Porvir

O sangue do herói oculto escorria na lâmina do machado. Antes de beijar o pó da terra, próximo aos pés de seu carrasco, ele semeou suas últimas palavras:

"Heróis choram sozinhos!"

E olhei para os sete abismos que se abriram na alma da morte. E com uma voz angustiante ela profetizou:

Sempre haverá um corrupto
Sempre haverá alguém que engessará a coisa
Sempre haverá alguém que não quer ouvir
Sempre haverá alguém que não quer fazer
Sempre haverá alguém que lavará as mãos
Sempre haverá alguém que mandará crucificar

Sempre haverá um acomodado
Sempre haverá alguém que não se importa
Sempre haverá alguém que mentirá
Sempre haverá alguém que agredirá
Sempre haverá alguém que se perderá no labirinto
Sempre haverá alguém que cairá no mar

Sempre haverá um egoísta
Sempre haverá alguém que olhará de cima pra baixo
Sempre haverá alguém que golpeará a face (dos dois lados)
Sempre haverá alguém que ocultará a verdade
Sempre haverá alguém que escolherá o caminho mais fácil
Sempre haverá alguém que cobiçará

Sempre haverá um fanático
Sempre haverá alguém que não olhará nos olhos
Sempre haverá alguém para julgar
Sempre haverá alguém que humilhará
Sempre haverá alguém pronto para atirar pedras
Sempre haverá alguém que destruirá sonhos

Sempre haverá um carrasco
Sempre haverá uma sentença
Sempre haverá um chicote
Sempre haverá uma ferida

Sempre haverá alguém que declarará guerra
Sempre haverá alguém que destruirá jardins
Sempre haverá alguém que aprisionará almas
Sempre haverá alguém que se oporá
Sempre haverá alguém que acenderá as fogueiras
Sempre haverá uma inquisição

Sempre haverá noite
Sempre haverá solidão
Sempre haverá arrependimento
Sempre haverá dúvida
Sempre haverá ilusão

Sempre haverá o perfeito
Sempre haverá a imprudência
Sempre haverá o falso
Sempre haverá a desordem

Sempre haverá obstáculos!

A vereda da vida está repleta de morte. Há grilhões para o corpo. Há pedras vindo o tempo todo. Há rancor dos que desistiram dela. Semeando amor, castigado pelo sol. Suor e lágrimas unem-se em um só caminho na mesma face e logo não se saberá o que é suor, lágrimas ou gotas de chuva. 

Sempre haverá ditadores
Sempre haverá leitos
Sempre haverá fome
Sempre haverá desigualdade
Sempre haverá preconceito
Sempre haverá medo...

A profecia consuma-se quando os lábios do profeta cochicha aos ouvidos do mundo, quando sua voz é carregada pelo vento, quando o que está por vir é transportado nos bicos das aves, quando suas últimas palavras percorrem todo o planeta seguindo a rota do sol. A consumação diz:

"Em meio a vereda da vida, sempre haverá os vales da morte,  e antes do amém, ouvir-se-a os anjos cantarem: 'Mas sempre haverá alguém que suportará, que enxugará as lágrimas e seguirá pelo caminho das pedras'. E, no fim, O Maior dos espíritos dirá: 'Para viver, aprendam primeiro com o profeta! Amém!'"




Abraço,
Eliab Alves Pereira


0 comentários:

Postar um comentário