É assim que você deixa Deus em dívida com você

Imagine que você tem um amigo que inventa para seus outros amigos uma lista de coisas que "te agradam" e diz que se seus outros amigos cumprirem a lista, o relacionamento deles com você vai melhorar. Porém, a lista de coisas que o seu amigo inventou só dita coisas que ele consegue fazer, são coisas que sacrificariam parte da vida dos outros amigos, são coisas que proíbem seus amigos de fazerem coisas que eles gostam só para poder te agradar e melhorar o relacionamento entre vocês. Como você se sentiria em relação a isso tudo? Como você reagiria com seu amigo que inventou a lista e com os amigos que sacrificaram coisas para cumpri-la? Bem, eu me sentiria bastante incomodado e decepcionado com todos eles. Primeiro com o amigo que, fazendo a lista, passou a ideia para os outros de que eu seria facilmente negociável na condição de que no momento em que eles fizessem algo "por mim" eu iria retribui-los de alguma forma. E também com os amigos que acreditaram nisso porque a atitude deles em acreditar nessa bobagem prova que eles nem sequer me conhecem direito a ponto de precisarem de ajuda para saber como se relacionar comigo. E porque no momento em que eles passam a seguir a lista, eles não estão fazendo algo por mim, eles estão fazendo algo por uma mentira, pensando que estão fazendo por mim. Eles estão fazendo algo por um cara inventado pelo outro amigo. Um cara que só vai ama-los com uma condição estipulada. Já que eu não sou assim, eles não estão fazendo esse sacrifício por mim, estão fazendo por uma invenção, uma mentira. A atitude deles mostra que sua intenção é apenas me mostrar coisas que eu gostaria de ver. Ao fazer isso, eles me passam a ideia de que esperam que eu só os ame a partir do momento em que eles fizerem coisas que eu gosto. Como diz a música "Eu nunca disse adeus" de Capital Inicial: "Se me pedisse pra pular de um prédio, eu diria: 'Sim! Qualquer coisa pra você gostar de mim'". Se eles esperam isso de mim então, com certeza, é o que eu devo esperar deles também. Já que fazendo "o que eu gosto" e se sacrificando por mim, eles ficarão com o sentimento de "tarefa cumprida" e, inconscientemente, com a ideia de que eu também devo fazer isso por eles. Seria como um "Ei, eu fiz isso por você. Agora você precisa fazer isso por mim." Se eu não fizer... Ai você já sabe do resultado. Eu mesmo já estou cansado de ouvir as pessoas reclamando de "ex-amigos/namorados" porque fizeram isso ou aquilo e blá, blá, blá... Bem, se você se relaciona com alguém desejando só o que te agrada naquela pessoa, então você não está se relacionando com ela, você está se relacionando apenas com as características dela que te agradam. Dizer "eu te amo" significa dizer que você ama o outro por inteiro, não só o que te agrada nele.


Não é difícil de perceber o desejo de ser aceito e elogiado que está enraizado na alma dos seres humanos. A alegria sentida depois de um elogio, a preocupação em deixar bem claro que foi você que chegou àquela conclusão que todos gostaram, o esforço em fazer com que os outros percebam que você tem certa característica louvável, a hastag #Filosofei, #FraseMinha ou qualquer outra palavra que indique que a frase de impacto que você tuitou foi de sua autoria, sempre indicam um grito de "olha eu aqui". Esse costume aponta para o nosso desejo de ser louvado por conseguir fazer algo que merece ser reconhecido. 


O pecado foi gerado dessa forma. Na verdade, tanto o pecado quanto a atitude de "vencer" o pecado tiveram a mesma origem. Se você ainda não leu o artigo "O Fruto Proibido", eu gostaria muito que você lesse assim que terminar esse artigo. Outro texto bastante importante é "O acalentado conforto da proibição".


Criamos a ilusão de que chamamos a atenção de Deus no momento em que negamos tudo aquilo que consideramos pecado. Criamos a utopia de que nosso relacionamento com Ele se enfraquece no momento em que cometemos algum erro. Estabelecemos a teoria de que Deus se agrada e ama todo aquele que "nega a si mesmo". De onde tiramos a ideia de que podemos controlar os conceitos de Deus sobre nós a partir do que fazemos ou deixamos de fazer aqui? Tratamos Deus, ao criarmos o pecado, como um marionete que se move a partir do que o seu controlador faz. Alguém surgiu com a ideia de que Deus vai te dar isso, fazer aquilo ou te punir de alguma forma se você fizer ou não alguma coisa. Eu não consigo acreditar num deus (com "d" minúsculo) tão fácil de se manipular e barganhar. É triste perceber que construímos nosso relacionamento com Deus baseado no que podemos fazer para sermos aceito por Ele. É triste imaginar um relacionamento onde um dos membros só aceita o outro quando ele se comporta de uma forma estabelecida por sei lá quem.


