Amar o próximo sem amor a si mesmo

No que respeitava aos outros, ao mundo em redor, sempre estava fazendo os esforços mais heróicos e sérios para amá-los, para ser justo com eles, para não fazê-los sofrer, pois o "Amarás teu próximo!" estava tão entranhado em sua alma como o odiar-se a si mesmo; assim, toda a sua vida era um exemplo do impossível que é amar o próximo sem amor a si mesmo, de que o desprezo a si mesmo é em tudo semelhante ao acirrado egoísmo e produz afinal o mesmo desespero e horrível isolamento.

Essa é uma observação que o sobrinho da dona da pensão onde está hospedado o Sr. Haller, O lobo da Estepe, faz a respeito do novo hóspede. 

Herman Hesse faz uma brincadeira super inteligente com a frase "Amarás teu próximo como a ti mesmo" usando a frase pela metade e, logo em seguida, usando as palavras "odiar-se a si mesmo". O inteligente dessas colocações é que elas nos fazem, ou me fez, pensar sobre a grande contradição em que nos colocamos ao odiarmos a nós mesmos e, logo depois, tentarmos amar o próximo (como fez o Lobo da Estepe).

Como posso amar o próximo como a mim mesmo se eu vivo buscando em mim coisas que me desaprovam? Se eu busco coisas ruins em mim, como posso buscar o melhor do meu próximo? Se eu me enxergo como um pecador, como posso ver meu próximo de outra forma? Se eu não tenho misericórdia de mim mesmo, terei do meu próximo?

Estou questionando isso pelo fato de ver enraizado na mente de muita gente a ideia de que temos de viver nos culpando e correndo atrás de uma determinada perfeição para que possamos agradar a Deus. Todo dia eu vejo uma pilha de frases pedindo para Deus mostrar o caminho certo a seguir, ou vejo alguém se dizendo imperfeito, pecador, etc. Virou rotina ver pessoas se lamentando por não conseguirem "agradar" a Deus. 

Penso que as pessoas que fazem isso têm em mente a ideia de que se reconhecerem que são pecadoras, Deus vai se sentir tão bem com a "sinceridade" delas que vai perdoá-las de todas as suas dívidas. Claro, elas não pensam exatamente com essas palavras, mas se pararem pra analisar, é exatamente isso que pensam. 

Eu quero chamar a atenção para esse comportamento porque a partir do momento em que você busca apenas o que você tem de ruim para apresentar a Deus como forma de propiciação, você irá fazer o mesmo com o seu próximo; só que ao invés de apresentar como forma de livrá-lo dos seus pecados (como você faz consigo), será para condená-lo.

Já reparou que todo mundo que se acha o santarrão vive se lastimando e dizendo que é falho, imperfeito, pecador, etc? Já reparou também que é justamente esse tipo de gente que mais acha defeito nos outros? É justamente esse tipo de gente que mais julga o próximo! Por que? Porque ele vive buscando defeitos nele mesmo para apresentar a Deus e lamentar sua imperfeição, e isso o leva a achar que, por ser "sincero" ao admitir que é pecador, isso o torna bom aos olhos de Deus. Mas o fato de ele viver buscando erros em si o leva a buscar nos outros também.

Se eu busco apenas o que eu tenho de ruim, ou o que eu considero ruim, com um tempo eu vou começar a me odiar por ser aquilo que sempre vejo em mim. Se eu me odeio, que amor eu terei por mim mesmo para usar como exemplo para amar o próximo? Lembra do mandamento? Amar como a mim mesmo! Se não amo a mim, não amarei o próximo! Qualquer tentativa de amá-lo sem me amar antes será como o Lobo da Estepe: toda a sua vida era um exemplo do impossível que é amar o próximo sem amor a si mesmo.


Se depois de tudo que Cristo fez por mim, eu ainda sou imperfeito, então de que valeu sua morte? Se eu devo correr atrás da minha perfeição, de que valeu o sacrifício de Cristo? Ao se doar no nosso lugar, Cristo nos livrou de toda culpa, de toda imperfeição, de todo pecado. Ele já fez esse esforço por mim. Se eu tentar ser perfeito, eu estou dizendo que o trabalho não foi bem feito. O fato de haver pessoas que vivem buscando a perfeição é porque essas pessoas não têm fé na justificação por meio de Cristo, e se não têm essa fé é porque não conhecem a salvação por meio de Cristo, podem conhecer outra coisa que lhes foi apresentada, mas não a genuína salvação pela Graça. Eu só preciso crer que, por causa de Cristo, eu fui justificado. Eu sou considerado perfeito por causa do que Ele fez por mim. A cultura diz que sou imperfeito, a mídia também diz, a igreja, amigos, família, escola, etc. Mas eu sou imperfeito para um padrão estipulado por eles. E, pra mim, o que importa é o padrão estipulado por Deus. E qual é? 

Assim, com um sacrifício só, ele aperfeiçoou para sempre os que são purificados do pecado. E o Espírito Santo também nos dá o seu testemunho sobre isso. Primeiro ele diz: "Quando esse tempo chegar, diz o Senhor, eu farei com o povo de Israel esta aliança: Porei as minhas leis no coração deles e na mente deles as escreverei." Depois ele diz: "Não lembrarei mais dos seus pecados nem das suas maldades." Assim, quando os pecados são perdoados, já não há mais necessidade de oferta para tirá-losPor isso, irmãos, por causa da morte de Jesus na cruz nós temos completa liberdade de entrar no Lugar Santíssimo. Por meio da cortina, isto é, por meio do seu próprio corpo, ele nos abriu um caminho novo e vivoNós temos um Grande Sacerdote para dirigir a casa de Deus.Portanto, cheguemos perto de Deus com um coração sincero e uma fé firme, com a consciência limpa das nossas culpas e com o corpo lavado com água pura.
[Hebreus 10:14-22] 

Ao me perdoar, ao me justificar, ao me tornar digno de chegar perto dEle, Deus me deu a oportunidade de ver tudo de bom que eu tenho, Ele me deu a oportunidade de ver o mal que havia em mim morrer, Ele permitiu que eu me enxergasse como Ele me enxerga: como alguém que foi consertado por Ele. Dessa forma, não vejo imperfeição em mim, o que vejo é a Graça Divina. Minhas falhas, erros e pecados não me levam a um auto martírio, não mais! 

Agora essas coisas me levam a enxergar a Misericórdia que recebi. E isso me faz perceber que há algo de bom aqui dentro que fez Cristo se entregar por mim. E é esse algo de bom que eu procuro no outro. Dessa forma, o amo como amo a mim mesmo; como alguém que apesar das mancadas, tem algo de especial que chamou a atenção de Deus. Se não me culpo, como posso culpar o outro? 

O motivo que eu tinha para me odiar foi destruído em Cristo. Se eu creio em sua salvação, então não tenho motivos para me odiar, se não tenho motivos para me odiar, não tenho para odiar o outro. Afinal, o que Deus viu em mim, também viu em meu próximo!




Abraço,
Eliab Alves Pereira

2 comentários:

  1. Parabéns Eliab,super interessante,gostei muito! E é assim mesmo que acontece,eu min sentia assim mais DEUS min libertou.. gostei muitooo...

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  2. Parabens pelo texto me esclareceu muitas coisas quero deixar de odiar a mim mesmo e sinto que estou chegando no caminho certo. Que Deus te abençoe.

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