O cavalete de pintura e a liturgia




Meu pai é pintor, um pintor um pouco mais excêntrico do que os outros que eu conheço. Cresci vendo ele pintar seus quadros em apenas 16 minutos, do jeito que uma criança gosta, pois não precisa esperar muito para ver o trabalho final.
Ele desenvolveu esta técnica por causa do evangelismo de praça que o JV fazia na década de 70. Enquanto ele pintava, as pessoas paravam para ver, o conjunto cantava duas músicas e o evangelista falava o plano da salvação em 10 minutos.
Adorava ver a arte sendo feita, o belo das cores na tela, para mim era um milagre divino um monte de cores batida na tela virar uma mensagem.
Quando cheguei à adolescência comecei a viajar com meu pai e logo ele me colocou para ajudar a montar o cavalete de pintura. Realmente não gostava de montar aquele troço. Pois era chato, maçante e não tinha nada de belo.
Não podia ser de qualquer jeito, cada parafuso tinha que ir no lugar certo, as pernas tinham sua ordem e lugar para serem montadas e eu tinha que montar antes de tudo.
Foi montando o cavalete do meu pai que entendi a liturgia da igreja.
Na adolescência, assim como montar cavaletes, achava a liturgia das igrejas chata, maçante e não tinha nada de belo.
Mas quando entendi que a gente a usava para enxergar o belo e o divino parei de culpá-la por ser tão indesejada por mim.
O problema é que alguns cultos que eu ia, tornaram a liturgia o produto final. Era como se, uma vez por semana, gastasse um bom tempo montando o cavalete de pintura junto com meus amigos e o fizéssemos com muito zelo e respeito e, ao final olhássemos para o cavalete e voltássemos para casa felizes por fazermos o que estava em nossas mãos.
Sem a pintura, não há sentido nenhum montar o cavalete! Sem o milagre do evangelho de Deus sendo pronunciado e vivido não há razão nenhuma de se ter liturgia ou culto.
Cometemos o mesmo erro de todas as religiões em achar que podemos manipular o divino e controla-lo. O máximo que podemos fazer é montar o cavalete, sentar na frente dele e pedir: Senhor, se for da tua vontade, pinta pra nós, pois é tudo que estamos esperando aqui!

Por: Marcos Botelho

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