religiosidade evidente. Falam muito em Deus sem citar seu nome. Apreciam o discurso dos ateus, consideram a argumentação correta, mas não gostam dos ateus. Olham para eles e parecem ver um pouco do orgulho, da soberba que anteviam nos religiosos de quem se afastaram. Acabam achando os ateus religiosos demais em seus ateísmos. Estes dias, li um texto de Martha Medeiros, um texto que ilustra em boa medida um deus para os nossos dias, que surge em muitas pessoas. Selecionei uma parte. Vamos a um pouco de Espinoza atualizado, versão 2000: "Quando Deus aparece pra você? Pra mim, ele aparece sempre através da música, e nem precisa ser um Nelson Freire. Pode ser uma música popular, pode ser algo que toque no rádio, mas que me chega no momento exato em que preciso estar reconciliada comigo mesma. De forma inesperada, a música me transcende. Deus me aparece nos livros, em parágrafos que não acredito que possam ter sido escritos por um ser mundano: foram escritos por um ser mais que humano. Deus me aparece - muito! - quando estou em frente ao mar. Tivemos um papo longo, cerca de um mês atrás, quando havia somente as ondas entre mim e ele. A gente se entende em meio ao azul, que seria a cor de deus, se ele tivesse uma. Deus me aparece - e não considere isso uma heresia - na hora do sexo, quando feito com quem se ama... nesse exato instante em que escrevo, estou escutando My Sweet Lord cantado não pelo George Harrison (que Deus o tenha), mas por Billy Preston (que Deus o tenha, também) e posso assegurar: a letra é um animado bate-papo com ele, ritmado pelo rock'n'roll. Aleluia. Deus aparece quando choro. Quando a fragilidade é tanta que parece que não vou conseguir me reerguer".


Filosofia Clínica
Por L úcio Packter

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