Lendas dos Judeus #21 (O sábado no céu)

ADÃO: O sábado no céu 

Antes que o mundo fosse criado ninguém havia para louvar a Deus e conhecê-lo. Por essa razão ele criou os anjos e os santos Hayyot, o céu e todo o seu exército e também Adão. 

Todos esses deveriam louvar e glorificar o seu Criador. Durante a semana da criação, no entanto, não era apropriado louvar o Senhor e proclamar o seu esplendor. Apenas no Sábado, quando toda a criação cessou, os seres da terra e do céu, todos juntos, irromperam em cântico e adoração enquanto Deus subia até seu trono e tomava assento nele. Era no Trono da Alegria que ele assentava-se, e fez passar todos os anjos diante de si – o anjo da água, o anjo dos rios, o anjo das montanhas, o anjo das colinas, o anjo dos abismos, o anjo dos desertos, o anjo do sol, o anjo da lua, o anjo das Plêiades, o anjo de Orion, o anjo das ervas, o anjo do Paraíso, o anjo do Gehenna, o anjo das árvores, o anjo dos répteis, o anjo dos animais selvagens, o anjo dos animais domésticos, o anjo dos peixes, o anjo dos gafanhotos, o anjo dos pássaros, o anjo-chefe sobre os anjos, o anjo de cada um dos céus, o anjo-chefe de cada divisão dos exércitos celestiais, o anjo-chefe dos Hayyot, o anjo-chefe dos querubins, o anjo-chefe dos ofanim, e todos os outros esplêndidos, terríveis e poderosos anjos. Esses todos compareceram diante de Deus com grande alegria, banhados numa torrente de alegria, e regozijaram-se e dançaram e cantaram, e exaltaram o Senhor com muitos louvores e muitos instrumentos. 

Os anjos ministrantes começaram: – Dure para sempre a glória do Senhor! E o restante dos anjos retomaram a canção com as seguintes palavras: – Alegre-se o Senhor nas suas obras! Arabot, o sétimo céu, estava cheio de júbilo e glória, esplendor e força, poder e força e orgulho e magnificência e grandiosidade, louvor e celebração, cântico e alegria, lealdade e integridade, honra e adoração. O Senhor chamou então o Anjo do Sábado para assentar-se num trono de glória, e trouxe diante dele os anjos-chefes de todos os céus e de todos os abismos, e convocou-os a dançar e celebrar, dizendo: – É Sábado diante do Senhor! Os príncipes exaltados do céu responderam: – Diante do Senhor é Sábado! Foi permitido até mesmo a Adão subir ao mais alto céu, para participar dos festejos por causa do Sábado. Foi conferindo a alegria do Sábado sobre todos os seres, sem excetuar Adão, que o Senhor dedicou sua criação. Ao ver a majestade do Sábado, sua honra e grandiosidade, e a felicidade que conferia a todos, por ser a fonte de toda alegria, Adão entoou uma canção de louvir ao dia do Sábado. Deus então disse a ele: – Você canta uma canção em louvor ao dia do Sábado, e a mim, o Deus do Sábado, não canta canção alguma? Diante do que o Sábado ergueu-se do seu assento e prostrou-se diante de Deus, dizendo: – Bom é dar graças ao Senhor. E toda criação acrescentou: – E cantar louvores ao seu nome, ó, Altíssimo. Este foi o primeiro sábado, e esta foi sua celebração no céu por parte de Deus e dos anjos. Os anjos foram informados na mesma ocasião que em em dias futuros Israel observaria aquele dia como santo de modo similar. – Separarei para mim mesmo um povo dentre todos os povos – Deus disse a eles. – Esse povo guardará o Sábado, e eu o santificarei para que seja o meu povo, e eu serei o seu Deus. De todos que tenho visto, escolhi toda a semente de Israel, e o designei como meu filho primogênito, e o santifiquei para mim mesmo por toda a eternidade, a ele e ao Sábado, para que guarde o Sábado e abstenha-se nele de qualquer trabalho. Para Adão o Sábado teve um significado peculiar. Quando ele foi forçado a abandonar o Paraíso no crepúsculo da véspera de Sábado, os anjos disseram enquanto ele se afastava: – Adão não passou nem sequer uma noite residindo na sua glória. O Sábado então apareceu diante de Deus para defender Adão, e disse: – Ó Senhor do mundo, nos seis dias de trabalho nenhuma criatura foi morta. Se o senhor começar agora matando Adão, o que será da santidade e da benção do Sábado? Deste modo Adão foi resgatado dos fogos do inferno, que seriam a punição adequada para seus pecados. Ele em gratidão compôs uma salmo em honra ao Sábado, que Davi mais tarde incorporou no seu saltério. Ainda outra oportunidade foi concedida a Adão de aprender e apreciar o valor do Sábado. A luz celestial, através da qual Adão podia contemplar o mundo de ponta a ponta, deveria por justiça ter desaparecido imediatamente após o seu pecado. Porém, por consideração ao Sábado, Deus permitiu que essa luz continuasse a brilhar, e os anjos, ao entardecer do sexto dia, entoaram uma canção de louvor e gratidão a Deus, pela luz radiante que brilhava noite adentro. Apenas quando o Sábado foi embora a luz celestial cessou, para consternação de Adão, que temia que a serpente pudesse atacá-lo no escuro. Deus porém iluminou o seu entendimento, e ele aprendeu a esfregar duas pedras uma contra a outra e desta forma produzir luz para suprir suas necessidades. A luz celestial foi apenas uma das sete dádivas preciosas das quais Adão desfrutou antes da queda e que serão concedidas novamente ao homem apenas na era messiânica. As outras são a resplandescência do seu rosto, a vida eterna, a elevada estatura, os frutos do solo, os frutos da árvore e as luminárias do céu, o sol e a lua – pois no mundo que há de vir a luz da lua será como a luz do sol, e a luz do sol será sete vezes mais intensa.







Lendas dos Judeus é uma compilação de lendas judaicas recolhidas das fontes originais do midrash(particularmente o Talmude) pelo talmudista lituano Louis Ginzberg (1873-1953). Lendas foi publicado em 6 volumes (sendo dois volumes de notas) entre 1909 e 1928.
Tradução: Paulo Brabo

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