Versos versus nós

Os pássaros da minha vizinhança não param de cantar
Ou estão apaixonados
Ou estão recitando poemas
Um não seria a causa do outro?

Quando estamos apaixonados,
Não recitamos poemas
Nossos poemas passam a pegar na mão,
Caminhar na praia, trocar olhares,
Dormir abraçado e sorrir sem motivo

O outro deixa de sair da nossa boca como versos
E tenta voltar para nós por ela através de beijos

Tudo que um dia foi palavras
Hoje é a personificação da minha poesia
Na verdade, pra alguns de vocês.
Pra mim, ainda será
Será?

Uns fazem como os pássaros
Se apaixonam,
Recitam,
Outros,
Só desejam voar
Recitar sem se apaixonar
E se apaixonar pelo que recitam

Os pássaros da minha vizinhança pararam de cantar.
A essa hora
O canto chegou em casa
O poema arrastou uma asa

Tudo agora é silêncio
Silêncio:
O maior grito de um casal
Capaz de resumir uma conversa em olhares
É o que vem depois das palavras duras
O que se ouve quando estamos abraçados

O silêncio
É o que convida uma boca se aproximar da outra
Maior que ele é o estalo de beijos molhados
Respiração pesada
Amasso da camisa
E então para!
Corta o clima
Afastam-se as bocas
Olham-se nos olhos
E sorriem



0 comentários:

Postar um comentário