O homem é o pai da lei. Consequentemente, é o avô do pecado! O conhecimento da lei deu origem ao que chamamos de pecado. Paulo nos ensinou lá em Romanos que "se a Lei não dissesse: 'Não cobice', eu não saberia o que era cobiça". E ainda disse que "o pecado não é levado em conta quando não existe lei" e que "sem a lei, o pecado está morto". Mas a questão é: qual o motivo de criar leis que, consequentemente, geram o pecado? 
"Vá a igreja. Guarde o sábado. Use essa roupa. Não coma isso. Não beba aquilo. Não cante essa música. Lei isso, não aquilo! Não vá a esse lugar. Não sente com essa gente.
"-Não faça isso!- Mas eu não fiz! - Ótimo! Deus está orgulhoso de você."
Observe que para eu ser aceito em determinado grupo eu preciso fazer certos esforços para que o grupo me aceite. Inconscientemente fazemos isso. É por isso que vestimos as roupas que vestimos, falamos do jeito que falamos e nos comportamos do jeito que nos comportamos. Tudo é resultado da influência do meio. A grande mancada do ser humano foi acreditar que essa atitude mesquinha se encontrava em Deus. O pecado nada mais é do que um fardo que nós mesmos colocamos em nossas costas para que Deus se sinta obrigado a nos recompensar por termos aguentado todo o peso sem cair. As leis são uma invenção mesquinha de tentarmos deixar Deus impressionado com nosso esforço para cumpri-las. Entenda que toda tentativa de deixar Deus em dívida com você, é mesquinha, imoral, irracional e condenável. O maior pecado de todos é acreditar que Deus está satisfeito com você quando você não peca.
Isaías, lá no capítulo 64 e verso 6, comenta que nossas melhores obras são como trapos imundos diante de Deus. Prometeram um abraço de Deus a todos que cumprissem uma lista. Disseram que o céu é o troféu para todos que conseguirem vencer o pecado. Ensinaram que Deus vai amar todo aquele que fizer "sua vontade". Infelizmente esqueceram de avisar que Deus abraçou prostitutas e que o troféu de cada ser humano foi pendurado numa cruz. Deus se entregou para destruir algo que o homem criou: o pecado. A morte de Cristo venceu o pecado. Não pense que sua atitude medíocre de "abster-se" vai vence-lo. Você não tem esse poder! Você não pode fazer algo que Deus já fez!


Os homens precisam do pecado para não precisarem de Deus. Como? Quando Deus nos presenteia com a Graça, o pecado morre porque Ele mostra que a salvação não é mediante as obras mas pela Graça mediante a fé em Cristo. Tudo flui de Deus. Não há nada que você possa fazer pra ser salvo. Tudo já foi feito por Cristo. O que te falta é ter nisso. Quando eu digo que os homens precisam do pecado para não precisarem de Deus é porque com a ideia do pecado, voltamos ao ponto em que o ser humano se ilude tentando dar algo a Deus em troca da salvação. Na Graça, o homem não entrega nada a Deus, pelo contrário, é Deus que entrega tudo ao homem. E ai nos vemos na situação de que com isso, não há mais motivo de vanglória para o homem. Não há mais como ser admirado por sua "santidade" ou "perfeição". Afinal, Deus não o salvou por ser assim. Deus o salvou porque seu amor é maior do que o sacrifício humano. Você já percebeu que quando você acredita que seu "sacrifício" (abrir mão de qualquer coisa) por Deus, vai te salvar, você está, sem perceber, desvalorizando o Sacrifício de Cristo? Se o que vai te salvar é o que você faz ou deixa de fazer, então Cristo morreu pra quê?


Isso é o que significa negar a si mesmo e tomar sua cruz. Negar o que você deseja, tomar essa cruz que ninguém quer carregar. A cruz que te livra da dívida. A cruz que diz: "você não precisa fazer nada pra ser salvo. Você já foi salvo!" Lembra? "Não é difícil de perceber o desejo de ser aceito e elogiado que está enraizado na alma dos seres humanos." A sua atitude de tentar fazer algo pra agradar a Deus fez com que você se sentisse especial por conseguir cumprir os desafios. Ou vai dizer que você não se sente "melhor com Deus" quando não "peca"? Ano passado tivemos nos TTs Brasil uma hastag onde as pessoas expressavam a satisfaçam que elas tinha por elas mesmas por escolherem esperar algo. Isso é só um objetivo ou você acredita que isso vai dar peso na hora de Deus te julgar? Gente, a lei foi inventada para que as pessoas pudessem basear seu relacionamento com Deus nela. "Se você cumpre, Deus está feliz. Se não, Deus está triste." Isso é heresia! É dizer que você serve a um "Deus" que, pra te amar, precisa que você faça algo antes. É dizer que Deus ama as pessoas pelo que elas fazem e não pelo o que elas são!


Além do textos "O Fruto Proibido" e "O acalentado conforto da proibição", imploro que você assista ao vídeo abaixo do Pastor Matt Chandler. Faz muito tempo que o vi mas assim que resolvi escrever esse artigo, lembrei logo dele. É um ótimo vídeo. Se não quiser ler os textos que indiquei, tudo bem, mas não deixem de ver o vídeo, por favor!


Abraço,
Eliab Alves Pereira
(Obrigado pela foto, Mayazatto Legal ^^)


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